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'Não tenho dado motivo para PF ir atrás dos meus ministros', diz Bolsonaro

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

08/10/2020 08h59Atualizada em 08/10/2020 10h35

Um dia depois de afirmar que "acabou com a Lava Jato" porque não existira corrupção em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou mais uma vez hoje sobre o tema e disse que "não tem dado motivo para a PF [Polícia Federal] ir atrás" de seus ministros.

De acordo com a narrativa de Bolsonaro, problemas relacionados à corrupção teriam acabado em razão do critério de seleção de ministros. O presidente diz que escolheu sua equipe a partir de parâmetros técnicos, e não políticos, em comparação com os governos anteriores.

"Eu não tenho dado motivo para a Polícia Federal ir atrás dos meus ministros, diferentemente do que acontecia no passado."

As declarações ocorreram durante uma cerimônia de formatura de policiais federais em Brasília. Ontem, o presidente disse ter acabado com a Operação Lava Jato, porque, segundo ele, "não existe mais corrupção no governo".

"É um orgulho, uma satisfação que eu tenho de dizer a essa imprensa maravilhosa nossa, que eu não quero acabar com a Lava Jato... Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo", disse o presidente, sendo aplaudido por autoridades presentes no local. "Eu sei que isso não é virtude, é obrigação. Para nós, fazemos um governo de peito aberto", acrescentou, em seguida.

Bolsonaro também elogiou hoje o trabalho dos policiais federais, dizendo, sem mencionar a Lava Jato desta vez, que um dos efeitos do trabalho dos agentes foi na "mudança do status quo da política brasileira".

"Vocês ajudaram a mudar paradigmas, ajudaram a mostrar para todos do Brasil que nós temos como ser realmente um país melhor e diferente", afirmou. Para ele, a atuação do órgão no combate à corrupção também contribuiu para sua eleição em 2018 porque "fez com que muita gente olhasse para um candidato diferente".

Bolsonaro disse ser "prova viva" do bom trabalho da PF, citando o atentado que sofreu em Juiz de Fora (MG) durante a campanha eleitoral de 2018. "Graças ao treinamento de vocês, eu consegui ser evacuado a tempo de modo que minha vida fosse salva". Ele cumprimentou dois agentes que estavam no local naquela ocasião.

Prerrogativa da PGR

Apesar da fala de Bolsonaro, a prerrogativa de encerrar a Lava Jato não é do Poder Executivo, mas da PGR (Procuradoria-Geral da República (PGR). A possibilidade de encerramento da força-tarefa de Curitiba em janeiro de 2021, como previsto pela PGR, lança incertezas sobre o futuro de uma série de investigações ainda em andamento e tem mobilizado procuradores da equipe a agir pela continuidade da operação, como noticiou a Folha de S. Paulo.

O procurador da Lava Jato Roberson Pozzobon disse, em entrevista à CNN Brasil em setembro, que "é impossível" encerrar até janeiro as mais de 400 investigações em curso na Operação.

Elogios a Mendonça: 'Muito melhor que o outro'

Ao lado do diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, e do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, Bolsonaro diz colaborar com a instituição ao escolher ministros por critérios técnicos e de competência.

Ele elogiou Mendonça, dizendo que ele é "muito melhor que o outro que nos deixou há pouco tempo", se referindo ao ex-juiz Sergio Moro, que deixou o cargo em abril deste ano.

Moro saiu do governo após a exoneração do diretor-geral da PF Maurício Valeixo, profissional de sua confiança.