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Bolsonaro vai a aglomeração em Brasília, pega criança no colo e rebate STF

Eduardo Militão e Luís Adorno

Do UOL, em Brasília e São Paulo*

24/05/2020 12h25Atualizada em 24/05/2020 14h55

Sem máscara ou qualquer equipamento de proteção individual, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou hoje de um ato de apoio ao seu governo no centro de Brasília, onde foi recebido aos gritos de "mito" e chegou a pegar duas crianças no colo.

Seguranças do presidente estavam com máscaras. Os manifestantes se dividiram: alguns com, outros sem máscaras. O presidente frequentemente critica o isolamento social, medida recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em prevenção à expansão do coronavírus.

Na manhã de ontem, o chefe do Executivo recebeu um grupo de youtubers de perfil pró-governo, que o convidaram para o ato. Os influenciadores fazem parte da organização da manifestação, que estava marcada para começar a partir de 10h.

A Esplanada dos Ministérios estava com todas as seis faixas que levam à Praça dos Três Poderes ocupadas durante a manhã por uma carreata de apoio ao presidente.

Diferentemente de outras manifestações ocorridas nos últimos finais de semana, o esquema de segurança desta vez foi mais reforçado e os manifestantes não conseguiram ficar na grade de frente ao Palácio do Planalto, onde normalmente o presidente tem tido contato mais próximo com o público.

Bolsonaro rebate STF

Antes de ir ao ato, Bolsonaro rebateu via redes sociais a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril decidida pelo ministro Celso de Mello, do STF.

O presidente publicou na manhã de hoje um trecho da lei de abuso de autoridade. A postagem no Facebook traz uma foto de um artigo da lei 13.869 de 2019.

"Art. 28 Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investiga ou acusado: pena - detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos."

A deputada Bia Kicis (PSL-DF) sinalizou em entrevista à rádio BandNews FM que estudaria ações judiciais pelo mesmo motivo.

Voo de helicóptero

Pouco antes do meio-dia, acompanhado pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno e o deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada de helicóptero e sobrevoou a Esplanada dos Ministérios para observar a carreata.

De cima, observou um ato esvaziado. Diferente de outras manifestações, não houve gritos contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Os apoiadores seguravam cartazes com frases como "Supremo é o Povo" e "o Poder emana do povo" e "o povo é Bolsonaro". Além de Hélio Lopes, acompanhava o presidente o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.

Depois que pousou na área da Vice-Presidência do Planalto, Bolsonaro caminhou pela pista acenando aos manifestantes, que estavam separados do presidente apenas por uma grade. Bolsonaro ficou na manifestação por quase uma hora.

No início, ele estava de máscara. Depois, para chegar mais próximo dos manifestantes, retirou o equipamento de proteção, descumprindo as regras do Distrito Federal. A multa para quem descumpre a regra é estabelecida em R$ 2.000.

O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e os deputados Carlos Jordy (PSL-RJ), Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF) também acompanharam o ato. O presidente voltou ao Palácio da Alvorada sem falar com a imprensa.

Manifestações em defesa do governo aos finais de semana têm sido comuns em Brasília. Nesta semana, entretanto, movimentos pontuais contra o governo, realizados na quarta e na quinta-feira, também ocorreram.

A última vez que o presidente havia participado de uma manifestação foi no domingo (17). O jornal O Estado de S.Paulo revelou que no dia Bolsonaro fez chegar aos líderes do ato um pedido para que evitassem faixas e palavras de ordem contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional.

Em ocasiões anteriores, o chefe do Executivo foi criticado por participar de protestos que pediam o fechamento do Supremo e do Congresso.

Repercussão nas redes

O deputado bolsonarista Helio Lopes (PSL-RJ) postou uma foto no helicóptero com Bolsonaro e escreveu: "Saindo agora da manifestação democrática em apoio ao meu irmão Bolsonaro. A força do Brasil é a união do povo."

Roberto Jefferson (PTB) escreveu que "pelo visto as hienas da esquerda correram dos leões da direita. Os vermelhos haviam prometido botar para correr os patriotas, mas não apareceram no gramado. Perderam por WO."

Enquanto isso, políticos de oposição a Jair Bolsonaro criticaram nas redes sociais a ida do presidente à manifestação.

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que "acuado e sem base, Bolsonaro parte pra cima do STF, ameaça o decano da Casa, Celso de Mello, e vai a mais uma manifestação golpista".

Segundo ele, o presidente "desrespeita as regras de saúde e as instituições assistem caladas. Estão esperando que ele arme as milícias?", questionou.

O deputado José Guimarães (PT-CE) escreveu que "o presidente não tem respeito pelos brasileiros, tampouco pelas vítimas de covid-19" e que "seu impeachment servirá para resguardar vidas".

Já o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) afirmou que "Bolsonaro divulgou a lei de abuso de autoridade no Facebook, na tentativa de intimidar Celso de Mello, ameaçar o STF na verdade".

*Com Agência Estado e Agência Brasil

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.