Topo

Esse conteúdo é antigo

Não preciso ser candidato, mas estou à disposição, diz Lula sobre 2022

Afonso Oliveira, Ana Carla Bermúdez, Fabio Regula e Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

18/02/2021 11h42

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não precisa ser candidato nas eleições presidenciais de 2022, mas que se coloca à disposição para concorrer ao cargo que exerceu de 2003 a 2010, o de presidente da República, caso seja necessário "para derrotar o bolsonarismo". A declaração foi concedida ao UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Kennedy Alencar.

Lula disse que a decisão dependerá de diversas circunstâncias. O ex-presidente, no momento, é inelegível por causa de condenações em segunda instância no âmbito da Operação Lava Jato, mas tenta reverter a situação no STF (Supremo Tribunal Federal).

"Vai depender das circunstâncias políticas e em que momento for decidido. Vai depender do PT, das candidaturas, das alianças políticas que a gente for fazer, se vai ser necessário ou não eu ser candidato. Eu já fui presidente, não necessariamente preciso novamente ser presidente", disse.

Lula disse que é preciso que "haja uma razão maior" para que ele se candidate a presidente da República novamente, mas na sequência reafirmou seu antagonismo ao atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido).

"Eu tenho certeza que, se for necessário para derrotar o tal bolsonarismo, não tenha dúvida nenhuma que me colocarei à disposição", disse.

Ele vê chances de Bolsonaro ser reeleito, pela força da máquina pública.

"Quem está no poder sempre será o candidato forte à sua reeleição porque o poder é uma máquina muito poderosa. Quem estiver no poder sempre deverá ser [competitivo], a não ser que seja um desastre", disse Lula.

Embora seja um desastre do ponto de vista social, econômico e político, efetivamente do ponto de vista eleitoral ele [Bolsonaro] mantém uma parcela da base mais à direita, mais raivosa. Acho que ele tem chance numa disputa de reeleição de segundo turno.
Lula, ex-presidente da República

No campo da direita, Lula disse que a única candidatura clara neste momento é a de Bolsonaro. Ele não vê prosperar a tentativa de lançar Luciano Huck como candidato ao posto.

"Não sei qual será o potencial dos tucanos nessas eleições. Acho que o Huck é uma aventura, pegar um homem de TV e colocar ele numa frigideira de uma disputa política... Se ele vai se sair bem é uma aposta que não está dada ainda. Também não sabemos se o DEM vai ter candidato, o que sabemos é que o Bolsonaro tem candidato, que é ele", afirmou.

Se não for candidato, estarei inteiro para ser cabo eleitoral.
Lula, ex-presidente da República

No começo de fevereiro, Lula lançou o nome de Fernando Haddad como eventual candidato petista para as eleições de 2022, assim como ocorreu em 2018. O ex-presidente disse que ainda há tempo para decidir.

"Ainda tem tempo para decidir [sobre candidaturas]. Achei extraordinária essa coisa do Haddad ir para rua, continuar falando, temos que debater muito a questão da universidade, dos estudantes, desemprego, fome, então acho que vamos discutir o Brasil, e depois discutimos a candidatura", disse.

De acordo com Lula, os partidos de oposição precisam lançar candidaturas próprias no primeiro turno e fazer um pacto de apoiarem o candidato desse campo que for para o segundo turno.

"Objetivamente, acho que [o PT] tem de ter candidato no primeiro turno. Como você vai escolher o candidato de uma frente ampla, qual o critério?", disse.

Para o petista, uma candidatura única no campo da esquerda seria difícil porque demandaria um consenso, uma direção nacional e até uma pesquisa prévia para identificar o nome com maior aprovação popular.

"A melhor prévia que tem é a disputa no primeiro turno. Todo mundo que puder lança candidato com o compromisso de que no segundo turno todo mundo se junte. Não pode depois um inventar de ir para Paris, outros para Suécia, para Nova York, não dá", declarou fazendo referência a Ciro Gomes, que viajou para França após o primeiro turno das eleições de 2018.

O petista não poupou críticas ao ex-candidato à Presidência pelo PDT, mas disse que o apoiaria caso o PT não fosse ao segundo turno.

"O Ciro tem um estilo próprio. Ele é o cidadão que é bom de bola, mas não sabe fazer o jogo coletivo. Se ele puder pegar a bola, tentar driblar todo mundo e perder, ele não tem problema. O Ciro passa o ano inteiro atacando o PT e nas eleições quer que o PT apoie o Ciro. Isso é impossível, já conversei com ele disso, ele sabe disso", disse.

Se o Ciro for ao segundo turno e o PT não for, eu não tenho nenhuma preocupação de apoiar o Ciro. A não ser que ele não queira meu apoio Lula, ex-presidente da República

Impeachment de Bolsonaro

Na avaliação de Lula, o tempo de se abrir e votar um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro já passou.

"Eu não acredito que haja tempo agora para fazer um debate sobre impeachment e nem o [Arthur] Lira [presidente da Câmara dos Deputados] vai colocar em votação.

O petista também criticou o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) por não ter determinado a abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro. "Você não consegue saber o resultado de um processo de impeachment quando ele começa. É como jogar uma pedra, você mira uma coisa e, às vezes, vai bem longe de onde você mirou", declarou.

"Não senti nada", diz Lula sobre covid-19

Lula testou positivo para a covid-19 em dezembro do ano passado, quando viajou à Cuba para gravar um documentário. Ele disse que ficou assintomático, mas que, ao fazer uma tomografia, foi diagnosticado com pneumonia.

"Eu não senti absolutamente nada, fiquei sabendo que eu tinha uma mancha porque fiz uma tomografia, os médicos me colocaram na veia, tomei antibióticos por dez dias e a mancha diminuiu. Cheguei no Brasil e fiz outra, a mancha tinha quase que tinha desaparecido, não senti nada. Não sei dizer os efeitos do coronavírus porque não senti nada", contou.

O ex-presidente afirma crer que se contaminou dentro do avião. Atualmente, diz estar bem de saúde.

"Isso significa que a gente deve ter pego isso no avião. Ficamos isolados lá 15 dias, fiquei tomando antibiótico porque se detectou uma mancha no pulmão, uma pneumonia causada pelo coronavírus e voltei para o Brasil bem", disse. Lula ainda relatou que teve uma complicação recente.