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Após assédio, deputado Fernando Cury reclama de direção do Cidadania

Eduardo Lucizano e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

24/12/2020 19h37

A defesa do deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) reclamou da direção nacional do partido por falta de imparcialidade para julgar o caso de assédio contra ele. Cury foi filmado apalpando a deputada Isa Penna (PSOL) dentro da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), durante sessão na semana passada.

Por meio de nota enviada ao UOL, Cury pede para o presidente do partido, Roberto Freire, reconhecer que está impedido de julgar. Segundo a defesa de Cury, o caso agora deve ser analisado pelo diretório regional.

Roberto Freire disse ao UOL que a reclamação "é uma bobagem dele". "Não tenho parcialidade nenhuma, quem vai julgar é o diretório nacional, ele que fique tranquilo que não vai ter parcialidade de ninguém. Será um colegiado muito grande", afirmou.

"Para evitar a nulidade do processo ético-disciplinar e preservar os direitos da defesa do Deputado Estadual Fernando Cury, o processo haverá de ser remetido ao Diretório Regional do Cidadania em São Paulo, para que tenha o devido trâmite, bem como o seu digno Presidente Nacional Dr. Roberto Freire reconhecer que está impedido para julgá-lo, diante do prejulgamento exposto em entrevista ao site UOL", diz trecho da nota.

Roberto Freire disse à reportagem, na terça-feira (22): "Agora é com o Conselho de Ética. Eu não quero nem saber o que estão fazendo porque, no final, sou eu quem vai julgar e aplicar a punição que lhe couber, sendo a mais dura a expulsão."

"Para a defesa, da maneira como se está procedendo, a condenação já foi proferida na entrevista ao UOL pelo ilustre Presidente Nacional do Cidadania, que por esse motivo está impedido para julgar o caso; o processo, com a usurpação da competência do Diretório Regional e a consequente negativa de direito a recurso, será sumário, tornando-o um mero mise en scène para buscar-se formalmente legitimar uma
punição já decidida de forma contrária à Constituição Federal e ao próprio Código de Ética do partido", diz outro trecho da nota da defesa de Cury.

Procedimento apuratório foi instaurado

Reunião do Conselho de Ética do Cidadania instaurou na noite de ontem procedimento apuratório contra o deputado. Mariete de Paiva Souza foi eleita relatora da representação assinada por Roberto Freire e Arnaldo Jardim, respectivamente presidentes do partido e do diretório estadual paulista. O colegiado do Cidadania é formado por nove titulares e três suplentes, sendo Mariete a única mulher.

"Ele terá prazo de até oito dias úteis para apresentar a defesa, a serem contados a partir do recebimento da notificação, que será enviada tanto para o endereço físico quanto para os endereços eletrônicos de Cury", diz o Cidadania em nota. Cury terá até o dia 4 de janeiro para se defender. O relatório final deve ser apresentado até dia 10.

"A Comissão de Ética terá, então, 15 dias úteis para analisar o relatório, que será, posteriormente, submetido ao Diretório Nacional, já que o caso foi considerado, conforme o presidente do colegiado, Alisson Micoski, tema de relevância nacional. A próxima reunião remota está prevista para o dia 4 de janeiro, prazo final para Cury apresentar a defesa", acrescenta o partido.

A Comissão de Ética da Alesp também atingiu o quórum necessário para investigar o deputado Cury. A previsão é de que a apuração na Casa tenha início dia 7 de janeiro.

Cury havia dito que partido não informou afastamento

Procurado pelo UOL desde a divulgação do caso, Cury afirmou, num primeiro momento, via assessoria, que os esclarecimentos necessários poderiam ser encontrados na nota e no pronunciamento dele na Alesp. Em nota, escreveu não ter sido informado oficialmente pelo partido da decisão de afastamento de suas funções diretivas no Cidadania.

"Também ressalto que não houve qualquer notificação de procedimento interno do Conselho de Ética, e por isso, tão logo seja formalmente comunicado, irei apresentar a versão dos fatos, exercendo assim meu direito de defesa", disse.

Desde a acusação, o deputado decidiu não se manifestar diretamente para a imprensa.

Vídeo da sessão gravou momento do assédio

Um vídeo público da sessão de quinta-feira passada (17) gravou o momento do assédio. As imagens mostram que a deputada conversava com o presidente Cauê Macris (PSDB), apoiada no balcão do plenário, quando Cury se aproximou por trás dela. Em seguida, ele colocou e manteve as mãos na lateral da deputada, na altura dos seios.

"Eu estava de costas, só senti a mão dele escorregar na minha lateral. No momento em que eu senti, virei e falei para ele: 'Quem você acha que você é? Você está louco? Passar a mão em mim assim?' E empurrei, tirei a mão dele", relatou Penna.

A deputada disse ainda que um grupo de deputados estava bebendo antes do início da sessão e que Cury "estava com muito bafo de uísque".

Ela reafirmou ao UOL que sentiu o hálito de álcool do deputado, mas reforçou que não atribui o ato do deputado à bebida. "Não acho que seja relevante, a quantidade de embriaguez. Não quero jamais partir para esse tipo de moralismo hipócrita, porque quem faz isso, faz pior sóbrio."