Mayra acusa falsamente jornalista na CPI e depois nega invasão do TrateCov
A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, entrou em contradição durante o depoimento prestado na manhã de hoje à CPI da Covid. A Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado investiga ações e omissões do governo federal em meio à crise sanitária.
Conhecida como "capitã cloroquina" por sua defesa no uso do remédio sem comprovação científica contra a covid, Mayra acusou falsamente o jornalista Rodrigo Menegat de hackear o aplicativo TrateCov, que indicava uso do remédio, criado na gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello. Depois voltou atrás ao ser questionada pelo relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Segundo ela, o termo estava sendo empregado de forma incorreta para designar a ação cometida por Menegat.
Ele não conseguiu hackear. O sistema é seguro. Hackear é quando você usa a senha de alguém, entra dentro de uma plataforma ou de um sistema. Foi uma extração indevida de dados. O termo que foi utilizado foi um termo de leigos. Hoje a gente tem um laudo pericial que classifica a operação feita de extração indevida de dados
Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde
O aplicativo era aberto e qualquer pessoa podia fazer simulações. Bastava colocar dados do paciente, como idade, peso e sintomas, para receber a prescrição do chamado "tratamento precoce".
Procurado pelo UOL, Menegat disse que, como jornalista de dados, apenas analisou o código fonte disponibilizado publicamente no site e "acessível para qualquer usuário de internet curioso o bastante para fazer essa verificação por conta própria".
"O procedimento, de maneira alguma, alterou qualquer conteúdo na plataforma", disse
Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) diz que a secretária fez acusações infundadas e caluniosas contra o jornalista Rodrigo Menegat.
"O apelo à calúnia e difamação contra jornalistas na tentativa de se defender da exposição de falhas na atuação do governo federal é uma tática frequente do presidente Jair Bolsonaro e de seu alto escalão. Uma clara violação à liberdade de imprensa. A Abraji exorta os órgãos públicos envolvidos a esclarecerem os fatos e eventualmente punir os responsáveis, caso se verifique que denúncias inverídicas foram registradas contra o jornalista", afirma a Abraji, em comunicado.
Diante das contradições da servidora, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, senador Omar Aziz (PSD-AM), questionou se havia algum estudo de utilização de cloroquina para crianças. O parlamentar questionou, então, por qual motivo o aplicativo foi retirado do ar se não havia modificação feita pelo hacker, confrontando a versão dada pela secretária.
Lançamento ocorreu em janeiro
A plataforma foi lançada em janeiro de 2021 em Manaus, em evento com a participação de Mayra e do ex-ministro Eduardo Pazuello. O sistema também foi amplamente divulgado em nota à imprensa distribuída pela assessoria de comunicação da pasta no dia 13 de janeiro.
No texto, o órgão ressaltava que mais de 300 médicos de Manaus já estavam inscritos no aplicativo. A nota trazia declarações de Mayra: "Ele é um protocolo de fácil manuseio porque o profissional de saúde vai baixar no celular e atender o paciente, preenchendo uma série de critérios médicos. Após, será oferecido ao paciente o tratamento precoce com uso de medicações antivirais (sic)", disse a secretária na nota.
A TV Brasil, comandada pelo governo, também fez reportagem sobre o aplicativo.
Depois de a imprensa noticiar, na época, que o aplicativo promovia de forma indiscriminada esses remédios, o ministério tirou o sistema do ar e passou a tentar emplacar uma versão de que ele era apenas um protótipo e não estava em funcionamento ainda, contrariando seus próprios materiais oficiais.
Na semana passada, o ex-ministro Eduardo Pazuello disse à CPI que o aplicativo foi copiado e divulgado indevidamente. Nesta terça, Mayra voltou a insistir nessa narrativa e, quando questionada sobre o nome do invasor, apontou Menegat. Ao ser questionada sobre quais modificações o "hacker" teria feito no programa, porém, a secretária voltou atrás.
"Ele não conseguiu hackear. O sistema é seguro. Hackear é quando você usa a senha de alguém, entra dentro de uma plataforma ou de um sistema. Foi uma extração indevida de dados. O termo que foi utilizado foi um termo de leigos. Hoje a gente tem um laudo pericial que classifica a operação feita de extração indevida de dados", afirmou ela, dizendo que o caso motivou um registro de boletim de ocorrência.
Tecnicamente, porém, não pode ter havido extração indevida de dados de um sistema aberto. O que o jornalista fez foi acessar o site e consultar o código-fonte da página, disponível a qualquer usuário por meio da ferramenta "inspecionar elemento" (presente no próprio navegador).
Esse código-fonte, que é aberto, foi publicado por Menegat na plataforma github, usada por programadores para hospedar códigos e arquivos. A hospedagem do código nessa plataforma costuma ter como finalidade facilitar a análise de outros programadores e o armazenamento do código caso o site seja retirado do ar pelo dono da página.
* Com informações da agência Estadão Conteúdo e colaboração para o UOL de Ana Carla Bermúdez
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.