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Eleito na Câmara, Lira deve priorizar reformas e evitar pauta de costumes

Antonio Temóteo e Kelli Kadanus

Do UOL, em Brasília

01/02/2021 23h03Atualizada em 02/02/2021 01h30

O deputado Arthur Lira (PP-AL) foi eleito hoje presidente da Câmara dos Deputados. Candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), venceu a disputa no primeiro turno. Com 302 votos, derrotou Baleia Rossi (MDB-A), que era apoiado pelo ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e recebeu 145 votos.

A Presidência deve ter neutralidade, para que seu ocupante seja capaz de olhar tanto para a direita quanto para a esquerda."
Arthur Lira ao ser eleito

Lira deve priorizar nos primeiros meses de gestão a aprovação de pautas econômicas como orçamento da União, a PEC Emergencial e iniciar o debate sobre as reformas administrativa e tributária. Entretanto, não há certeza sobre o avanço das pautas de costume que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defende desde quando era parlamentar.

Mais cedo, o grupo ameaçou levar a eleição à Justiça por causa da formação dos blocos. O PT só entrou no bloco de Baleia Rossi às 12h06 — o prazo era às 12h — e alegou uma lentidão no sistema. Maia deferiu a entrada do partido no bloco, o que irritou os aliados de Lira.

O bloco de Lira contou com o apoio dos partidos PSL, PP, PSD, PL, Republicanos, Podemos, PTB, Patriota, PSC, PROS e Avante. Além da Presidência, o grupo também ficou com cargos na 1ª Vice-presidência, 2ª Vice-presidência e 3ª Secretaria da Mesa.

Já o bloco de Baleia contou com apoio dos partidos PT, MDB, PSB, PSDB, PDT, Solidariedade, PCdoB, Cidadania, PV e Rede. O grupo ficou com as vagas na 1ª Secretaria e 4ª Secretaria da mesa.

Deputados do bloco de Baleia Rossi reclamaram da interferência do Palácio do Planalto na eleição. Já aliados de Lira reclamaram de uma atuação personalista de Maia à frente da Câmara. Rodrigo Maia encerrou seu terceiro mandato como presidente da Câmara sem conseguir emplacar um sucessor.

Resultado da votação para a presidência da Câmara, com 302 votos - Reprodução - Reprodução
Resultado da votação para a presidência da Câmara, com 302 votos
Imagem: Reprodução

Lira evitou compromisso com agenda de costumes

Durante a campanha para a presidência da Câmara dos Deputados, Lira evitou se comprometer com a pauta de costumes de Bolsonaro e dos parlamentares que apoiam o tema. Esse grupo defende a flexibilização das regras para posse de arma de fogo, homeschooling (ensino em casa) e são contrários ao aborto, por exemplo.

Apesar de não abraçar as propostas dos bolsonaristas, Lira tem afirmado em reuniões com as bancadas que não barrará o debate sobre nenhuma pauta, incluindo a de costumes.

Guedes aposta em Lira para avanço de reformas

O ministro da Economia, Paulo Guedes, aposta que, com a eleição de Lira, as reformas econômicas devem prosperar no Congresso. Guedes e Lira estiveram reunidos algumas vezes para tratar do assunto.

A ideia é que sejam aprovados ainda no primeiro semestre o Orçamento da União, com a previsão de mais recursos para bancar o Bolsa-Família, e a PEC Emergencial, que cria gatilhos para reduzir as despesas públicas, entre elas os salários de servidores.

Guedes também alimenta a esperança de conseguir fazer avançar sua proposta de reforma tributária, com a criação da nova CPMF para bancar a desoneração da folha de pagamentos. Mas Lira já afirmou publicamente ser contra um novo tributo.

Parlamentares ainda divergem sobre privatizações

Além das dificuldades que o governo enfrentará para criar uma "nova CPMF", as privatizações defendidas por Guedes também serão um ponto de embate na Câmara dos Deputados.

"O presidente já disse que não vai privatizar Banco do Brasil, Caixa e Petrobras. E para piorar, ele não se empenha pessoalmente na privatização das outras estatais. Esse tema já tem dificuldade para avançar com o apoio do presidente, imagina sem o empenho dele", afirmou um parlamentar do Centrão que apoia Lira e Bolsonaro.

Outro parlamentar próximo do governo declarou que a eleição de Lira não garantirá o avanço de toda e qualquer proposta do governo Bolsonaro, já que cabe ao Congresso deliberar e alterar os projetos enviados pelo governo. "Se eles acham que vão passar o trator aqui, estão enganados", resumiu o deputado.