Lula diz que gosta de Ciro 'de graça', mas reclama de discurso antipetista
Em meio a articulações visando as eleições presidenciais de 2022, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, em entrevista ao jornal El Pais, que Ciro Gomes (PDT) erra ao adotar um discurso antipetista.
Lula afirmou que gosta do ex-ministro de seu primeiro governo "de graça", mas reclamou de sua postura. Para o ex-presidente, Ciro Gomes não vai conseguir "ganhar votos da direita" e pode ter um desempenho pior nas próximas eleições. Em 2018, ele ficou na terceira colocação no primeiro turno com 12,47% dos votos.
"Não tenho problema com Ciro Gomes. Gosto dele de graça, como disse outras vezes. Mas ele está equivocado e precisa compreender. Ele resolveu engrossar o discurso antipetista achando que vai ganhar votos da direita. Não vai. Isso que é grave", disse.
Na avaliação de Lula, o discurso antipetista não fará com que Ciro Gomes avance em preferência em um eleitorado mais identificado com a direita. Ele citou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), como possível candidato deste espectro.
"Não adianta falar mal do PT e da esquerda achando que vai ganhar voto do Doria. Se continuar discurso xenófobo contra o PT ele vai perder gente da base dele. Se teve 12% na última eleição ele pode cair", disse.
Rompimento em 2018
Ciro Gomes foi ministro da Integração Nacional durante o primeiro mandato de Lula na presidência. Entre momentos de maior proximidade e atritos, os dois romperam em 2018, quando o PT não aceitou montar uma chapa presidencial encabeçada por Ciro e com Fernando Haddad (PT) como vice.
Os dois acabaram saindo candidatos em chapas separadas, com o pedetista caindo no primeiro turno e o petista sendo derrotado no segundo por Jair Bolsonaro (à época no PSL). Ciro não manifestou apoio a Haddad no segundo turno, o que gerou críticas de petistas. Desde então, Lula e o pedetista constantemente trocaram ataque por meio de entrevistas.
No ano passado, um encontro indicou uma reaproximação, mas as críticas de lado a lado não cessaram. A menos de dois anos da eleição, uma aliança entre PT e PDT ainda é vista como distante.
Pelo lado petista, Lula deixa em aberto a possibilidade de se candidatar caso exista um consenso da esquerda em relação ao seu nome para 2022, mas diz que seu candidato é Haddad.
O ex-presidente, no momento, está inelegível por causa de condenações em segunda instância no âmbito da operação Lava Jato, mas tenta reverter a situação no STF (Supremo Tribunal Federal).
"Eu acho que o Ciro Gomes é importante para o Brasil. Mas ele precisa acertar na política. Ele pode não ter no PT o maior aliado porque o PT não o apoiou. Mas ele não pode considerar PT inimigo", concluiu Lula na entrevista ao El Pais.
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