MPF e entidades tentam barrar projeto de Carlos Bolsonaro sobre presos
O MPF (Ministério Público Federal), Defensorias Públicas, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e mais sete instituições civis elaboraram uma nota técnica que recomenda a rejeição pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro de um projeto de lei de autoria do vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos). A proposta prevê que presos condenados cumpram pena alternativa trabalhando em estruturas municipais como cemitérios e hospitais psiquiátricos.
A nota técnica foi formulada pelo Grupo de Trabalho Interinstitucional de Defesa da Cidadania, que reúne o MPF e os demais órgãos e entidades. O documento data de 15 de janeiro e foi elaborado para ser encaminhado à Câmara Municipal do Rio. O objetivo é demonstrar o repúdio do grupo ao projeto apresentando pelo filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no início de dezembro do ano passado.
Além do trabalho para integrantes do sistema prisional em cemitérios e hospitais psiquiátricos, a proposta também prevê que os presos possam ser empregados em clínicas de reabilitação para dependentes químicos e na manutenção de parques e jardins municipais.
O documento lembra que o projeto pode se configurar em uma maneira de fazer com que presos trabalhem para a iniciativa privada, já que a maioria desses serviços estatais hoje é concedida a concessionárias particulares.
"O trabalho de pessoas condenadas ao cumprimento de penas alternativas ou presas não representa acesso a um prestador de serviço mais precarizado para suprir gargalos municipais e/ou de entes privados e concessionários de serviço público, mas sim medida que teria a função de ser voltada à ressocialização, de reestruturação de seus laços sociais e formação de aptidões que o permitam retornar à sociedade com possibilidades de reinserção profissional", diz um trecho da nota.
O documento ainda lembra que o tipo de trabalho proposto por Carlos Bolsonaro a presos apresenta "grau médio ou alto" de insalubridade, como no caso de cemitérios, o que foge da determinação de que o serviço comunitário prestado por pessoas condenadas "não pode sob nenhuma hipótese gerar dano físico ou psíquico ao apenado".
Inconstitucionalidade
Além do conflito em relação às competências de penas alternativas, o Grupo de Trabalho também destacou que a proposta é inconstitucional ao sugerir que estados e municípios legislem sobre como executar a LEP (Lei de Execução Penal) e o próprio Código Penal, que são regramentos federais.
O documento afirma que o projeto de lei do vereador caracteriza "vício formal de iniciativa do legislador municipal que busca alterar lei federal em matéria penal por lei municipal".
Como conclusão, a nota técnica pede a rejeição da proposta pela Câmara e lembra que os legisladores deveriam focar as discussões sobre iniciativas a respeito do trabalho de presos na reinserção dos condenados no mercado de trabalho e na sociedade.
Assinam a nota o MPF, as Defensorias Públicas da União e do Estado do Rio de Janeiro, o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio - órgão ligado à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) -, a seccional fluminense da OAB e as entidades Centro de Assessoria Popular Mariana Criola, Fórum Grita Baixada, Frente Estadual pelo Desencarceramento do Rio, Maré 0800 (Movimento de Favelas do Rio), Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, e Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial da Baixada Fluminense.
'Gênero neutro'
Na mesma época em que protocolou a proposta sobre o trabalho de presos condenados, cerca de duas semanas após ser reeleito para o seu sexto mandato, Carlos Bolsonaro também apresentou outro projeto de lei na Câmara, este a respeito da proibição de referências escritas ao que chamou de "gênero neutro" nas escolas públicas e particulares do Rio.
O projeto tem como objetivo vetar o uso, principalmente, das expressões "todes" e "todxs", que surgiram como alternativa nos últimos anos para evitar a definição de gênero apenas entre masculino e feminino. O recurso vem sendo utilizado como forma de não excluir pessoas transgêneras ou que não se identificam com algum gênero.
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