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Bolsonaro diz que quer 'que o povo se arme' para Brasil não virar ditadura

Gustavo Setti e Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

22/05/2020 17h23

Em trecho de vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, tornado público hoje pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diz que está armando a população porque não quer uma ditadura no Brasil. Ele afirmou, ainda, que a população, quando armada, "jamais será escravizada".

"Olha como é fácil impor uma ditadura no Brasil. Por isso eu quero que o povo se arme, a garantia de que não vai aparecer um filho da puta e impor uma ditadura aqui. A bosta de um decreto, algema e bota todo mundo dentro de casa. Se ele tivesse armado ia para rua. Se eu fosse ditador, eu desarmava como fizeram todos no passado", afirmou Bolsonaro, dirigindo-se ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e ao ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, presentes na reunião.

Desde que tomou posse, em janeiro de 2019, o presidente editou decretos que flexibilizaram o acesso a armamentos e a munições para a população. Na medida mais recente, de 17 de abril, ele revogou portarias de rastreamento e identificação de armas.

Um puta de um recado para esses bostas: estou armando o povo porque não quero uma ditadura, não dá para segurar mais. Quem não aceitar as minhas bandeiras, família, Brasil, armamento, liberdade de expressão, livre mercado, quem não aceita isso está no governo errado. Jair Bolsonaro

O recado pareceu ser dado para o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que sempre se mostrou contra a flexibilização do acesso às armas no Brasil.

O presidente acrescentou que quem estiver descontente com seu governo deve aguardar as próximas eleições. "Espere para, em 2022, o Alvaro Dias, o (Geraldo) Alckmin, o (Fernando) Haddad, talvez o Lula, e vai ser feliz com eles. É escancarar o armamento no Brasil, eu quero o povo armado, povo armado jamais será escravizado", disse.

Bolsonaro: "O presidente leva porrada, e o ministro é elogiado"

Após falar sobre as eleições de 2022, Bolsonaro se queixou que o presidente "leva porrada", enquanto "o ministro é elogiado". Ele não especificou sobre qual ministro estava falando.

"O presidente leva porrada, mas o ministro é elogiado. A gente vê por aí. 'O ministério tá indo bem, apesar do presidente'. Vai pra puta que o pariu, porra! Eu que escalei o time, porra! Trocamos cinco. Espero trocar mais ninguém! Espero!", declarou.

Domiciliar a presos durante pandemia

Após afirmar que gostaria de armar a população, o presidente também direcionou críticas às decisões judiciais que liberaram detentos para cumprirem pena em regime domiciliar. As medidas foram adotadas para tentar conter o avanço do coronavírus em penitenciárias e seguiram orientações do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Na reunião, Bolsonaro disse que o ex-ministro Sergio Moro teria se revoltado com "a liberdade desse pessoal": "Por causa de de vírus, botou os estuprador pra fora (sic)".

"Imagina se tivesse estuprado uma filha nossa, um filho da p... desses ser posto em liberdade. Agora temos que se colocar no lugar dessas pessoas, desse pai que tem a filha estuprada, e o vagabundo foi posto na rua. Com uma decisão, foda-se de quem seja, tem que jogar pesado em cima aí. Pesado em cima disso. Não é um desabafo, pessoal. É uma realidade", afirmou.

Reunião de 22 de abril

A reunião ministerial de 22 de abril está no centro de um inquérito aberto no STF, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), para apurar as declarações de Sergio Moro no dia em que pediu demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O ex-ministro denunciou uma suposta interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal com a exoneração do então diretor-geral Maurício Valeixo.

O vídeo é considerado como uma das principais provas para sustentar a acusação feita por Moro de que o presidente tentou interferir no comando da PF e na superintendência do órgão no Rio, fatos esses investigados no inquérito relatado pelo decano do STF.