Caiado insinua que Doria faz acordo por vacina em troca de apoio em 2022
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), voltou a criticar hoje o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por causa da politização em torno da vacina contra o coronavírus e insinuou que o tucano estaria utilizando a CoronaVac para conseguir apoio em uma eventual candidatura à Presidência da República em 2022.
É uma atitude mesquinha. Eu [falando no lugar de Doria] sou governador, vou escolher governadores e prefeitos que façam consórcio comigo, que vão me apoiar em 2022, aí eu libero a vacina. Isso é desumano, não sei quem fomentou isso na cabeça do governador João Doria
Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás, em entrevista à GloboNews
O governador goiano classificou como "populismo" estipular uma data para início da vacinação em São Paulo - 25 de janeiro -, uma vez que a CoronaVac ainda não tem autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ou de outra agência internacional para o uso em massa.
"Você não pode transmitir sentimento de que vai iniciar dia 25 [de janeiro] se não tem autorização da Anvisa, isso é populismo, é demagogia, isso é muito grave. As pessoas têm de entender que a pauta política é outra coisa e estamos tratando de vidas agora", declarou em entrevista à GloboNews.
O governador de Goiás é aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde o início do mandato dele, em 2019. Em março, Caiado chegou a romper com o governo após Bolsonaro fazer pronunciamento em rede nacional no qual chamou a pandemia de "gripezinha", mas voltou atrás e se reaproximou do Planalto.
Doria nunca admitiu publicamente o interesse em se candidatar à presidência em 2022, mas já foi apontado pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo, como o candidato do partido. A disputa pelo cargo máximo do Executivo é um dos pontos centrais da rixa entre o governador tucano e o presidente Jair Bolsonaro, que foram aliados na eleição de 2018.
Centralização pelo governo federal
Ronaldo Caiado defende que a vacinação seja coordenada pelo governo federal, com um calendário único para todo o país estabelecido pelo Ministério da Saúde.
Segundo ele, se um estado cria um calendário próprio e começa a vacinar sua população primeiro, isso gera uma divisão no país
"Vai ter um Brasil com vacina e outro Brasil sem vacina. É preciso dar um freio nisso. A política de imunização é federal, do Ministério da Saúde", afirmou. "Não podemos criar tese divisionista no Brasil. A vacina é para todos."
Na sexta-feira passada, após encontro com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, Caiado escreveu em sua conta no Twitter que, segundo o general, o governo requisitaria todas as vacinas produzidas e compradas pelos estados brasileiros. Em nota, horas depois, o Ministério negou qualquer tipo de confisco dos imunizantes.
'Entusiasta de Jair Bolsonaro", diz Doria
Em entrevista à rádio CBN, o governador João Doria respondeu as declarações de Caiado e afirmou que o governador de Goiás se tornou um "entusiasta de Jair Bolsonaro".
"É improcedente. O governador Caiado, que eu respeito até pela condição de governador eleito do seu estado, se tornou um entusiasta de Jair Bolsonaro e tem o hábito de cavalgar, no estilo Sancho Pança [fiel escudeiro de Dom Quixote na literatura], com o Presidente da República", afirmou Doria.
"Eu prefiro estar ao lado do povo e não ao lado do Presidente da República. Prefiro estar ao lado daqueles que precisam da vacina do que daqueles que negam a vacina", declarou.
Doria ainda disse que o governo federal erra ao apostar apenas em uma vacina —a da Universidade de Oxford com o laboratório AstraZeneca— em vez de comprar todas as que estiverem disponíveis, inclusive a CoronaVac.
"O que nós estamos fazendo é estabelecer princípios de agilidade, com a eficiência da ciência, para proteger vidas. Esse é o nosso papel, e é o papel que muitos governadores vêm cumprindo de forma correta e isentos dessa visão bolsonarista, dessa visão negacionista, que é muito triste", afirmou.
Além da vacina de Oxford, o governo federal firmou um acordo de intenção de compra de 70 milhões de doses do imunizante da Pfizer-BioNTech e também integra a iniciativa Covax Facilities da OMS (Organização Mundial da Saúde), que tem o objetivo de distribuir vacinas para países menos desenvolvidos.
No plano de imunização entregue ontem ao STF (Supremo Tribunal Federal), o governo incluiu a CoronaVac e outras 12 vacinas em fase final de testes como candidatas a serem adquiridas após aprovação da Anvisa.
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