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Com futuro em jogo, Maia e Alcolumbre encaram Bolsonaro em lados opostos

12.fev.2020 - Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, durante sessão no Congresso  - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
12.fev.2020 - Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, durante sessão no Congresso Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

27/11/2020 04h00

Nos meses finais à frente da Câmara dos Deputados e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ambos do DEM, dão guinadas opostas em relação ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Enquanto Maia vem se afastando tanto do presidente como do centrão bolsonarista no Congresso, Alcolumbre tem feito questão de aparecer em bons termos com o Planalto. O futuro político de cada um está por trás das posturas diferentes diante do chefe do Executivo.

Rodrigo Maia sofre uma tentativa de enfraquecimento pelo líder do centrão, deputado Arthur Lira (PP-AL), grupo que passou a compor a massa da base aliada de Bolsonaro neste ano, numa disputa pela Presidência da Câmara.

Lira quer ser eleito presidente da Casa em fevereiro do ano que vem, quando estão previstas as eleições internas no Legislativo. O primeiro passo seria conseguir o comando da CMO (Comissão Mista de Orçamento), responsável por analisar o Orçamento de 2021.

A CMO não começou os trabalhos por causa de um embate entre os grupos de Lira e Maia. Cada um quer emplacar o próprio aliado à frente da comissão e ter o maior controle possível sobre os recursos maleáveis. Há possibilidade de que o Orçamento só seja analisado após a eleição de fevereiro.

Maia tem negado que vá tentar disputar o pleito, mas sua desistência ainda não é dada como fato consumado na Câmara. Enquanto isso, ele vem formando um bloco de partidos de centro para fazer seu sucessor, com acenos para os partidos de esquerda — na busca de votos para vencer Lira.

Além da aproximação com a esquerda na Casa, Maia tem sido mais tolerante do que o usual em relação à oposição, que trava a pauta pela votação de medida provisória da prorrogação do auxílio emergencial —o grupo quer tentar revertê-lo ao valor original de R$ 600, hoje em R$ 300.

Para parlamentares deste grupo ouvidos pelo UOL, mesmo que Maia não coloque a MP em pauta como a esquerda quer, ele tem beneficiado a oposição com mais espaço em plenário para críticas ao governo.

20.nov.20 - Em visita a São Paulo, Rodrigo Maia se encontra com o governador João Doria, adversário político de Bolsonaro - Sergio Andrade - Sergio Andrade
20.nov.20 - Em visita a São Paulo, Rodrigo Maia se encontra com o governador João Doria, adversário político de Bolsonaro
Imagem: Sergio Andrade

Por meio desse novo bloco em formação, Maia também pretende elevar a estatura do DEM no cenário político nacional e estar por trás do candidato contra Bolsonaro em 2022. Além de caciques tradicionais, ele tem mantido conversas com eventuais presidenciáveis de fora do mundo de Brasília, como o apresentador Luciano Huck.

Maia ainda adotou como suas principais bandeiras propostas econômicas, sendo hoje prioridades a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial e a reforma tributária. Com pontos impopulares e sem consenso, Bolsonaro não tem feito a defesa pública delas e, sim, terceirizado a função a líderes.

Alcolumbre, interlocutor do Planalto

Enquanto Maia se afasta de Bolsonaro, Davi Alcolumbre busca colar a imagem no governo federal e reforça em público ser aliado do presidente, especialmente para os amapaenses, sua base eleitoral.

A prioridade de Alcolumbre hoje é eleger o irmão Josiel Alcolumbre (DEM) à Prefeitura de Macapá. As eleições na capital do Amapá foram adiadas para dezembro sob a argumentação de falta de segurança em meio aos problemas de fornecimento de energia elétrica.

O presidente Jair Bolsonaro é abraçado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, no Aeroporto Internacional de Macapá - Erich Macias/Futura Press/Estadão Conteúdo - Erich Macias/Futura Press/Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro é abraçado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, no Aeroporto Internacional de Macapá
Imagem: Erich Macias/Futura Press/Estadão Conteúdo

Com receio de o apagão que atingiu o Amapá prejudicar mais Josiel — ele caiu na última pesquisa de intenção de votos realizada pelo Ibope, divulgada em 11 de novembro —, Alcolumbre tomou as rédeas das articulações e vende a ideia de que é o caminho de interlocução com o governo federal.

Bolsonaro só foi ao Amapá a convite de Alcolumbre 19 dias depois do primeiro apagão que assolou o estado, em 3 de novembro. Apesar de o senador ter reclamado para aliados da demora da visita do presidente, ambos trocaram afagos mútuos em Macapá e anunciaram isenção da conta de luz a consumidores prejudicados por um mês.

E mesmo que Alcolumbre discorde de algum posicionamento de Bolsonaro, ele tem evitado fazer críticas contundentes em público. Para os irmãos, a imagem pública de união é mais importante agora. Se Josiel for eleito, a intenção é atingir voos mais altos depois, como o governo do estado.

Em Brasília, a meta de Davi Alcolumbre é se reeleger à Presidência do Senado em fevereiro, afirmam aliados. Antes, porém, a possibilidade de ele e Maia tentarem continuar nos cargos está nas mãos do STF (Supremo Tribunal Federal), que deve analisar o caso a partir de 4 de dezembro.

O PDT quer que o Supremo proíba a reeleição sob a justificativa de que a Constituição "veda recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente".

Alcolumbre tem contado com pareceres da AGU (Advocacia-Geral da União) e da PGR (Procuradoria-Geral da União) que não o prejudicam e com o apoio de colegas governistas nessa busca.