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NYT diz que "ameaça de ação militar abala o Brasil" em meio à pandemia

O presidente Jair Bolsonaro cavalga ao lado de policiais militares em meio à manifestação pró-governo em Brasília, em 31 de maio - Dida Sampaio/ Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro cavalga ao lado de policiais militares em meio à manifestação pró-governo em Brasília, em 31 de maio Imagem: Dida Sampaio/ Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

10/06/2020 16h07

O aumento nas mortes causadas pela pandemia do novo coronavírus, a fuga de investimentos do país, e investigações que envolvem o nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus filhos foram apontados hoje pelo jornal The New York Times como fatores que estão desestabilizando o Brasil nas últimas semanas.

A reportagem, que foi destaque na capa da versão impressa do veículo, cita a ameaça de "ação militar" e os riscos que isso traria à democracia brasileira.

"A crise se tornou tão intensa que algumas das mais poderosas figuras militares no Brasil estão alertando para a instabilidade - causando estremecimento (com a ideia) de que eles poderiam tomar e desmantelar a maior democracia da América Latina", disse reportagem publicada pelo NYT.

A publicação diz que "longe de denunciar a ideia, o círculo interno do presidente Jair Bolsonaro parece estar clamando para que os militares entrem na briga. De fato, um dos filhos do presidente, um congressista que já elogiou a antiga ditadura militar do país, disse que uma ruptura institucional semelhante era inevitável", em referência a declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), também citadas no texto. Também mencionou que "quase metade de seu gabinete é composta por figuras militares".

O jornal relembrou que o Brasil "passou a representar a energia e a promessa de um mundo em desenvolvimento" com duas décadas de uma "democracia próspera" após a ditadura, citando o crescimento da economia e a conquista do direito de sediar eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Mas também mencionou a crise econômica e os escândalos de corrupção que levaram à queda de "seu poderoso governo de esquerda", em referência ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, encerrando 13 anos de administrações do PT. O cenário, segundo o NYT, levou à eleição da Bolsonaro em 2018, "celebrando o passado militar do país e prometendo restaurar a ordem".

O clima, porém, mudou após o presidente brasileiro ser criticado "por subestimar o vírus, sabotar medidas de isolamento" e liderar o país que tem um dos mais altos índices de mortes por coronavírus no mundo dizendo coisas como "Sinto muito pelos mortos, mas esse é o destino de todos."

Também foi relembrada uma declaração do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, que disse que uma possível apreensão do celular de Bolsonaro traria "consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional".

Sobre os filhos do presidente, o NYT citou a investigação em andamento no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o uso de fake news para difamar adversários desde as eleições de 2018. Mencionou ainda que "dois deles estão também sob investigação por corrupção", além de lembrar que o próprio Jair Bolsonaro é alvo de um inquérito no Supremo por suposta interferência política na Polícia Federal.

O jornal americano ainda analisou que o grupo pró-Bolsonaro pedem não por um golpe militar" como os realizados na América Latina, derrubando um líder civil para instalar um deles", mas por uma manobra como a feita pelo líder de direita Alberto Fujimori no Peru em 1992, quando o presidente usou as forças armadas peruanas para dissolver o Congresso, reorganizar o Judiciário e promover uma caça aos oponentes políticos."