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Kassab: Acredito que o Brasil terá no máximo sete ou oito partidos em 2027

Do UOL, em São Paulo

09/06/2020 13h51

A política do Brasil poderá, em breve, ser conduzida um número de partidos bem menor que o atual. A avaliação foi feita por Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, em participação no UOL Entrevista de hoje.

Para Kassab, algumas siglas menores deverão ter dificuldades para superar a cláusula de barreira (ou seja, a votação mínima) em eleições. Assim, segundo ele, a tendência é que tais partidos se unam em novas siglas ou deixem de existir.

"Teremos, no Brasil, em 2027, no máximo sete ou oito partidos. Vai haver fusão. Independente da coligação, vamos ter uns seis, sete partidos em 2022 que não vão atingir o desempenho. Ou vão ser incorporados", analisou. "O processo começa agora. Se o PSD não estiver dentro desses critérios, vai fazer uma fusão para quem tenha mais vínculos no campo ideológico; daqui para frente, o campo ideológico dará cara aos partidos."

Entre os partidos que podem participar das disputas daqui alguns anos, para Kassab, está o Aliança pelo Brasil. A agremiação idealizada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e por parte de sua base de apoio ainda não saiu do papel, mas o ex-prefeito de São Paulo acredita que tenha chance de agregar outras siglas.

"(O Aliança) vai vingar. Ele é presidente da República, representa 10%, 12% do eleitorado. Ele não quis fazer o partido porque não quis participar das eleições municipais. Depois das eleições (de 2020), ele fará rapidamente e, na janela partidária, ele com certeza vai migrar para esse partido", acredita.

Entre os partidos menores, estão os do chamado centrão, que ensaiam um aproximação com Bolsonaro. Mas Kassab alerta: em caso de um processo de impeachment, a chegada de tais partidos não é garantia de apoio.

"Todo governo tem seus limites. Ninguém segura um Governo quando ele ultrapassa esses limites. Ninguém segura partido, povo nas ruas, liberdade de imprensa... Portanto, o Governo, se ultrapassar os limites...", alertou, lembrando o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.

Mas quais são os limites em questão? "Falar que não ultrapassou parece que está perdoando. Ele (Bolsonaro) cometeu vários equívocos. É questão política que é feita dia a dia, é o sentimento de que o limite foi ultrapassado. Estamos na fase de condenar os equívocos, e estão sendo condenados, mas tentar sensibilizar o Governo de que ele precisa melhorar sua maneira de agir."

Kassab é contra impeachment de Bolsonaro

A pressão por um eventual impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) existe, mas oferece com ela um ônus bastante específico, afirmou Kassab

Para Kassab, um novo impeachment, após o processo contra a presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, poderia desgastar a democracia no Brasil — justamente em um momento no qual o país passa por tantas crises.

"Eu tenho dito sempre que nós convivemos no Brasil com quatro grandes crises. A mais grave é a da saúde — afinal de contas, se todos nós que somos seres humanos nos preocupamos com uma vida, imagina os 40 mil mortos (da pandemia do novo coronavírus) e a triste expectativa de fechar julho com 100 mil mortos. É uma tragédia e não há nada pior que isso. Não vamos viver algo tão triste", iniciou.

"A segunda crise, consequência desta, é a economia. É mais uma crise universal, que todos os países estão passando. Alguns vão ser mais ou menos rápidos", acrescentou.

"A terceira é a política, por conta das mudanças, de equívocos. E a quarta crise é uma crise por etapas. É quase uma crise por dia que o próprio presidente que provoca. Ontem, o ministro (do STF, Dias) Toffoli foi muito feliz no discurso, como autoridade do STF e, com o devido respeito, fez colocações que, quando assisti parte do discurso, fiz questão de assistir tudo e foi primoroso. Eu assino embaixo todas as suas observações em relação a grande preocupação do presidente com sua postura, e o Toffoli fala com propriedade", completou.

Sobre um possível impeachment, Kassab deixou claro: no momento, é contra.

"Tenho esperança de que isso não aconteça. Daqui a pouco, o Brasil não vai mais respeitar o voto. Como brasileiro, tenho esperança e trabalho para que isso não aconteça. No que pudermos ajudar para o Governo entender que é preciso mudar, conte comigo."

"PSD não é centrão"

Enquanto PSD e o Governo federal indicam uma aproximação, o presidente do partido afasta o rótulo de que faz parte do chamado centrão. Kassab afirmou que a sigla é independente, com liberdade para congressistas apoiarem ou não o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Gostaria de registrar sempre uma confusão que alguns colegas de vocês [da imprensa] fazem em relação a PSD e centrão. O PSD sempre deixou claro que não se integra ao centrão. Em relação à sua pergunta, o PSD é um partido independente. É um partido que tem, nos seus quadros, pessoas com total liberdade para dar seu voto com suas convicções e visões de Brasil", afirmou o ex-prefeito de São Paulo (2006 a 2013).

"É evidente que temos parlamentares mais distantes e outros próximos de algumas posições do Governo — haja vista o discurso do (senador) Otto Alencar (PSD-BA) ontem, que é o líder do partido e fundador, e se posiciona de uma maneira muito crítica. Isso não quer dizer que todos os senadores tenham posição contrária ao governo", disse.

"O próprio Otto votou a favor do governo em algumas vezes porque era bom para o Brasil. Os parlamentares terão total liberdade para votar contra o Governo quando projetos contrariarem visões. Nada impede que os parlamentares próximos do Governo sugiram nomes. Posso lhe afirmar que somos independentes e que o partido não integra o centrão", acrescentou.

"Não há ofertas de cargos"

Diante da independência alegada por Kassab para votações, Kassab assegurou que não há ofertas de troca de cargos pelas posições. E lembrou que, em São Paulo, o partido faz parte da base de apoio do governador João Doria (PSDB).

"Temos o Marco Bertanholi, que foi prefeito de Mogi das Cruzes (SP), que é vice-presidente da Federação das Associações Comercias de São Paulo. Quando o Governo começou a discutir estas questões, o Marco levou junto com o Diego Andrade uma sugestão para que se discutisse alterações nesta empresa, e ele entendia que tinha quadros preparados para contribuir com o Governo Federal. Ele fez muito bem de indicar, eu conheço o presidente que ele indicou, integrou a Prefeitura comigo, chegou a presidir os Correios", afirmou Kassab.

"Outro caso que tem falado: Funasa (Fundação Nacional da Saúde). É público que foi demitido o presidente da Funasa, não quero julgar o mérito, mas foi afastado. O líder e o deputado Diego Andrade pessoalmente procuraram um ministro e sugeriu que existe um grupo de militares na saúde, que tem uma pessoa muito qualificada que eu não conheço, e que ele achava bastante adequado para comandar a Funasa. Eu acredito que, desta maneira, que eu tenha conhecimento, são essas aproximações em termos de parlamentares nossos que colocaram as relações com o Governo", acrescentou.

"O que tem diferenciado o PSD são nossas ações com muita transparência e isoladamente. O partido tem convivência com pautas do centrão, do PT, evidentemente tem, e qualquer que seja essa convergência, é sempre colocado muito às claras", completou.

*Participaram dessa cobertura Bruno Madrid, Emanuel Colombari, Flávio Costa e Talyta Vespa (redação) e Diego Henrique de Carvalho (produção)