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É gravíssimo, diz Erika Hilton sobre ataques contra parlamentares do PSOL

Erika Hilton foi a primeira mulher trans a ser entrevistada no Roda Viva - Reprodução/Youtube Roda Viva
Erika Hilton foi a primeira mulher trans a ser entrevistada no Roda Viva Imagem: Reprodução/Youtube Roda Viva

Do UOL, em São Paulo

01/02/2021 22h50

Erika Hilton, vereadora do PSOL em São Paulo, falou hoje sobre os ataques sofridos por ela e pelas covereadoras Samara Sosthenes e Carolina Iara, também do PSOL. Para ela, "o que vem acontecendo é gravíssimo e é dever das autoridades da cidade de São Paulo ir a fundo para saber o que motivou essas agressões".

"Estamos em um momento em que precisamos garantir a segurança das nossas parlamentares para fazer política. Eu preciso exercer o meu mandato e não posso me sentir coagida. Isso inibe minha atuação", completou.

Erika registrou um boletim de ocorrência (B.O.) por ameaça após ser procurada em seu gabinete por um homem portando uma bandeira e máscara com símbolos cristãos, autodenominado "garçom reaça".

"Estamos fazendo história e vamos continuar fazendo história até que sejamos respeitadas, vistas, vistos e ouvidos como humanos. Enquanto não tivermos nossa humanidade plena garantida, seguiremos fazendo história", disse.

Na mesma semana, as outras duas vereadoras também foram alvo de ataques. Na madrugada de domingo (31), um homem em uma moto efetuou disparos para o alto em frente à residência onde estavam Samara, a mãe e os irmãos. Na madrugada de terça (26), a casa da covereadora Carolina Iara foi atingida por pelo menos dois disparos de arma de fogo.

A vereadora Erika Hilton foi a segunda mulher transexual a ser entrevistada no Roda Viva. No programa, ela também falou sobre a importância da participação de mulheres trans na política. "Quando não nos vemos representadas, quando não vemos nosso retrato, fica muito difícil ocuparmos outros lugares e resgatarmos essa humanidade", explica.

Candidatura à Câmara dos Deputados

Erika Hilton - Nelson Almdeira/AFP - Nelson Almdeira/AFP
A vereadora Erika Hilton na Câmara Municipal de São Paulo
Imagem: Nelson Almdeira/AFP

Perguntada sobre se teria planos para seguir os passos de parlamentares do PSOL como Sâmia Bonfim e Talíria Petrone e concorrer ao cargo de deputada federal daqui a dois anos, Erika afirmou que ainda é cedo para dizer. "Quero fazer um excelente trabalho como vereadora, deixar um trabalho bem feito, construir um legado".

A vereadora, no entanto, não afastou a possibilidade: "Se houver espaço, se eu sentir que é o momento, posso concorrer". "Sei da necessidade do partido, mas não falei com a direção ainda", completou.

Perguntada sobre qual é o papel do PSOL na esquerda brasileira hoje, após o partido ter eleito mais representantes nas últimas eleições municipais, Erika afirmou que é "oxigenar a esquerda". "Acho que é esse o papel do PSOL no país: repensar o modelo de esquerda e fazer com que a esquerda se conecte com as bases", explicou.

Segundo ela, sua forma e de Guilherme Boulos, que foi candidato à Prefeitura de São Paulo, de fazer política "mudou completamente o patamar de se fazer campanha na cidade". "Trouxe um ar jovem, conectado, próximo a classes trabalhadoras, às mulheres", pontuou.

Mandatos coletivos podem ser potentes

Antes de se eleger vereadora, Erika Hilton foi codeputada estadual pela Bancada Ativista. Ela relatou que sua experiência "não foi das melhores", pois se viu impossibilitada de atuar devido a divergências entre as pessoas que compunham o mandato. Mas disse acreditar que mandatos coletivos podem ser muito potentes. Segundo a vereadora, essa é uma forma de superar obstáculos para ocupar lugares.

"Tem muita potência desde que haja alinhamento ideológico. O pluripartidarismo pode gerar uma limitação. Mas eu vejo potência e acho importante o STJ (Superior Tribunal de Justiça) se debruçar sobre essa temática", explicou.

Como avançar na defesa dos direitos de pessoas trans

Para Erika Hilton, aprovar legislações que tratem da defesa do direito de pessoas trans depende da presença de parlamentares alinhados à pauta nas casas legislativas. "Só poderemos ter uma legislação quando o parlamento não for tomado por essa gente que acha que nossas vidas não importam", disse.

Enquanto tivermos Bolsonaros e toda essa trupe que se representa nesta figura, não vamos caminhar nesse sentido. Precisamos de mais de nós".

A vereadora ressaltou também a necessidade de apoio da população: "Estando lá, preciso da sociedade junto comigo. A pressão social é transformadora".

Para conseguir eleger mais LGBTs e negros, Erika ressalta a necessidade de que os próprios partidos fortaleçam as candidaturas. "Temos que discutir o fundo eleitoral, debates nos partidos sobre como partidos vão protagonizar e permitir protagonismo para termos candidaturas com possibilidade de eleição, com recurso, espaço de TV, apoio partidário, conexões", disse.

Já em relação à opinião pública, Erika defende uma abordagem didática: "Só vamos construir um diálogo com quem está do outro lado, olhando para a pauta de gênero, da sexualidade como uma coisa demoníaca, se partirmos para o campo da didática, da pedagogia".

"A gente precisa encontrar uma didática para mostrar que não há nada de errado conosco e que não queremos acabar com a família, só queremos que haja democracia na família", explicou. "Quando encontrarmos as palavras certas, que cheguem para as famílias, para as pessoas que ainda não atingimos, será um momento crucial da nossa história. Seremos vistas, ouvidas e passaremos a mensagem de que não queremos destruir nada. Nosso propósito é de construção", completou.