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Mayra responsabiliza Manaus por crise e diz: 'Culpa da doença é do vírus'

Rayanne Albuquerque e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

25/05/2021 11h33Atualizada em 25/05/2021 12h07

Em depoimento à CPI da Covid, a secretária Mayra Pinheiro, conhecida como "Capitã Cloroquina", alegou que a responsabilidade da covid-19 não é do Ministério da Saúde, mas "do vírus". As afirmações foram feitas na manhã de hoje, ao ser questionada sobre as causas do colapso do sistema de saúde de Manaus, no Amazonas.

Nenhuma responsabilidade. A responsabilidade da doença é o vírus
Mayra Pinheiro

A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde chegou a mencionar que o agravamento da crise em Manaus era culpa da gestão municipal. Durante a oitiva, a secretária também citou que pacientes que eram diagnosticados com covid-19 eram misturados com os que não tinham a doença.

A secretária também declarou durante a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito que o Brasil não era obrigado a acompanhar as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) que desaconselhava o uso de cloroquina para os pacientes da covid-19.

Na perspectiva de Pinheiro, a OMS retirou as orientações desses medicamentos para o tratamento da covid baseadas em estudos de "qualidade metodológica questionável". A secretária alegou que os estudos se baseavam na observação dos efeitos da cloroquina na fase "tardia da doença" e alega que já é sabido que "não há benefícios aos pacientes" nesta fase.

É preciso que a gente deixe, primeiramente, claro, que a OMS é um braço da ONU que trata das questões relativas à saúde. Embora o Brasil seja signatário dessa entidade, o Ministério da Saúde de todos os países são órgãos independentes e têm sua autonomia para tomada de decisões de acordo com as situações locais
Mayra Pinheiro

Foco dos questionamentos

O colegiado da Comissão Parlamentar de Inquérito tem como foco durante o depoimento de Mayra Pinheiro compreender quais foram os motivos para difusão do aplicativo TrateCov, que recomendava a cloroquina.

Os óbitos que ocorreram no país em função do uso do medicamento que não tem comprovação científica também vão compor os questionamentos da CPI. Ao menos três pessoas morreram no Amazonas após serem submetidos a nebulizações com hidroxicloroquina diluída em soro. Os casos estão sendo investigados pela Polícia Civil.

Outros três pacientes morreram no Rio Grande do Sul ao serem submetidos ao mesmo tipo de tratamento no Hospital Nossa Senhora Aparecida, localizado em Camaquã, no interior gaúcho. Um paciente de 69 anos recebeu o tratamento e morreu dias depois, segundo a família, na cidade de Caridade de Alecrim.

O "tratamento precoce" com itens do chamado "kit covid" é incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e foi divulgado como eficaz, mesmo sem dados comprovados pela ciência, pela gestão de Pazuello no Ministério da Saúde. Entre os medicamentos do kit está a hidroxicloroquina, a azitromicina e a ivermectina.

* Colaborou Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.