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Assédio na Alesp: Comissão atinge quórum para apurar denúncia em janeiro

O deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) - Arquivo Agência Alesp
O deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) Imagem: Arquivo Agência Alesp

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

21/12/2020 17h13Atualizada em 23/12/2020 15h37

Com a assinatura feita em ato extraordinário pelo deputado estadual Campos Machado (Avante), publicada hoje no Diário Oficial, a Comissão de Ética da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) atingiu o quórum necessário para investigar o deputado Fernando Cury (Cidadania), flagrado assediando a deputada Isa Penna (PSOL) na semana passada.

É muito importante a cassação, porque assediador e assediada não podem conviver juntos no mesmo espaço."
Isa Penna

"E a notícia de que agora nós temos o quórum e as assinaturas necessárias para abrir o Conselho de Ética dia 7 de janeiro é fruto de um trabalho coletivo da deputada Mônica (Seixas), Érica (Malunguinho) e Carlos Giannazi", afirmou Isa Penna ao UOL.

A deputada também agradeceu as bancadas de todas as siglas que estão sendo solidarias. Ela afirmou esperar que o deputado Cauê Macris (PSDB), presidente da Alesp, e que o governador João Doria (PSDB) "tenham o mesmo aspecto solidário que muitos já deram" dentro da assembleia. Desde o ocorrido até hoje, ninguém ligado ao governador procurou a deputada.

Em pronunciamento feito um dia depois de ter sido assediada, Isa afirmou que não foi a primeira e nem a décima vez que isso lhe ocorreu, inclusive no período em que foi vereadora na Câmara Municipal de São Paulo. "Essa deve ser a trigésima vez que eu passo por um assédio de teor sexual desde que entrei na Câmara Municipal principalmente. Não é só na Alesp."

Quando foi vereadora durante 30 dias em março de 2017, Isa Penna foi xingada de "vagabunda" e "terrorista" pelo também parlamentar Camilo Cristófaro (PSB) no elevador da Câmara. O caso foi amplamente divulgado na época. "Esse vereador me assediou e depois ficou falando de mim na tribuna durante meses. E eu era assessora na época. Não podia responder, mas tive que ouvir", disse.

São homens que são herdeiros do poder no Brasil há séculos. São homens que não foram criados com limites na vida. É a minha única explicação. Para você ter uma ideia, na Câmara Municipal tiraram foto da minha bunda e ficaram circulando em grupo de homens. Já perguntaram o meu preço."
Isa Penna

Procurado pelo UOL desde o dia da denúncia, Cury não quis falar com a reportagem sobre o assunto. Antes de Campos Machado, os deputados Emidio de Souza (PT) e Carlos Giannazi (PSOL) já haviam assinado a fator da representação contra Cury na Alesp. Agora, o deputado Cury, que foi afastado — mas não expulso — do partido Cidadania, deve ter sua conduta avaliada por nove membros da Comissão de Ética.

A "pessoa" citada pelo assessor de Cury é Milton Abrucio Junior, diretor geral da CDN Comunicação desde abril de 2012. Em sua descrição no LinkedIn, Abrucio Junior afirma ser especialista em gestão de crises — com imprensa e público interno — e em gestão de relacionamento com mídias sociais e gestão de sustentabilidade.

Entre suas atribuições, o diretor da CDN afirma dirigir equipe de atendimento em comunicação e relações públicas para grupos e empresas grandes, a exemplo da Odebrecht, com equipe de 20 pessoas divididas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Washington.

A reportagem tenta, sem sucesso, contato com Milton Abrucio Junior. Se enviadas, sua posição e a de Cury serão publicadas.

Comissão da Alesp terá duas mulheres

Num primeiro momento, a comissão teria apenas uma mulher, a presidente, Maria Lúcia Amary (PSDB). No entanto, Giannazi cedeu sua vaga para a deputada Erica Malunguinho (PSOL). Além delas, formam a comissão: Adalberto Freitas (PSL), Emidio de Souza (PT), Barros Munhoz (PSB), Wellington Moura (Republicanos), Delegado Olim (PP), Alex de Madureira (PSD) e Campos Machado (Avante).

