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Jornal: Dados indicam que requerimentos da CPI da Covid vieram do Planalto

Registros de arquivos enviados por Ciro Nogueira (PP-PI) contêm o nome de uma assessora lotada no Planalto - Edilson Rodrigues/Agência Senado
Registros de arquivos enviados por Ciro Nogueira (PP-PI) contêm o nome de uma assessora lotada no Planalto Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

28/04/2021 22h12Atualizada em 28/04/2021 22h15

Uma análise feita pelo jornal O Globo dos requerimentos apresentados na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid indica que os pedidos de convocação de especialistas que defendem o "tratamento precoce" ou criticam o isolamento, feitos por senadores aliados ao governo federal, foram produzidos no Palácio do Planalto.

Segundo o jornal, os registros de sete arquivos enviados por Ciro Nogueira (PP-PI) e Jorginho Mello (PL-SC) contêm o nome de Thaís Amaral Moura, assessora da SEAP (Secretaria Especial de Assuntos Parlamentares). Nos requerimentos, os senadores pedem a convocação de cinco especialistas — entre eles, a médica Nise Yamaguchi, defensora da hidroxicloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a covid-19.

Outro documento pede que o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), também seja ouvido pela CPI. Ele é defensor do "tratamento precoce" contra a covid-19, que não é recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), e já teve um vídeo seu compartilhado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas redes sociais.

Para chegar a essas informações, a reportagem do Globo analisou os chamados metadados dos requerimentos enviados ao Senado. Os metadados funcionam como um RG de cada documento de um computador, contendo sua autoria — neste caso, Thaís — e a data e o horário em que os arquivos foram criados e/ou alterados.

Nem todos os requerimentos apresentados por Ciro Nogueira ou Jorginho Mello partiram de computadores do Planalto, ainda de acordo com o jornal. O primeiro enviou 11 arquivos à CPI, mas apenas cinco têm o nome da assessora da SEAP como autora; o restante foi criado por um funcionário do gabinete do senador. Já o segundo encaminhou três requerimentos, sendo dois vinculados a Thaís e um, a um e-mail do Senado.

Questionada pelo Globo, Thaís Amaral Moura disse desconhecer a informação de que seria autora dos requerimentos. O senador Jorginho Mello informou que não vai se pronunciar, e Ciro Nogueira ainda não retornou o contato.

Tentativas de "intimidação"

Mais cedo, o senador Otto Alencar (PSD-BA), disse que o governo federal tem tentado intimidar os senadores que compõem a CPI da Covid, que teve a sua primeira reunião realizada ontem. Alencar convocou a sessão por ser o parlamentar mais velho entre os membros, com 73 anos, e disse que desde então vem recebendo ameaças pelo celular.

"O governo tem apelado de todas as formas para desestabilizar a CPI", disse o senador em entrevista à CNN Brasil. "Dia 27 de abril eu convoquei a sessão. Daí em diante meu celular recebeu mensagens, ameaças, mais de 500 mensagens de robôs, de pessoas de outros códigos [de área], muitas do Rio de Janeiro, com as coisas mais absurdas na tentativa de intimidação."

Antes de ser deputado federal por 28 anos pelo Rio de Janeiro, Bolsonaro foi vereador e sempre teve o seu reduto eleitoral concentrado na capital fluminense, assim como dois de seus três filhos parlamentares — o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Para Alencar, o governo está por trás do pedido feito na Justiça para tentar barrar a escolha do senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da CPI, o que acabou se confirmando ontem. Renan chegou a ser impedido de tomar posse graças a uma decisão liminar, que posteriormente foi suspensa.