Presidente da Câmara, Arthur Lira era 'soldado' de Cunha e comanda centrão
Ex-membro da "tropa de choque" de Eduardo Cunha (MDB) e político habilidoso como líder do centrão, o deputado Arthur Lira (PP-AL) agora atinge voos mais altos no cenário político nacional ao eleger-se presidente da Câmara.
Com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua rede de aliados, Lira derrotou, por 302 votos a 145, o presidente nacional do MDB, o deputado Baleia Rossi (SP). A candidatura de Baleia teve por trás Rodrigo Maia (DEM-RJ) na esperança de emplacá-lo como seu sucessor, sem sucesso.
Após a divulgação do resultado, Bolsonaro publicou uma foto cumprimentando o novo presidente da Câmara
Há quase cinco anos, Lira se notabilizou como um dos personagens leais a Cunha — cujo mandato foi cassado em setembro de 2016. Veterano, o ex-presidente da Câmara foi do céu ao inferno em 2016, quando perdeu o mandato por quebra de decoro parlamentar. Ele foi acusado de corrupção e preso em uma das fases da Operação Lava Jato.
Em conversas reservadas, deputados e interlocutores relataram ao UOL que há "mais semelhanças do que diferenças" entre Cunha e Lira. Alguns dos pontos mais frequentes de comparação seriam a "habilidade política" para articulações políticas e a capacidade de escantear quem se tornar seu inimigo. Outro ponto citado foi o "conhecimento do Regimento Interno".
A rede de apoio que Lira formou em prol de sua candidatura também foi mencionada como uma das semelhanças entre os dois.
Além de contar com o apoio explícito de Bolsonaro, o alagoano conseguiu se projetar como um líder capaz de representar o multifacetado bloco do centrão. Em movimento mais recente, conseguiu atrair o interesse de políticos do Solidariedade, DEM e PSB —partidos que tendiam a apoiar Baleia, mas ficaram com as bancadas rachadas.
Em 2015, quando venceu o petista Arlindo Chinaglia (SP), nome bancado pelo Palácio do Planalto à época, Cunha emergiu no cenário político como um parlamentar habilidoso e capaz de agregar alianças.
Ele conseguiu reunir em torno de si o apoio oficial de siglas que somavam 218 deputados. Na ocasião também houve traições. Congressistas de partidos como PR, PSD e PDT, que compunham a base governista, acabaram votando no emedebista.
Fiel escudeiro
A relação de confiança entre Lira e Cunha garantiu ao progressista a chefia de uma das comissões mais importantes da Casa, a CCJ (Constituição e Justiça). Sua atuação era considerada "discreta" e "focada nos bastidores".
No ano seguinte, com a derrocada de Cunha, Lira teve mais uma oportunidade de demonstrar lealdade ao hoje ex-presidente da Casa. Depois de adiar ao máximo a análise do processo por quebra de decoro com manobras na CCJ, o alagoano emitiu um parecer favorável ao investigado.
O documento, elaborado em resposta a uma consulta sobre possíveis mudanças nas regras de cassação, tentava salvar o mandato do emedebista. Entregue na véspera da votação do relatório que daria fim à trajetória política de Cunha.
A estratégia acabou não funcionando. Ao fim desse processo, o mais longo da história da Casa envolvendo pedidos de cassação, o ex-cacique do MDB foi derrotado com 450 votos favoráveis e apenas dez contrários (entre os quais o do próprio Lira).
Tour pelo país
Líder do centrão e do PP na Casa, Lira está em seu terceiro mandato como deputado federal e conseguiu formar em torno de sua candidatura um bloco robusto e de apoios sólidos. Desde que anunciou a candidatura, Lira iniciou um tour pelo país, ainda em 2020.
O novo presidente da Câmara é natural de Maceió, cidade onde exerceu o cargo de vereador. Ele também foi deputado estadual de Alagoas antes de se eleger deputado federal, em 2010.
Lira é filiado ao PP desde 2009, mas também já passou por partidos como PFL, PSDB, PTB e PMN.
O deputado é filho de Benedito de Lira, ex-senador e atual prefeito de Barra de São Miguel, município da região metropolitana de Maceió.
Atuação na Câmara
Na Câmara, Lira já foi presidente de duas das principais comissões da Casa: a CCJ e a CMO (Comissão Mista de Orçamento).
Como líder do chamado centrão, grupo que reúne partidos como PL, PSD, PP, Solidariedade e Avante, ele tem poder maior sobre pelo menos 139 deputados. Mas Lira também tem influência sobre deputados de outras legendas, como MDB, Republicanos, DEM, PSL, Podemos e Patriota.
O centrão começou uma aproximação com Bolsonaro em março do ano passado. De lá para cá, Lira conseguiu emplacar aliados em postos chaves do governo federal, como no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Lira também foi um articulador importante para a indicação de Kassio Nunes Marques para o STF (Supremo Tribunal Federal), que ocupou a vaga deixada pelo ministro Celso de Mello após sua aposentadoria.
A influência de Lira cresceu durante a tramitação da reforma da Previdência, em 2019. O deputado foi um dos responsáveis por negociar acordos para aprovação da proposta.
Denúncias de corrupção
Lira responde a dois processos no STF. Um deles é o chamado "quadrilhão do PP". Ele e outros membros do partido são acusados de pertencimento a organização criminosa, voltada ao cometimento de crimes contra órgãos da administração pública, como a Petrobras, a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Ministério das Cidades.
Ele também é réu em um processo em que é acusado de organização criminosa e de receber propina de R$ 106 mil do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Francisco Colombo, para mantê-lo no cargo, em 2012.
Lira também foi alvo de uma ação movida por sua ex-mulher Jullyene dos Santos Lins, que o acusava de injúria e difamação. O deputado nega qualquer crime.
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