Senador flagrado com R$ 30 mil na cueca pede licença de 90 dias
O senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado pela Polícia Federal com mais de R$ 30 mil na cueca durante uma ação de busca e apreensão, pediu licença do mandato. O ex-vice-líder do governo no Senado vai ficar fora do cargo por 90 dias. Com o pedido de afastamento do senador, um julgamento que estava previsto para acontecer amanhã no STF (Supremo Tribunal Federal) fica inviabilizado.
"Pediu licença de noventa dias irrevogáveis", informou o advogado do senador, Ticiano Figueiredo. Ele afirmou ao UOL que o filho do parlamentar, que é suplente do pai, não vai assumir o posto. Pelo regimento do Senado, um suplente só assume quando o afastamento do titular supera os 120 dias, o que não é o caso. Desta maneira, a cadeira ficará vaga.
Chico Rodrigues é investigado por desvio de verbas enviadas pelo governo federal para combater a pandemia de coronavírus em Roraima. Ele foi alvo de uma busca e apreensão da Polícia Federal.
Ao ser abordado, os policiais encontraram mais de R$ 30 mil escondidos na cueca dele. Uma parte dos valores, R$ 15 mil, estava acondicionada em local "próximo às nádegas". A defesa do senador diz que os recursos não eram fruto de desvios de dinheiro.
A Secretaria Geral da Mesa do Senado informou ao UOL que, oficialmente, ainda não recebeu o pedido de afastamento. Quando a documentação chegar, será publicada em Diário Oficial e lida em plenário pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Estratégia é barrar julgamento
A manobra do senador é uma tentativa de barrar seu afastamento judicial. Na semana passada, a PF pediu a prisão do senador após ele ser flagrado com dinheiro na cueca, mas o pedido foi negado pelo STF. Em vez disso, o ministro Luís Roberto Barroso determinou que Rodrigues fosse afastado por 90 dias.
Senadores questionaram a decisão do magistrado. Em resposta, o presidente do STF, Luiz Fux, determinou que o processo fosse analisado pelo plenário, amanhã (21). Com o pedido de afastamento do senador, o caso pode não ser analisado pelo STF.
Presidente de conselho é contra julgamento
Rodrigues integrava o Conselho de Ética do Senado e a comissão mista de deputados e senadores que acompanha a situação fiscal e a execução de medidas relacionadas ao novo coronavírus. Ele deixou os dois órgãos depois da ação da Polícia Federal na Operação Desvid.
Os partidos Cidadania e Rede Sustentabilidade protocolaram pedido de cassação do mandato de Rodrigues no Conselho de Ética. Mas o presidente do órgão, Jayme Campos (DEM-MT), chegou a dizer que o órgão não poderia julgar o colega. Isso porque só reuniões presenciais poderiam analisar o caso de Rodrigues. "Remotamente, não se pode fazer o julgamento de um senador da República", afirmou Campos no dia 15.
O líder do DEM no Senado, Rodrigo Pacheco (MG), informou que prefere aguardar o "conhecimento pleno sobre os fatos em apuração para emitir juízo de valor". "Tenho confiança de que as responsabilidades serão apuradas de acordo com a Constituição Federal e a lei, e que ao Senador Chico Rodrigues sejam garantidos os direitos constitucionais, inclusive o da ampla defesa."
Dinheiro para pagar funcionários, argumenta senador
A PF apreendeu mais de R$ 30 mil na cueca do senador, além R$ 10 mil num cofre e outros R$ 6 mil. Segundo a defesa de Rodrigues, os valores em espécie serviriam para pagar funcionários de empresa da família do senador.
"O dinheiro tem origem particular comprovada e se destinava ao pagamento dos funcionários de empresa da família do senador", afirmaram Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso em nota na segunda-feira.
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