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Em vídeo, Lula ataca Bolsonaro: "O povo não quer revólver. Quer comida"

Do UOL, no Rio

07/09/2020 16h14

Resumo da notícia

  • Segundo ele, Bolsonaro converteu o coronavírus em "arma de destruição em massa"
  • Lula questionou o que entende ser uma posição de submissão aos EUA
  • Ex-presidente defende luta contra o racismo e violência contra as mulheres
  • Em vídeo, petista se colocou à disposição do povo brasileiro

Em um pronunciamento reproduzido hoje à tarde em suas redes sociais, o petista Luiz Inácio Lula da Silva criticou a gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo ele, Bolsonaro converteu o coronavírus em uma "arma de destruição em massa". Em uma carta aberta aos brasileiros, Lula ainda atacou a política armamentista e voltou a defender uma de suas bandeiras: o combate à fome.

"O povo não quer comprar revólver nem cartucho de carabina. O povo quer comprar comida", disse. O ex-presidente também questionou o que ele entende ser uma posição de submissão de Bolsonaro ao governo norte-americano, citou George Floyd ao defender a luta contra o racismo, pediu combate à violência contra as mulheres e se colocou à disposição do povo brasileiro.

Em um vídeo com pouco mais de 20 minutos de duração, Lula também fez críticas ao posicionamento do governo federal em meio à pandemia do coronavírus. "O Brasil está vivendo um dos piores períodos de sua história. Com quase 130 mil mortos e mais de 4 milhões de pessoas contaminadas, despencamos em uma crise sanitária, social, econômica e ambiental nunca vista", disse.

Ele ainda relacionou os óbitos ao que cita como "abandono do governo federal" às classes mais desfavorecidas.

A esmagadora maioria dos mortos pelo coronavírus é de pobres, pretos, pessoas vulnerárias que o Estado abandonou. Cada um desses mortos que o governo federal trata com desdém tinha nome, sobrenome, endereço. Dói saber que dezenas de milhares de brasileiros e brasileiras não puderam se despedir dos seus entes queridos. Teria sido possível evitar tantas mortes

Lula, em vídeo reproduzido nas suas redes sociais

Lula citou o desrespeito de Bolsonaro às normas estabelecidas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e o sucateamento do SUS como determinantes para o elevado número de óbitos por covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

"Estamos entregues a um governo que não dá valor à vida e banaliza a morte. Um governo insensível, irresponsável e incompetente, que desrespeitou as normas da OMS e converteu o coronavírus em arma de destruição em massa. Os recursos que poderiam estar sendo usados a salvar vidas foram destinados a pagar juros ao sistema financeiro", criticou.

Militarização da Saúde

O ex-presidente também disse entender que a constante troca no Ministério da Saúde e a inclusão de militares "sem experiência" agravou o cenário de combate à pandemia, chegando a comparar a decisão do governo federal aos tempos de ditadura militar.

Em 15 de maio, o general Eduardo Pazuello assumiu interinamente a pasta após a saída de Nelson Teich —que tinha sucedido Luiz Henrique Mandetta no cargo.

Nas mãos dessa gente, a saúde pública é maltratada em todos os seus aspectos. A substituição da direção do Ministério da Saúde por militares sem experiência médica ou sanitária é apenas a ponta do iceberg. Em uma escalada autoritária, o governo transferiu centenas de militares da ativa e da reserva para a administração federal, inclusive em muitos postos chave, fazendo lembrar os tempos sombrios da ditadura

Lula, ex-presidente do Brasil

Submissão aos EUA

Ele também afirmou que o governo brasileiro passou a adotar uma atitude de submissão aos Estados Unidos. "O mais grave de tudo isso é que Bolsonaro aproveita o sofrimento coletivo para sorrateiramente cometer um crime de lesa-pátria, abrindo mão da soberania nacional", criticou.

O governo atual subordina o Brasil aos Estados Unidos de forma humilhante e submete os nossos diplomatas a situações vexatórias. E ainda ameaça envolver o nosso país em aventuras militares contra os nossos vizinhos, contrariando a própria constituição, para entender aos interesses econômicos norte-americanos

Lula, ex-presidente do Brasil

Para ilustrar o seu ponto de vista, Lula citou o envio de um oficial brasileiro, sob as ordens do governo norte-americano. "A submissão do Brasil foi escancarada pelo próprio presidente ao nomear um oficial general das forças armadas brasileiras para servir sob as ordens de um oficial americano", completou.

Em julho deste ano, o brigadeiro David Almeida Alcoforado foi apresentado pelo almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos. "Os brasileiros estão pagando para ele vir para cá e trabalhar para mim", disse na ocasião, ao apresentá-lo ao presidente norte-americano Donald Trump.

'Indústria das fake news' e milícia

Lula também não poupou críticas ao que ele chama de elites conservadoras, que apoiaram a candidatura de Bolsonaro e o que ele chama de "indústria das fake news". Também fez referências aos posicionamentos de apoio à ditadura militar e ao episódio que fez com que o presidente fosse ao banco dos réus do STF (Supremo Tribunal Federal) acusado de incitação ao estupro —em dezembro de 2014, o então deputado federal disse em plenário que só não estupraria a deputada Maria do Rosário "porque ela não merece".

"Derramaram rios de dinheiro nas indústrias das fake news. Fingiram ignorar seu discurso em defesa da tortura e apologia pública do estupro. As eleições de 2018 jogaram o Brasil em um pesadelo que parece não ter fim", criticou.

"Com a ascensão de Bolsonaro, milicianos, atravessadores de negócio e matadores de aluguel saíram das páginas policiais e aparecem nas colunas políticas".

'Vidas negras importam'

Lula também saiu em defesa da população negra.

"Não podemos admitir que nossa juventude negra tenha suas vidas marcadas por uma violência que beira genocídio. Não paro de me perguntar: 'quantos George FLoyd [homem negro morto por asfixia em abordagem policial nos EUA] nós tivemos no Brasil? Quantos brasileiros perderam as vidas por não serem brancos? Vidas negras importam, sim", disse.

O ex-presidente também reforçou a importância da manutenção da cultura indígena e reforçou o combate à violência contra as mulheres.

"É intolerável que nações indígenas tenham suas terras invadidas e saqueadas e suas culturas destruídas", criticou. "Temos que combater com firmeza a violência impune contra as mulheres. Não podemos aceitar que um ser humano seja estigmatizado por seu gênero."