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Polícia investiga prefeito por dizer que empresa é gananciosa 'igual judeu'

Marcelino Borba (PV), prefeito de Rio das Ostras, na cerimônia de posse - Divulgação
Marcelino Borba (PV), prefeito de Rio das Ostras, na cerimônia de posse Imagem: Divulgação

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

09/01/2021 17h57Atualizada em 11/01/2021 17h18

O prefeito de Rio das Ostras (RJ), Marcelino Borba (PV), é alvo de uma investigação da Polícia Civil por crime de injúria que teria sido cometido durante seu discurso de posse, no dia 1º de janeiro deste ano na Câmara Municipal da cidade na Região dos Lagos. Segundo a polícia, durante a fala, o chefe da administração municipal afirmou que os judeus só pensam em dinheiro e são gananciosos.

A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) informou que agora o caso está sendo encaminhado para a Ciaf (Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro de Atribuição Originária) da Polícia Civil, já que Marcelino Borba tem foro por prerrogativa de função. A pena prevista pelo crime é de dois a cinco anos de reclusão.

No discurso, o prefeito fala sobre a gestão passada e também cita alguns desafios enfrentados no governo municipal. Em determinado momento, Borba cita um problema de um serviço prestado por uma empresa de energia da região, a Enel.

"Eles ficaram um mês para substituir um poste. E não trabalham de graça, não. São igual judeu. Trocamos lá na Cidade Praiana uns 12 postes de madeira. Precisava do poste de madeira. 'Não, agora tem que vender. É R$ 450'. São pior do que judeu, assim! Os caras não liberam nada. Tudo para eles, querem dinheiro. É uma covardia com a gente", disse o prefeito.

Em nota enviada ao UOL, Borba se desculpa pela fala proferida. "Fiz uma comparação infeliz citando o povo judeu, na empolgação de um discurso improvisado", explica. "Como bem meus colegas de partido sabem, não costumo preparar discursos, sou um homem simples, que prefere falar de improviso no calor da emoção. Por isso, ao criticar a empresa de energia elétrica, que vem causando vários prejuízos ao nosso município, recorri a uma expressão, de moto metafórico, que infelizmente atingiu o povo judeu", continua.

"Por isso apresento aqui minhas desculpas públicas aos nossos irmãos judeus, que há séculos são prejudicados e guardam na sua história a tristeza de milhões de vidas perdidas. Infelizmente utilizei as palavras erradas ao me expressar naquele momento", conclui.

Por meio de nota, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) disse que vai avaliar "possíveis medidas legais" e repudiou a fala do prefeito. A Conib afirmou ainda que a fala de Marcelino Borba "reflete preconceito abjeto usado ao longo dos séculos para perseguir judeus. E se torna mais grave ainda quando proferida por uma autoridade".

Já a Enel, empresa distribuidora de energia elétrica, informou que "a relação entre a empresa e todos os seus clientes, incluindo o poder público nos municípios em que atua, é pautada pela transparência e pelo respeito" e que "lamenta a declaração mostrada no vídeo e repudia qualquer comentário ofensivo e discriminatório".