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'O Exército vai se manter longe de qualquer papel político', diz Etchegoyen

Ex-ministro do GSI, Sergio Etchegoyen, não acredita que Forças Armadas agirão politicamente - Divulgação
Ex-ministro do GSI, Sergio Etchegoyen, não acredita que Forças Armadas agirão politicamente Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL

30/03/2021 22h07

O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, de Michel Temer, concedeu entrevista ao jornal O Globo e comentou a situação das Forças Armadas no governo Bolsonaro. "O Exército vai se manter longe de qualquer papel político", afirmou.

Para Etchegoyen, os últimos acontecimentos, como a troca dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica nada mais é que uma escolha do presidente Jair Bolsonaro. Para o ex-ministro, não há a possibilidade de atuarem para agradar Bolsonaro, porque nunca "aceitaram ser tratadas de outra forma que não como instituição de Estado".

"Nos últimos anos, já enfrentaram, por exemplo, uma tentativa sórdida de avanço sobre as competências dos comandantes na gestão do pessoal, no mandato da presidente Dilma. E ainda assim o Exército se manteve fiel aos princípios legais. Acho que não será diferente agora", disse.

Questionado se não considera a demissão do ministro da Defesa e dos chefes das forças uma atitude hostil, Etchegoyen acredita que o argumento poderia ter essa leitura apenas do ponto de vista pessoal, mas não faz sentido institucionalmente.

Mesmo que as intenções de Bolsonaro estivessem mais ligadas a questões pessoais, como posicionamento contra o lockdown e a vontade de recolocar o ex-ministro da saúde Eduardo Pazuello, Sergio Etchegoyen não acredita que os militares aceitariam.

"A substituição pode ter a ver com o fato de o presidente estar incomodado com alguma coisa e buscar ter um relacionamento mais fácil com os chefes das forças. Mas daí a achar que vai mudar a posição das Forças Armadas em relação a seu papel institucional vai uma grande distância", argumentou.

Para o ex-ministro de Temer, é impensável que o exército vá assumir um papel político, mesmo no caso de um impasse institucional e só agirão "se forem convocadas por qualquer dos poderes, nos limites do artigo 142 da Constituição". Também não acredita na convocação, por parte de Bolsonaro, para uma ação golpista e que considerar isso "faz muito mal à democracia brasileira".

"Não faz muito tempo que me afastei, conheço as pessoas que estão lá, existem valores perenes e um deles é o apego à normalidade democrática, à soberania popular e ao presidente da República como comandante Supremo. Nós já tivemos comandantes supremos que não eram os mais votados nas Forças Armadas e nem por isso deixaram de comandar", disse.

Apesar de acreditar que a situação atual pode afetar no apoio que o presidente tem, Sergio Etchegoyen acredita que tudo não passa de um desgaste no relacionamento, e que a visão sobre o tema pode estar equivocada. "Cada vez que acontece uma coisa, a gente acha que houve uma crise militar. Não teve no governo Lula, não teve sob Dilma, não teve no governo Temer e não terá agora. As Forças Armadas não vão para a rua defender politicamente ninguém", defendeu.

Tampouco acha que há uma possibilidade de ruptura no estilo de 1964, porque não há quantidade de gente disposta a isso, nem na população geral, nem na imprensa. Também não acha possível ter alguém, dentro das Forças Armadas, que considere essa uma solução. "O Brasil é um país sofisticado institucionalmente. Eu mesmo tenho críticas a muitas coisas no funcionamento das nossas instituições. Mas elas estão funcionando e, mais do que isso, estão sendo obedecidas", finalizou.