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Empresa que MPF diz ter subornado Serra foi investigada no caso Pasadena

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

04/07/2020 04h00Atualizada em 04/07/2020 14h03

Uma empresa que hoje o Ministério Público afirma que irrigou uma conta de propinas do senador José Serra (PSDB-SP) já apareceu em extratos obtidos pela Operação Lava Jato na investigação de subornos motivados pela venda da refinaria de Pasadena, da Petrobras.

A Hexagon Technical era uma das empresas de José Amaro Pinto Ramos e, de acordo com denúncia da Procuradoria da República de São Paulo divulgada nesta sexta-feira (3), uma conta atribuída a essa firma repassava propinas da Odebrecht para o político tucano. Por meio dessa empresa, o ex-governador e sua filha, Verônica, teriam obtido 936 mil euros entre março de 2006 e fevereiro de 2007.

A mesma Hexagon foi beneficiária de 572 mil de euros e pelo menos 190 mil dólares da Iberbras Integración, da prima de Serra Vicenza Preciado e seu marido, Gregorio Preciado. Os valores foram pagos entre março de 2007 e março de 2008, e equivaleriam hoje a R$ 4,4 milhões, considerando-se apenas a cotação da moedas, sem levar em conta a atualização monetária. A informação está em extratos anexados a uma denúncia da Operação Lava Jato em Curitiba, dados que foram avaliados por um laudo da Polícia Federal.

A Iberbras obteve US$ 15 milhões da Astra Oil em outubro de 2006. O objetivo, dizem os procuradores, era distribuir propinas para funcionários da Petrobras e ao então senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS) por causa da venda de metade da refinaria da petroleira em Pasadena, nos EUA.

Segundo os procuradores, dos US$ 15 milhões, Preciado ficou com US$ 700 mil. O restante foi sendo distribuído aos funcionários, a Delcídio e até mesmo a um executivo da Astra Oil, em transações que só terminaram em 2009.

Outro lado

O UOL procurou as assessorias e advogados de Serra, Verônica, Pinto Ramos, Preciado, Vicenza e Delcídio Amaral. Nenhum deles prestou esclarecimentos específicos sobre o caso, que serão publicados se forem recebidos.

Os advogados de Serra, Sepúlveda Pertence e Flávia Rahal, demonstraram "profundo repúdio" pela denúncia de ontem feita no mesmo dia de busca de apreensão da Operação da Polícia Federal batizada de Revoada. Os dois disseram que o tema são "fatos antiquíssimos, e que vinham sendo apurados pela Justiça Eleitoral".

Assessores do tucano classificaram os atos de "medidas invasivas e agressivas". "O senador José Serra reforça a licitude dos seus atos e a integridade que sempre permeou sua vida pública. Ele mantém sua confiança na Justiça brasileira, esperando que os fatos sejam esclarecidos e as arbitrariedades cometidas devidamente apuradas."

Lava Jato reabriu investigação ligada a trens

Sozinhos, os extratos bancários da Iberbras, a empresa da prima de Serra, não permitem concluir que os recursos da propina da refinaria da Petrobras em Pasadena também chegaram exatamente à Hexagon e, de lá, às contas atribuídas ao senador tucano. No entanto, indicam um caminho seguir, segundo procuradores da Lava Jato e policiais federais que acompanham os casos.

A Hexagon pertence a José Amaro Pinto Ramos, apontado por um executivo da Odebrecht, Pedro Novis, como operador do senador José Serra. Novis afirmou à Polícia Federal que repassou R$ 4,5 milhões ao tucano entre 2006 e 2007 por meio de uma conta no exterior fornecida por Pinto Ramos, equivalente a 1,6 milhão de euros à época.

No ano passado, o UOL revelou que a Lava Jato em São Paulo havia reaberto uma investigação sobre a atuação de Pinto Ramos e o lobista Arthur Teixeira ligada ao cartel dos trens. Pinto Ramos já era suspeito de ser elo entre agentes públicos nas gestões de Serra (2007-2010) e Geraldo Alckmin (2003-2006 e 2011-2018).

Como mostrou a reportagem, os procuradores da Lava Jato buscavam laços entre a Hexagon e o caso Siemens-Alstom.

Hexagon pagava propinas no caso Alstom, dizem promotores

De acordo uma ação cautelar do Ministério Público de São Paulo, a firma repassou aproximadamente US$ 1,5 milhão a João Fagali Neto no exterior entre 1997 e 2000.

Fagali era consultor e ex-secretário de Transportes de São Paulo e a Hexagon tinha um contrato com a Alstom. "Tal contrato e aditivos 'no mínimo em parte servem para adequar os pagamentos de subornos no Brasil'.

Além disso, 'os pagamentos da Hexagon a Fagali Neto também poderiam ter sido relacionados com este projeto'", afirmaram os promotores de São Paulo, ao citarem trechos de investigação do Ministério Público da Suíça usada para embasar a ação cautelar.

A reportagem não localizou Fagali Neto e Arthur Teixeira para comentar as acusações.

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