Políticos reagem a fala de Bolsonaro sobre fim da Lava Jato: "Cinismo"
Políticos e autoridades reagiram, quase que instantaneamente, à fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o suposto fim da Operação Lava Jato. Durante a cerimônia de lançamento do programa Voo Simples, na tarde de hoje, Bolsonaro afirmou ter acabado com a força-tarefa porque, segundo ele, "não existe mais corrupção" em seu governo. (Assista ao vídeo acima)
"É um orgulho, uma satisfação que eu tenho para dizer a essa imprensa maravilhosa nossa, que eu não quero acabar com a Lava Jato... Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo", disse o presidente, sendo aplaudido por autoridades presentes no local. "Eu sei que isso não é virtude, é obrigação. Para nós, fazemos um governo de peito aberto", acrescentou, em seguida.
Nas redes sociais, políticos reagiram: a deputada federal Erika Kokay (PT-DF), por exemplo, classificou a fala como "cinismo e deboche".
"Com cinismo e deboche, Bolsonaro diz que acabou com a Lava Jato pq 'não tem mais corrupção no governo'. A Lava Jato nunca foi contra a corrupção, sempre foi um instrumento para perseguir o PT e levar a direita ao poder. Por isso, Bolsonaro diz isso e nada acontece", escreveu a deputada federal Erika Kokay
Ivan Valente, do PSOL, disse que procuradores da Lava Jato e o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro fizeram de tudo para eleger Bolsonaro.
"Os procuradores da Lava Jato e Moro fizeram de tudo para eleger Bolsonaro, corrupto que reúne os piores vícios da velha política. Tudo isso para ouvir do canalha: "eu acabei com a Lava Jato... porque não tem mais corrupção no governo". É a comédia mais sem graça que já se viu", ressaltou.
O presidente do Cidadania, Roberto Freire, também criticou a declaração do chefe do Executivo e afirmou que o que acabou mesmo foi o combate à corrupção.
"Bolsonaro desmanchou o Coaf; colocou o amigo do amigo dos filhos no comando da PF; pôs na PGR um inimigo da Lava Jato; forçou a demissão de Moro; mudou a Receita pra blindar o enriquecimento familiar; indicou pro STF um aliado do Centrão. O que acabou foi combate à corrupção", ressaltou.
Líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues disse que a atuação de Bolsonaro, de fato, desmantelou a força-tarefa da Lava Jato.
"A atuação de Bolsonaro, de fato, desmantelou os mecanismos de combate à corrupção no país. Aos moldes da ditadura, diz não existir corrupção quando interfere na realização de investigações. Seria piada se não fosse uma afronta ao nosso Estado Democrático!"
O deputado Léo Moraes, líder do Podemos na Câmara, disse ser preciso apoiar o combate à corrupção.
"O Brasil avançou muito nos últimos anos. Precisamos aproveitar o "despertar" da sociedade e a renovação política para avançar ainda mais na agenda anticorrupção no país", afirmou
Prerrogativa de encerrar Lava Jato é da PGR
Apesar da fala de Bolsonaro, a prerrogativa de encerrar a Lava Jato não é do Poder Executivo, mas da PGR (Procuradoria-Geral da República (PGR). A possibilidade de encerramento da força-tarefa de Curitiba em janeiro de 2021, como previsto pela PGR, lança incertezas sobre o futuro de uma série de investigações ainda em andamento e tem mobilizado procuradores da equipe a agir pela continuidade da operação, como noticiou a Folha.
O procurador da Lava Jato Roberson Pozzobon disse, em entrevista à CNN Brasil em setembro, que "é impossível" encerrar até janeiro as mais de 400 investigações em curso na Operação.
O presidente do instituto Não Aceito Corrupção, procurador Roberto Livianu, disse a população tem o direito de fiscalizar seus governantes e de avaliar seus atos. "Quem conclui se há ou não corrupção no governo é o povo, a imprensa e os órgãos de controle - MP, Tribunais de Contas, o Judiciário. E quem mantém ou acaba com a Lava Jato é o MPF.
76ª etapa da Lava Jato ocorreu hoje
Com 76 etapas deflagradas desde 2014, a operação Lava Jato frequentemente usa elementos obtidos durante a investigação para montar o quebra-cabeças com evidências ao apresentar novas denúncias e pedir maior apuração de seus desdobramentos.
Em setembro, a subprocuradora Maria Caetana Cintra dos Santos, do Conselho Superior do Ministério Público Federal, prorrogou por um ano a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, em uma decisão liminar que contraria a cúpula da Procuradoria-Geral da República.
Na manhã de hoje, a Polícia Federal deflagrou nova fase da Operação Lava Jato, batizada de "Sem limites III". Os agentes cumpriram quatro mandados de busca e apreensão na cidade do Rio de Janeiro. As ações, segundo a corporação, tiveram como objetivo aprofundar as investigações sobre supostas práticas criminosas cometidas na diretoria de Abastecimento da Petrobras, especificamente na gerência executiva de Marketing e Comercialização.
Em seis ano e meio, a lista de pessoas condenadas na operação Lava Jato foi marcada nomes importantes como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro José Dirceu, o empresário Marcelo Odebrecht, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ex-governador Sergio Cabral e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, entre outros.
Eleito com discurso de apoio à Lava Jato
Bolsonaro foi eleito em 2018 com um discurso de total apoio à Lava Jato, à moralização e ao combate à corrupção. Em novembro daquele ano, por exemplo, Bolsonaro escreveu que "os que hoje se colocam contra ou relativizam a Lava Jato, estão também contra o Brasil e os brasileiros. Todo apoio à operação que está tirando o país das mãos dos que estavam destruindo-o!"
Após eleições, o presidente convidou o então juiz da força-tarefa Sérgio Moro para fazer parte do seu governo. Moro, no entanto, anunciou a sua saída em abril deste ano após a exoneração do diretor-geral da PF (Polícia Federal) Maurício Valeixo, profissional de confiança do ex-juiz.
Na ocasião, Moro afirmou que Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal. "O presidente queria ter alguma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações", falou. "E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação.".
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