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Felipe Neto: Lista de detratores é assunto sério, precisa ser investigada

Do UOL, em São Paulo

07/12/2020 14h55Atualizada em 08/12/2020 19h16

O youtuber Felipe Neto criticou hoje o "mapa de influenciadores" do governo federal, que separa jornalistas e formadores de opinião em três grupos: detratores, neutros informativos e favoráveis. Em conversa ao UOL Entrevista, Felipe defendeu que a criação da lista seja investigada.

"Esse assunto é mais sério do que muita gente pensou. Confesso que também fiz piada sobre o assunto, mas, embora a gente brinque, uma lista encomendada por representantes do governo federal para algum tipo de mapeamento de atividades civis é uma coisa assustadora", afirmou Felipe em entrevista comandada pelo colunista Leonardo Sakamoto e participação dos repórteres Tiago Dias e Amanda Rossi. "Não deveria acontecer sob nenhuma hipótese".

No relatório de influenciadores produzido pela empresa BR+ Comunicação são compartilhados dados como telefones celulares e endereços de e-mail. O mapa era utilizado pelo Ministério da Economia e também orienta como o órgão do governo Bolsonaro deve lidar com o grupo de jornalistas e formadores de opinião considerados influenciadores.

Felipe Neto entrou no documento entre os "detratores", ao lado de nomes como Guga Chacra, Vera Magalhães, Xico Sá, Rachel Sheherazade, Felipe Neto, Sabrina Fernandes e Silvio Almeida. Para ele, a recomendação é de "monitoramento prévio". "O que é esse monitoramento prévio de minhas ações? Onde estão me monitorando? Não faço a menor ideia. Precisa sim ser investigado", disse ele.

'Destruição da democracia'

Para o youtuber, o mapa tem potencial para destruir a democracia. "Essa lista não deveria existir, é um absurdo que ela exista. O governo não pode mapear a sociedade entre pessoas que são positivas e negativas à imagem do governo", criticou Felipe. "Com isso você só consegue uma lista de inimigos. O que [o governo] pode fazer com essa lista? Ou nada, ou algo. E se ele faz nada, para que a lista? E se ele faz algo é a destruição da democracia".

Felipe também destacou que a lista, criada a pedido do governo federal, pode deixar jornalistas e influenciadores mais apreensivos.

Ela muda as coisas, você passa a ter mais medo e, ao mesmo tempo, mais vontade de lutar. Acho que a lista do Paulo Guedes define mais minhas atitudes e o que venho fazendo.

Ainda assim, Felipe afirmou que sente preocupação em saber que está sendo monitorado. "Tive que atender a um telefone do meu pai para explicar porque a lista existe, dar justificativa para ele conseguir dormir. Para minha mãe, então, foi ainda pior. Dentro da nossa vida, se torna algo complexo".

Ele também definiu o relatório como um "tiro no pé". "Os 55 nomes que aparecem como detratores ganham a simpatia do público. Vi até pessoas que são bolsonaristas, que me criticam abertamente, falando: 'Olha, isso está errado'. Não podemos olhar e falar tudo bem, deixa para lá", disse.

O youtuber lembrou ainda de ter aparecido na lista das 100 pessoas mais influentes, elaborada pela revista "Time". "Quanto mais eles falam contra mim, mais eles acabam me colocando em listas como essa", disse. "Então acaba que eles, para tentar me destruir, criam cada vez mais força, porque o público percebe a verdade".

Meu único intuito é fazer as coisas melhorarem para o povo brasileiro. E eu fico nesse meio de campo lidando com situações de acordo com que elas são jogadas na minha cabeça. Porque eu sou um criador de vídeo para o YouTube, um palhaço do YouTube, criador de vídeo do [jogo] Minecraft. Essa questão política nada mais é do que eu lidando com essa questão ao meu redor.

Apoiaria Moro?

Suas críticas ao bolsonarismo já fizeram Neto dizer que apoiaria qualquer "coisa" contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição de 2022. Questionado se, com base nesse pensamento, ele apoiaria o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro contra Bolsonaro, disse que jamais faria campanha.

"Eu jamais iria, sei lá, fazer campanha para o Sergio Moro presidente. Em dois anos, muita coisa muda, mas eu, com certeza, votaria para tirar o Bolsonaro, não importa quem seja o adversário. Para mim, não há ninguém pior que o Bolsonaro", disse, complementando que um cenário de disputa entre o atual presidente e Moro seria "enlouquecedor".

Felipe também atribuiu a seu posicionamento político o fato de ter sido alvo de notícias falsas que o ligavam a pedofilia. "Podem investigar minha vida inteira que não vão encontrar nada. A gente processa para poder tentar ter um pouco de justiça", disse, lembrando que levou à Justiça quem o acusou de pedofilia. "Tive armas para lutar contra isso. A questão da pedofilia não pegou. Eles não conseguiram. Mas eu tive 40 milhões de inscritos para lutar contra. Tive seguidores de Twitter e Instagram. E quem não teve?", questionou.

Esquerda ou direita

Em meio ao embate entre esquerda e direita, Felipe preferiu ser classificado como social-democrata. "Se dizer de esquerda ou direita no Brasil é uma loucura. Porque você é enquadrado em coisas que não defende. Sou um social-demcorata", disse. "A social democracia defende que precisamos de intervenção do estado em questões sociais: distribuição de renda, dignidade humana", comentou.

"Não existe capitalismo sem desigualdade, mas vamos usar o Estado para fazer com que essa desigualdade seja a menor possível, e para que a gente possa dar condições de competitividade para parcelas mais desfavorecidas na população. Isso é o que defendo e acredito."

Críticas ao PT

Felipe também disse se arrepender de ter feito críticas fortes contra o PT na época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). "Me arrependo desse discurso violento anti-petista. Não sou uma pessoa petista hoje. Tenho críticas ao governo do PT, acho que coisas foram feitas erradas, sim. Acho que poderiam ter sido feitas de outra forma."

Para ele, os críticos do PT não podem ser rejeitados pelo partido. "Vilanizar todo mundo dessa forma não ajuda em nada. O velho conselho do Pantera Negra: em tempos de crise, o sábio constrói pontes, o tolo, muros. Não adianta a gente construir muros nesse momento. A gente tem que construir pontes."