Marinho detalhou ao MPF vazamento de operação para Flávio Bolsonaro, diz TV
O empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), detalhou ao MPF (Ministério Público Federal) como ocorreu o suposto vazamento de uma operação da Polícia Federal para o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em meio às eleições de 2018. Trechos do depoimento em vídeo foram publicados hoje pelo Jornal Nacional, da TV Globo.
Segundo o telejornal, Marinho contou sobre uma reunião ocorrida no dia 13 de dezembro de 2018 em sua casa, na qual um amigo de infância de Flávio Bolsonaro, Victor Granado, teria revelado a dinâmica usada para receber informações vazadas por um delegado da PF, afirmando que a primeira tentativa aconteceu por telefone.
E que, além de Granado, o atual senador teria escolhido mais duas pessoas que trabalharam com ele para pegar essa informação, o atual chefe de gabinete de Flávio, Miguel Ângelo Braga, e a ex-assessora Valdenice Meliga.
"O Braga fala com o Flávio, o Flávio designa então que o Braga, o Victor e a Val fossem ao encontro dessa pessoa para saber do que se tratava. E aí fizeram contato e marcaram um encontro na porta da Polícia Federal. Este suposto delegado disse aos três, ou disse ao Braga, 'vocês, quando chegarem, me telefonem que eu vou sair de dentro da Superintendência, até para você ver que sou um policial que estou lá dentro, e lá fora a gente conversa'", disse Marinho.
O empresário, na sequência, contou que o delegado antecipou informações da Operação Furna da Onça, que tinha como alvo Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, e que foi preso pela Polícia Federal em junho deste ano em Atibaia (SP), mas cumpre prisão domiciliar atualmente.
"Esse delegado disse a eles, 'olha, esta operação vai alcançar o Queiroz e a filha dele. Estão no seu gabinete e no gabinete do seu pai. Tem movimentação bancária e financeira suspeita. E nós estamos aqui, eu estou, eu sou simpatizante do seu pai, do Bolsonaro, e vamos tentar não fazer essa operação agora entre o primeiro e o segundo turno para não criar nenhum embaraço durante a campanha'", afirmou.
"Como disse que a operação não iria acontecer para não criar nenhuma dificuldade, eventualmente, pela narrativa que a operação ia trazer, pela presença do Queiroz e da filha", acrescentou Marinho, que disse ainda que, logo após esse encontro, Queiroz e a filha foram demitidos por Flávio Bolsonaro. "Então, Flávio deve ter informado ao pai, e o pai, imediatamente, mandou demitir", concluiu.
No depoimento, Marinho contou ainda ter ouvido de Victor Granado um relato sobre ter obrigado Queiroz a fornecer as senhas do banco após saber que seria mencionado na Furna da Onça.
"Aí o Victor começou o relato. Ele disse: 'olha, eu ontem estive com o Queiroz e eu obriguei o Queiroz a me repassar todas as senhas das contas bancárias dele, e eu passei essa madrugada toda entrando nas contas do Queiroz e os montantes que eu descobri, que informei agora de manhã para o Flávio, são muito superiores a esses que a imprensa está noticiando. Inclusive, porque eles se referem a anos anteriores a esses que a imprensa está noticiando'", disse o empresário.
Questionado pelo MPF, Marinho confirmou que os valores se referem a uma quantia de R$ 1,2 milhão identificada na ocasião pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) como fruto de movimentações financeiras suspeitas.
"Quando ele relata que deu, que teve acesso a contas do Queiroz e que ficou estarrecido porque os valores eram muito superiores", disse.
Flávio Bolsonaro prestou depoimento nesta semana
Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) afirmou na última segunda-feira (20), após prestar depoimento ao Ministério Público Federal, que o empresário Paulo Marinho "quer se promover" e que está interessado em sua vaga no Senado.
"Ele [Paulo Marinho] deve ter se aproveitado da máquina pública para se promover, mas para cima de mim, não. Ele teve um depoimento diferente do meu, foi uma escolha dele, que pelo que parece está mais interessado na minha vaga no Senado do que em tomar conta da própria vida", disse o senador.
O empresário é suplente de Flávio no Senado e cedeu sua casa no Rio para ser "quartel-general" da campanha de Bolsonaro para a Presidência em 2018.
O MPF apura se membros da Polícia Federal anteciparam a Flávio etapas da investigação que levou à Operação Furna da Onça, deflagrada em novembro de 2018, como relatado por Paulo Marinho em entrevista à Folha de S.Paulo.
"As pessoas têm que entender é que para construir sua vida política tem que ter seus próprios méritos, não querendo tacar pedra nos outros", afirmou Flávio ao deixar o Senado, onde prestou depoimento para procurador da República Eduardo Benones em seu gabinete.
O senador disse considerar "página virada" as suspeitas lançadas contra ele por Marinho e disse esperar que a PF e a Procuradoria adotem providências contra o que ele chamou de "mentiras".
"Vou continuar trabalhando muito pelo Rio de Janeiro e isso aí é página virada. Espero que o Ministério Público do Rio e a Polícia Federal depois tomem as providências contra as mentiras que ele inventou", disse o senador.
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