Em briga por vacina, governo ataca Doria em vídeo: 'Não venda sonhos'
O Ministério da Saúde divulgou na noite de hoje um vídeo em que ataca o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pela divulgação de um plano estadual de imunização com data para início da vacinação em 25 de janeiro.
No vídeo, Elcio Franco, secretário executivo do ministério, afirma que é irresponsável divulgar uma data de vacinação sem que nenhuma vacina tenha ainda sido aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e ataca Doria diretamente.
"Senhor, João Doria, não brinque com a esperança de milhares de brasileiros, não venda sonhos que não possa cumprir, prometendo imunização com um produto que sequer possui registro nem autorização para uso emergencial", declarou Franco. "Como estabelecer um calendário de vacinação sem saber se a vacina estará liberada para uso, com a certeza de segurança e eficácia?"
Ele reafirmou que, para começar a ser distribuída emergencialmente no Brasil, a CoronaVac, imunizante da chinesa Sinovac comprada pelo governo paulista, ou qualquer outra vacina, precisa ser aprovada por alguma das quatro agências reguladoras estrangeiras validadas no Brasil: da China, dos Estados Unidos, do Japão e da União Europeia.
"Destaco que, até o presente momento, nenhum dos laboratórios que estão realizando a fase 3 no Brasil protocolou pedido na Anvisa. Quem não registrou nas quatro agências no exterior não poderá obter excepcionalidade para uso no Brasil. Seria irresponsável darmos datas específicas para vacinação", afirma o secretário.
Até então, a CoronaVac está na fase 3 de testagem, que atesta a segurança e a eficácia do imunizante, e, segundo o Instituto Butantan, que produz a vacina junto à Sinovac, os estudos devem ser entregues à Anvisa nesta semana.
Disputa pública pela vacina
A vacinação tem sido um tema de disputa pública entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Doria. Desde que o governo paulista começou a fazer negociações com a Sinovac, no meio do ano, Bolsonaro veio a público criticar a "vacina chinesa".
Em outubro, Bolsonaro chegou a desautorizar publicamente o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a intenção de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. "O povo brasileiro não será "cobaia", disse o presidente, que chamou a CoronaVac de "vacina chinesa de João Doria".
O governador paulista tem respondido com cobranças públicas frequentes ao presidente. Após divulgar o plano estadual de vacinação para São Paulo, no início deste mês, Doria afirmou que Bolsonaro "abandonou o Brasil" e cobrou atitudes por parte do governo federal.
A divulgação do plano, com reserva de 4 milhões de doses para outros ente federativos, gerou um alvoroço entre estados e municípios - o que claramente desagradou o Planalto. Ao todo, 11 estados e mais de 900 municípios, segundo Doria, decidiram não esperar pelo plano nacional e procuraram o governo paulista para declarar intenção de compra da CoronaVac.
Ontem, em um aparente aceno, a CoronaVac apareceu como uma das vacinas candidatas em fase 3 para o uso no PNI (Plano Nacional de Imunização). Hoje, apesar das críticas, Franco disse que o governo usará a vacina se ela for aprovada.
"Esclareço ainda que a vacina anunciada pelo Butantan, maior fornecedor de vacinas para o Ministério da Saúde ao ser registrada e aprovada pela Anvisa, confirmando suas condições de segurança e eficácia, será também adquirida e adicionada ao Plano Nacional de Vacinação contra a covid-19", declarou Franco.
A assessoria de Doria afirmou ao UOL que o o governador não se pronunciará hoje e deverá comentar os ataques na coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes na tarde de amanhã (13).
STF deu 48 h para estabelecimento de datas
O vídeo do governo também tem outro endereço além do governador paulista: o Supremo Tribunal Federal. Na tarde deste domingo, ministro Ricardo Lewandowski estabeleceu o prazo de 48 horas para que o Ministério da Saúde esclareça qual a previsão de início e término do plano de imunização.
O argumento do governo é que não tem como estabelecer uma data sem que haja alguma vacina aprovada pela Anvisa.
"Seria irresponsável darmos datas específicas para vacinação porque depende de registro em agência reguladora, posto que só saberemos da segurança completa quando finalizados os estudos clínicos da fase 3", afirma Franco, no vídeo.
Até então, segundo a legislação, a única vacina contra covid-19 que poderia ser autoriza emergencialmente no Brasil com base em agências internacionais é a da Pfizer-BioNTech, aprovada neste final de semana nos Estados Unidos.
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