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Rio: Oposição cresce, mas prevê mais dificuldades para atuar contra Paes

1º.jan.2021 - Eduardo Paes (DEM) toma posse como prefeito do Rio de Janeiro em cerimônia realizada na Câmara Municipal - Vanessa Ataliba/Zimel Press/Estadão Conteúdo
1º.jan.2021 - Eduardo Paes (DEM) toma posse como prefeito do Rio de Janeiro em cerimônia realizada na Câmara Municipal Imagem: Vanessa Ataliba/Zimel Press/Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

10/01/2021 04h00

Apesar de ter crescido na última eleição, a oposição a Eduardo Paes (DEM) na Câmara Municipal do Rio de Janeiro prevê mais dificuldades de atuação contra o atual prefeito do que contra Marcelo Crivella (Republicanos). Isso porque Paes arregimentou uma base sólida de apoios que o ex-prefeito nunca havia conseguido conquistar.

"O bloco de oposição contra o Crivella tinha oito, no máximo nove vereadores. Éramos menos em quantidade, mas havia os neutros e até pessoas próximas a Crivella que se manifestavam contra os absurdos daquela gestão", diz Tarcísio Motta (PSOL).

Contra Paes, somos dez [sete do PSOL e 3 do PT], mas não temos dúvidas de que teremos maiores dificuldades para aprovar CPIs e emplacar emendas. A Mesa Diretora da Câmara deve trabalhar ao gosto do Eduardo Paes. Além disso, ele tem uma base de vereadores coligados e simpatizantes que é superior aos 34 votos necessários para aprovar os projetos do seu interesse.
Tarcísio Motta (PSOL), vereador

As últimas movimentações no Palácio Pedro Ernesto ajudam a explicar esse quadro. O vereador Carlo Caiado (DEM), que é um dos principais aliados de Paes e trabalhou ativamente pela sua reeleição, foi eleito em chapa única como o novo presidente da Câmara Municipal.

A 1ª vice-presidente é Tânia Bastos (Republicanos), que, apesar de fazer parte do partido de Crivella e jurar fidelidade ao ex-prefeito, mantém diálogos abertos com os correligionários de Paes e deve votar em favor do novo governo.

A indicação dela ao posto foi encarada como "um sinal de paz" feito pela atual gestão aos sete vereadores do partido, que, ao lado do PSOL e do próprio DEM, têm as maiores bancadas da Câmara, com sete deputados cada um.

A 2ª vice-presidência ficou com Luciano Vieira, do Avante, um dos partidos que compuseram a coligação de Paes na última eleição. O Cidadania, também da base de apoio, ganhou o cargo de 1º secretário para Rafael Aloísio. A 2ª secretaria é ocupada por Marcos Braz, do PL —mais um que endossou a eleição de Paes.

A 1ª suplência da Mesa ficou com Jones Moura, do PSD, partido que apoiou Paes no segundo turno. Único partido que finca a bandeira da oposição a ter um posto na direção da Câmara, o PT é representado pela vereadora Tainá de Paula.

Na opinião dela, o grande desafio dessa legislatura será lutar contra os interesses do governo.

"Se analisarmos os mandatos anteriores de Paes, veremos um histórico de construção de maioria na Câmara que é muito ruim para a cidade. Nos caberá muita fiscalização e a criação de alternativas que visem a maioria, nesse contexto de tanta desigualdade", afirma.

Foco nas relatorias e comissões

Veterano na política, mas pela primeira vez como vereador, Chico Alencar (PSOL) aposta que a crise pela qual a capital fluminense passa pode fazer com que a base de apoio a Paes divirja do prefeito em algumas ocasiões.

"Paes é um político camaleônico, que joga nas onze [posições, uma analogia ao futebol]. Ele não tem vinculações partidárias mais sólidas e sempre declarou que não se limita a partidos. Com isso, negocia com todos. Ele terá uma maioria consolidada nesse modelo neoliberal com tinturas progressistas que tenta emplacar. Mas o cenário mudou. A cidade também não é a dos megaeventos. É a realidade da cidade desigual e violenta, com administração viciada e contas bagunçadas", diz.

Na opinião dele, é hora de fazer uma "oposição propositiva e programática". Ele elenca como prioridades o ajuste fiscal proposto pela Secretaria de Fazenda, a aceleração do plano de vacinação contra a covid-19 e a criação de um calendário do ano letivo de 2021.

Veterano na Câmara Municipal, o vereador Reimont (PT) diz que nunca foi tão necessário constituir a oposição. "Crivella tinha três ou quatro vereadores fiéis. A base dele se ampliava na base da troca, da nomeação, do favor. O Paes, não. Ele já chega com a mesa diretora nas mãos, além de sete vereadores eleitos pelo seu partido e a simpatia até mesmo de entusiastas do Crivella. É preciso trabalhar mais do que nunca."