Haddad: Instituições não têm mesma isenção com Bolsonaro que tinham antes
Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e presidenciável petista nas eleições de 2018, afirmou não acreditar que instituições mantenham a mesma isenção sob o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como tinham nos governos do PT. Ele participou da edição de hoje do UOL Entrevista, conduzida pelos colunistas do UOL Constança Rezende e Diogo Schelp.
Haddad falava sobre a acusação de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal para obter informações sobre investigações sobre seus familiares e aliados. O gesto provocou a demissão do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que ao deixar o cargo expôs a atitude do presidente.
"Se você me perguntar se confio no Bolsonaro, vou dizer que não, e ele tem feito mudanças expressivas na Polícia Federal, a começar pela demissão do diretor-geral sem justificativa técnica, razão pela qual o Sergio Moro pediu demissão [do ministério da Justiça e Segurança Pública], denunciando o presidente de querer instrumentalizar instituições contra adversários, mas não tenho proximidade com os casos. Não acredito que as instituições, sob a tutela do governo federal, tenham a mesma isenção que tiveram no passado com nossos governos", afirmou Haddad.
"Começamos a perder isso ao não respeitarmos os rituais internos das instituições e certos protocolos. O próprio Bolsonaro foi impedido de nomear quem ele queria de diretor da PF, porque era alguém que comia churrasco com os filhos. E um desses filhos está sendo investigado por peculato. Temos indícios fortes de que o filho do Bolsonaro cometeu peculato. Está havendo uma obstrução das investigações. Ele próprio não quer abrir o sigilo das suas contas bancárias. Eu me pergunto o porquê alguém teme de abrir o sigilo bancário. Acho que uma pessoa que está em exercício de mandato não pode temer, tem obrigação de abrir o sigilo quando há desconfiança", acrescentou.
Haddad também comentou sobre os pedidos, em investigação, para apreender o celular de Bolsonaro. Ele disse que quebrar o sigilo telefônico do chefe do Executivo carece de uma "fundamentação muito crível de que aquilo é necessário" e deve ser decidida em colegiado pelo Supremo Tribunal Federal.
"Caso contrário, você pode e deve investigar o entorno. Um presidente da República não comete um crime sem um aparato ao redor dando respaldo. Agora, o filho do presidente, eu não me conformo de se recusar a abrir seu sigilo bancário. Não entendo por que o filho do presidente não quer abrir suas contas de gabinete, para verificarmos se o dinheiro do gabinete foi desviado pela família Bolsonaro. Isso teria implicações muito graves para a família", afirmou Haddad.
O petista disse desejar o fortalecimento das instituições do combate à corrupção. "Mas eu, como qualquer cidadão, não desejo que essas instituições sejam utilizadas para fazer política partidária. Nós devemos separar uma coisa da outra. Isso tem que ser feito com sobriedade e maturidade para evitarmos erros do passado", afirmou, citando a divulgação de mensagens entre procuradores da Lava Jato divulgadas em 2019 pelo site The Intercept.
"Fico muito preocupado com a má utilização das instituições. As instituições têm que ser fortalecidas e se resguardar do uso político."
*Participaram da produção deste texto Diego Henrique de Carvalho, Gabriela Sá Pessoa, Emanuel Colombari, Gustavo Setti e Bruno Madrid
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