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Zambelli diz não ficar feliz com centrão, mas admite trocar cargos por base

A deputada Carla Zambelli disse não ver risco para democracia - Reprodução/Facebook
A deputada Carla Zambelli disse não ver risco para democracia Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

09/06/2020 07h50Atualizada em 09/06/2020 10h57

Aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) disse não ter ficado feliz com a entrada do centrão no governo. Ela argumentou, porém, que os postos de primeiro escalão continuam técnicos e admitiu que um eventual oferecimento de cargos é necessário em troca de uma base maior no Congresso Nacional.

No último mês, o governo federal tem negociado cargos de segundo e terceiro escalões diretamente com o centrão, grupo que inclui, entre outros, PP, PL, PSD e Republicanos e conhecido por trocar cargos em ministérios por apoio no Congresso.

"Não gostaria de dar nenhum cargo de primeiro escalão e estatal para o centrão. Fico feliz que pessoas do centrão possam compor o governo? Não. Mas fico em paz quando sei que temos um CGU (Controladoria-Geral da União) muito ativo e uma Polícia Federal livre para fazer o que quiser", disse ela, em entrevista ao jornal O Globo.

"E precisamos aprovar certas coisas no Congresso. Tentamos formar a base no amor, conversando, mas eventualmente os cargos precisam ser distribuídos. Se esses caras começarem a roubar, vai aparecer", acrescentou a parlamentar.

Questionada sobre a declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidente, que falou que está chegando um 'momento de ruptura', Zambelli avaliou que a democracia não está em risco, mas fez uma ameaça indireta.

"A democracia não está em risco. Mas se algumas pessoas de alguns poderes continuarem agindo como agem, com certo abuso de autoridade, cada vez mais vamos ter um público preocupado com isso, e essas pessoas terão dificuldade de sair à rua", afirmou.

A parlamentar disse ainda não ver os generais da ativa "dispostos a entrar em intervenção" e não vê o presidente "com vontade de fazer isso". Ela citou o jurista Ives Gandra Martins, que defendeu, em entrevista, que as Forças Armadas têm um poder de moderação quando houver um conflito entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

"Esse mesmo professor (Gandra) foi falar sobre as coisas que o STF (Supremo Tribunal Federal) tem feito para avançar sobre o Executivo e falou em artigo 142. Ninguém fala em derrubar o STF, mas eventualmente as Forças Armadas atuarem como poder moderador. Como invasão de poder, as Forças Armadas são garantidoras da Constituição e quando se tem o poder Executivo sendo invadido, pode pedir 142. Mas não vejo o presidente disposto a fazer isso agora. Vejo disposto a baixar a temperatura, dialogar."

Juristas ouvidos pelo UOL divergem da interpretação de Ives Gandra e afirmam que as Forças Armadas não têm poder moderador, mas de segurança. Para eles, a posição ajuda a estimular discursos golpistas por parte das alas radicais.

Chamada a prestar esclarecimentos no âmbito do inquérito das fake news, aberto em março do ano passado para apurar notícias falsas, ameaças e ofensas dirigidas a autoridades, incluindo ministros do STF e seus familiares, Zambelli disse acreditar que "vai ser derrubado ou dividido, que é um dos posicionamentos do Aras (procurador-geral da República)."