Na quinta-feira (17), em meio a uma sessão na Alesp, a deputada Isa Penna foi apalpada pelo deputado Fernando Cury na altura de seus seios. Pela gravação da cena, é possível ver que, antes do assédio, Cury conversava com Alex de Madureira (PSD), vice-presidente da Comissão de Ética. Madureira tentou segurara o braço de Cury assim que o deputado do Cidadania se dirigiu até a deputada do PSOL.

Conselho do Cidadania tem apenas uma mulher

Estava prevista na noite de sexta-feira (19), uma reunião do conselho de ética nacional do Cidadania analisa o caso de Cury, porém, segundo informou o presidente do partido ao UOL, Roberto Freire, não foi possível realizá-la. Ela foi marcada para amanhã (22).

O partido já decidiu afastar o deputado. "Agora é com o Conselho de Ética. Depois findo o trabalho será com o Diretório Nacional que julgará e aplicará a punição que lhe aprouver, dentre elas a mais dura é a expulsão", disse Freire.

O Conselho de Ética do Cidadania é formado por nove titulares e três suplentes — há apenas uma mulher entre eles.

O deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) - Divulgação - Divulgação
O deputado estadual Fernando Cury (Cidadania)
Imagem: Divulgação

Procurado pelo UOL desde a divulgação do Caso, Cury afirmou via assessoria que os esclarecimentos necessários poderiam ser encontrados na nota e no pronunciamento dele na Alesp.

Em nova nota, Cury escreve não ter sido informado oficialmente pelo partido da decisão de afastamento de suas funções diretivas no Cidadania.

"Também ressalto que não houve qualquer notificação de procedimento interno do Conselho de Ética, e por isso, tão logo seja formalmente comunicado, irei apresentar a versão dos fatos, exercendo assim meu direito de defesa", concluiu.

Vídeo da sessão gravou momento do assédio

Um vídeo público da sessão mostra o momento do assédio. As imagens mostram que a deputada conversava com o presidente Cauê Macris (PSDB), apoiada no balcão do plenário, quando Cury se aproximou por trás dela. Em seguida, ele colocou e manteve as mãos na lateral da deputada, na altura dos seios.

"Eu estava de costas, só senti a mão dele escorregar na minha lateral. No momento em que eu senti, virei e falei para ele: 'Quem você acha que você é? Você está louco? Passar a mão em mim assim?' E empurrei, tirei a mão dele", relatou Penna.

A deputada disse ainda que um grupo de deputados estava bebendo antes do início da sessão e que Cury "estava com muito bafo de uísque".

Ela reafirmou ao UOL que sentiu o hálito de álcool do deputado, mas reforçou que não atribui o ato do deputado à bebida. "Não acho que seja relevante, a quantidade de embriaguez. Não quero jamais partir para esse tipo de moralismo hipócrita, porque quem faz isso, faz pior sóbrio."

Comissão na Alesp também tem apenas uma mulher

Na Alesp, Isa Penna apresentou uma denúncia formal por quebra de decoro contra Cury. Em sua composição, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa, que irá analisar o caso, tem apenas uma mulher. A deputada também lançou um manifesto para pedir a cassação do mandato de Cury.

À "Folha", a deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), presidente do conselho, estimou para até março uma decisão sobre as medidas que podem ser tomadas contra o deputado.

Amary disse ainda que trabalhará para que haja isenção no processo e para que a discussão não seja polarizada para "o lado ideológico e sim pela situação em si, pelo caso em si".

"Causou bastante constrangimento, imagens foram muito fortes, não só para nós políticos, mas para nós, mulheres", disse Maria Lúcia em entrevista à CNN Brasil. A deputada tucana reforçou que "a situação foi grave". "Uma atitude absolutamente inadequada, inoportuna."