Moro diz que Lava Jato está ameaçada e depende de ação da PGR
Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, publicada hoje, o ex-ministro Sergio Moro disse que a Operação Lava Jato "está ameaçada" e depende da ação da PGR (Procuradoria-Geral da República).
"A Lava Jato foi a maior operação contra a corrupção na história no Brasil e, infelizmente, tem sofrido reveses neste momento. A continuidade e as condições de trabalho das forças-tarefas do Ministério Público estão ameaçadas. Reverter esse quadro depende muito da Procuradoria-Geral da República", disse o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública ao ser questionado se a operação havia chegado ao fim.
Durante a última semana, a operação sofreu duas baixas. O procurador Deltan Dallagnol anunciou a sua saída da força-tarefa da operação em Curitiba e outros sete procuradores da operação em São Paulo assinaram uma demissão coletiva alegando "incompatibilidades insolúveis" com a atuação da procuradora Viviane de Oliveira Martinez, que não é parte da força-tarefa.
Apesar de o procurador ter justificado a sua saída por uma questão familiar, Moro avalia que algumas dificuldades no trabalho colaboraram com a decisão. "As dificuldades de trabalho da força-tarefa e os vários procedimentos injustos abertos contra ele no CNMP tornaram sua permanência cada vez mais penosa."
Moro ressaltou a atuação do colega à frente da operação e disse que ele "merece respeito e reconhecimento pela sua dedicação e comprometimento com a causa pública". "O procurador Alessandro Oliveira, que deve substituí-lo, é um profissional sério. Espera-se que dê continuidade ao trabalho", afirmou ele ao jornal.
Questionado sobre a fala do procurador-geral da República, Augusto Aras, de que é preciso "corrigir rumos para que o lavajatismo não perdure", Moro rebateu.
"Não existe 'lavajatismo'. O que existe são servidores públicos que respeitam o salário pago com dinheiro público e tiveram o cuidado de fazer bem seu trabalho, levando os responsáveis por graves crimes de corrupção a serem punidos de acordo com o devido processo legal. O nome disso é 'respeito à lei e ao contribuinte'", afirmou.
Moro falou não se surpreender com os problemas que a Operação Lava Jato vem enfrentando em meio a um governo cuja principal bandeira de campanha era acabar com a corrupção.
"É bem peculiar, mas não é incomum", avaliou.
Na entrevista, Moro também comparou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi ao afirmar que o italiano foi eleito com a bandeira anticorrupção e hoje é um dos políticos mais associados a irregularidades.
"Na Itália, o governo de Silvio Berlusconi foi eleito com essa bandeira e agiu contra a Operação Mãos Limpas. Berlusconi é, hoje, um dos políticos com a imagem mais associada a irregularidades", afirmou.
"Aqui o atual governo também foi eleito com a bandeira de defesa da Lava Jato e do combate a alianças com políticos envolvidos em irregularidades. [...] Tudo indica que tenha sido apenas uma promessa de campanha", disse ao jornal.
De acordo com o Correio Braziliense, Moro acredita que "o sistema" político pressiona as instituições "para tentar que tudo volte a ser como antes, tendo a impunidade como regra", em paralelo ao que aconteceu na Itália.
Ele ainda negou ter pretensões políticas para 2022 classificando-as como "mera especulação".
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