Maia pede 'pacificação dos espíritos' e ressalta cumprimento de atos do STF
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu hoje uma "pacificação dos espíritos" e ressaltou a necessidade de se cumprir decisões judiciais, mesmo quando não se concorda com elas.
O discurso logo após abrir a sessão do plenário à tarde se deu em meio à participações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em atos que incluem pedidos de fechamento do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal) e atos que têm colocado em xeque a independência entre os Três Poderes.
Na sexta (22), nota do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, afirmando que o pedido da apreensão dos celulares de Jair Bolsonaro e de seu filho e vereador do Rio, Carlos Bolsonaro, feito pelo PDT, PSB e PV em notícia-crime enviada ao STF, poderia ter "consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional" causou apreensão entre os parlamentares da Câmara e do Senado.
"É hora de todos nós elevarmos o nível do nosso entendimento, das nossas palavras e de nossas ações para nos tornarmos dignos de liderar o povo brasileiro. Senti necessidade imperiosa de falar nesse tom. [...] Impuseram-se em razão da necessidade do diálogo respeitoso entre os Poderes, princípio basilar da nossa democracia. Faço nesse momento um convite à pacificação dos espíritos, vigilantes e desarmados de preconceito de qualquer ordem, temos de trabalhar pelo Brasil", declarou Rodrigo Maia.
Ele ressaltou que os ministros do STF sabem que o parlamento "respeita e cumpre as decisões judiciais, mesmo quando delas discorda", pois é o que determina a Constituição, ao reforçar a necessidade de uma relação harmoniosa e independente dos Poderes da República.
Segundo Maia, o momento de pandemia do coronavírus exige "prudência" e "maturidade para diálogo construtivo" entre as instituições e a sociedade, com respeito aos que mais sofrem.
"Prudência não pode ser confundida com medo ou hesitação. A coragem muitas vezes está em saber construir a paz", disse.
Na contramão de como Jair Bolsonaro tem se posicionado, Maia disse saber que desemprego, fome, falências e dificuldades de pessoas em honrar compromissos são consequências da pandemia, mas avaliou que o isolamento social recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para se evitar a disseminação do coronavírus não pode ser culpada por derrubar a economia do país.
"Quem derruba a economia é o vírus. O distanciamento momentâneo entre as pessoas salva vidas", falou.
O presidente da Câmara citou ações do Congresso Nacional para ajudar pessoas em situação mais vulnerável, como a ampliação do valor do auxílio emergencial de R$ 600 por três meses, antes proposto pelo governo de R$ 200. No entanto, criticou que alguns recursos ainda não chegaram à população, especialmente micro, pequenos e médios empresários. "Isso se faz urgente."
Desde ontem, diversos veículos de comunicação anunciaram que irão suspender de forma temporária a cobertura presencial na portaria do Palácio da Alvorada devido à falta de segurança para jornalistas e cinegrafistas no local. Apoiadores de Bolsonaro costumam xingar e ameaçar a imprensa, sem serem repreendidos por agentes de segurança da Presidência com o devido rigor.
No Alvorada, Bolsonaro já falou para repórter "calar a boca" ao ouvir questionamentos de interesse público, mas dos quais não gostou, e nada fez ao ver gritos de apoiadores a jornalistas. O receio é que hoje não há segurança caso apoiadores partam para agressões físicas.
No discurso de hoje, Rodrigo Maia afirmou manter com a imprensa uma relação "constante e construtiva, recebendo críticas e análises com humildade". Ele exaltou o trabalho da liberdade de imprensa e o valor da mídia na consolidação da democracia.
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