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Blogueira relata ataques em rede social após vídeo sobre Bolsonaro

Tininha Mattos foi hackeada, ameaçada e sofre com crises de pânico - Reprodução/Instagram Tininha Mattos
Tininha Mattos foi hackeada, ameaçada e sofre com crises de pânico Imagem: Reprodução/Instagram Tininha Mattos

Sara Baptista

Do UOL, em São Paulo

19/03/2021 23h12

A influenciadora Tininha Mattos viu sua vida virar de cabeça para baixo há cerca de três semanas, quando publicou no seu Instagram um vídeo sobre o presidente Jair Bolsonaro. Algumas horas após a publicação, ela se tornou alvo de inúmeros ataques e ameaças que continuam até hoje.

No dia 16 de março, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) compartilhou em seu perfil no Twitter a informação de que entraria com processo contra duas pessoas que o teriam ofendido nas redes sociais. Uma delas é Tininha Mattos, que revelou que os ataques se intensificaram novamente esta semana, após a postagem do filho do presidente.

"Não tenho menos honra por ser filho do presidente e tudo dito nestes vídeos ultrapassam em muito o limite de uma crítica ou brincadeira, principalmente após a facada", disse o deputado na publicação. No post, Eduardo compartilhou ainda um vídeo que compilava os vídeos feito pelos dois alvos de processos.

A reportagem do UOL entrou em contato com o escritório Kufa Advocacia, que defende o deputado, mas não obteve resposta. O UOL também procurou a assessoria de Eduardo Bolsonaro, mas não foi atendido.

Tininha, no entanto, explica que não foi notificada e que ficou sabendo da suposta ação contra ela pela imprensa. Ela também afirma que não foi procurada por nenhum advogado ou assessor do deputado.

No post, Tininha brincava com o fato de Bolsonaro e seus três filhos terem comparecido ao seu local de trabalho e tecia críticas à família. "Eu postei o vídeo no stories pela manhã. Passei o dia e nada aconteceu. Tudo ocorreu durante a madrugada, quando acordei de manhã meu Instagram estava lotado de mensagens de todos os tipos", explica a influenciadora.

Ataques trouxeram crises de pânico

O vídeo foi compartilhado pelo deputado estadual do Rio de Janeiro Filippe Poubel (PSL) em seu perfil no Facebook e reproduzido em redes bolsonaristas, resultando em uma enxurrada de xingamentos e ameaças.

Segundo Tininha, os agressores não se limitaram a enviar mensagens para ela. "Foram atrás do meu trabalho exigindo demissão, foram no Instagram da minha irmã me ofender por direct. Um indivíduo chegou até mesmo a ir no Instagram de uma amiga de infância comentar em uma foto nossa falando que eu estava com os dias contados e que iria morrer", relata.

A influenciadora defende que seu vídeo era uma brincadeira e foi mal interpretado: "Era apenas uma brincadeira em tom nitidamente jocoso. E em seguida eu me retratei deixando muito claro que não tive nenhuma outra intenção que não fosse a de brincar ou fazer uma piada. Achar que eu represento real risco ao presidente e seus filhos chega a ser risível".

Além do encerramento do contrato de trabalho, os ataques também lhe renderam crises de pânico recorrentes e um medo constante. Medo este que a impede de prestar queixa formal pelos ataques. "Eu não sei se mexer nisso tudo pode me colocar ainda mais em risco", explica.

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Imagem: Reprodução/Instagram Tininha Mattos

Tininha lembrou do caso do youtuber Felipe Neto, que foi intimado a depor no âmbito da Lei de Segurança Nacional por ter chamado o presidente Jair Bolsonaro de genocida. "Veja bem, eu não sou o Felipe neto, eu não tenho a notoriedade do Felipe e a proteção que a mesma traz". A denúncia contra Neto foi feita por um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro.

'Deletar minha conta só iria piorar'

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Imagem: Reprodução/Instagram Tininha Mattos

Tininha Mattos tem mais de 40 mil seguidores no Instagram, mas há alguns anos o perfil não é sua principal ocupação profissional. Ela conta que seu perfil nunca foi voltado para questões políticas, mas diz que já havia se posicionado politicamente antes.

Abordar temas como feminismo ou se colocar como uma pessoa de esquerda já tinham feito com que perdesse seguidores, mas ela nunca havia recebido ataques como este. Desta vez, chegou a ser hackeada e teve suas senhas divulgadas.

Mesmo neste cenário, Tininha diz que chegou a desativar o perfil na rede social, mas não considera apagar permanentemente a conta. "A maioria dos ataques são de cunho misógino, então deletar minha conta do Instagram só iria piorar", diz.

Lei de Segurança Nacional usada contra críticos

O uso da Justiça para intimidar opositores do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos não é novidade. Nas últimas semanas, a Lei de Segurança Nacional vem sendo usada para investigar ou prender críticos de Bolsonaro.

O caso de maior repercussão foi o do youtuber Felipe Neto. Ontem, cinco jovens foram presos em Brasília por estenderem uma faixa de protesto contra o presidente na Praça dos Três Poderes. Eles foram acusados de infringirem a Lei de Segurança Nacional.

No dia 4 de março, um jovem foi preso com base na mesma lei após publicar em seu Twitter uma mensagem comentando a visita do presidente Bolsonaro a Uberlândia. Ele foi libertado um dia depois, mas hoje, a Polícia Federal intimou 25 pessoas por compartilharem a mensagem nas redes sociais.

A Lei de Segurança Nacional também baseou o pedido de prisão contra o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ). Ele, porém, não criticou o presidente. Silveira foi preso no dia 16 de fevereiro por ordem do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes por atacar ministro da Corte. Ele agora está em prisão domiciliar enquanto aguarda decisão do Conselho de Ética da Câmara sobre sua liberdade.