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Para driblar imprensa, Bolsonaro cria área vip de sua claque no Alvorada

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

11/06/2020 04h00

O presidente Jair Bolsonaro decidiu diminuir o ritmo de entrevistas na entrada do Palácio da Alvorada desde o fim de maio, depois que vários veículos de comunicação suspenderam a cobertura no local por falta de segurança.

Para fugir de perguntas incômodas e driblar os poucos veículos imprensa que frequentam a entrada e saida do Alvorada, o presidente resolveu prestigiar seus apoiadores. Criou um uma "área vip" no gramado do Palácio, próxima à saída.

Apenas os apoiadores são permitidos no novo cercadinho a cerca de 200 metros da guarita principal. Os jornalistas seguem limitados à portaria da casa do chefe do Executivo, fora da residência oficial, onde ele costumava falar com frequência também com jornalistas até duas semanas atrás e distrubuía agressões à imprensa.

O UOL esteve no Alvorada na manhã de ontem (10) e observou que, para os jornalistas, não houve mudanças estruturais significativas desde que os grandes veículos se afastaram do local.

Na entrada do Palácio do Alvorada, profissionais da imprensa e apoiadores do presidente continuam a ocupar espaços lado a lado, separados por grades insuficientes para vedar atitudes hostis da claque presidencial.

O controle de acesso segue o mesmo, com filas paralelas que não somam mais de um metro e meio de distância entre uma e outra.

cercadinho vip alvorada - Hanrrikson de Andrade/UOL - Hanrrikson de Andrade/UOL
Presidente convida apoiadores para conversa dentro do Alvorada
Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

O distanciamento só é maior quando os apoiadores são convidados a entrar. Isso costuma ocorrer minutos antes da saída do comboio presidencial. De longe, um grupo reduzido de jornalistas, a maioria de emissoras de TV que não aderiram à paralisação, limita-se a observar a movimentação.

Longe dos microfones, Bolsonaro ouve apelos e manifestações de apoio dos seguidores que são convidados a entrar. No entanto, nesta quarta-feira, 10, ele foi surpreendido por uma mulher que o criticou. Antes de ser retirada, a antiga eleitora chegou a exibir um cartaz com números de mortes decorrentes do coronavírus e disse ao presidente que se sentia "traída".

O cercadinho vip de Bolsonaro surgiu à medida que o presidente passou a convidar grupos de apoiadores para o espaço interno da residência oficial, nos arredores da guarita principal.

Antes mesmo de órgãos de imprensa anunciarem a suspensão da cobertura, o presidente já havia prestigiado algumas vezes bolsonaristas e turistas convidando-os a conversar no gramado interno do Alvorada e, consequentemente, longe dos microfones. O que antes era aleatório, no entanto, tornou-se um protocolo.

Modelo de segurança adotado em estádios

Há uma novidade que chama atenção: a equipe de segurança, coordenada pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional), adotou esquema semelhante ao que é praticado nos estádios de futebol para evitar confrontos entre torcidas rivais.

Após a saída de Bolsonaro, o grupo de apoiadores é retido por alguns minutos (ou pelo tempo necessário) até que os jornalistas possam deixar o espaço destinado à imprensa no cercadinho.

No futebol, principalmente quando há clássicos, a torcida da equipe visitante costuma aguardar por horas até que as polícias militares liberem a saída. O objetivo é dar tempo para que os adeptos do time mandante, geralmente em maior número, saiam primeiro. Dessa forma, a chance de confronto é menor.

No Alvorada, a medida foi tomada depois que repórteres, fotógrafos e cinegrafistas foram obrigados a, mais de uma vez, presenciar atitudes de desrespeito, ouvir xingamentos e até mesmo ameaças por parte de apoiadores de Bolsonaro.

A hostilidade se intensificou no mês passado —período em que grupos bolsonaristas passaram a fazer manifestações regulares, com maior ênfase nos domingos, para apoiar o governo em relação às diretrizes do enfrentamento ao coronavírus.

Simpatizante do MBL é retirada

Cristiane Bernart, que se identificou como youtuber de direita, atriz e funcionária do gabinete do vereador Fernando Holiday (Patriotas-SP), foi retirada do cercadinho do Alvorada ontem (10) por fazer críticas ao presidente.

Depois de ser acompanhada por um segurança até a saída (não houve truculência na ação), ela conversou com os jornalistas e afirmou que desistiu de apoiar o presidente por se sentir "traída".

Cristiane disse ainda ser simpatizante do MBL (Movimento Brasil Livre), grupo do qual fazem parte Holiday e outros nomes, como o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP).