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Colado no presidente, ex-policial treina para virar 'Max Bolsonaro' em 2022

Max Guilherme (à dir.) participa de manifestação no Rio em favor do presidente Jair Bolsonaro - Reprodução
Max Guilherme (à dir.) participa de manifestação no Rio em favor do presidente Jair Bolsonaro Imagem: Reprodução

Hanrrikson de Andrade e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

31/05/2021 04h00

Depois de emplacar os três filhos na política e apadrinhar apoiadores com o seu sobrenome, Jair Bolsonaro (sem partido) prepara o ex-policial militar Max Guilherme Machado de Moura, um de seus escudeiros no Palácio do Planalto, para concorrer a deputado federal no ano que vem.

O aprendiz de candidato, que foi da PM do Rio de Janeiro, tem ganhado cada vez mais espaço ao lado do presidente da República. Ele chegou a Brasília como segurança pessoal, foi promovido a assessor especial e hoje é um dos articuladores na área de comunicação, com poder para interferir na Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social).

No último ano, Max tem auxiliado Bolsonaro na produção de conteúdo para as redes sociais. Paralelamente, ele aproveitou para inflar a sua conta pessoal no Instagram, gerando vídeos com o presidente, memes e correntes de apoio. Rapidamente, o assessor —antes uma figura desconhecida em Brasília— chegou aos 23 mil seguidores.

A ideia de se candidatar a um cargo público surgiu "naturalmente", de acordo com um dos interlocutores de Bolsonaro no Rio de Janeiro, sua base eleitoral.

A tendência é que o assessor percorra trajetória idêntica à do deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), que se elegeu em 2018, no auge do "bolsonarismo", com a alcunha "Hélio Bolsonaro".

Na ocasião, mesmo sem qualquer projeção prévia, Hélio foi o parlamentar federal mais votado no Rio, com a preferência de quase 342 mil eleitores.

Da mesma forma, vários quadros estrearam na política surfando onda semelhante. Foi o caso do também deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), que fez campanha em Niterói (RJ) com a autodenominação "filhote de Bolsonaro". Max atualmente não representa nenhuma legenda. Ele deverá se filiar ao partido que Bolsonaro escolher para concorrer no ano que vem.

'Discrição' e 'silêncio'

Max foi sargento do Bope (Batalhão de Operações Especiais), a unidade de elite da Polícia Militar fluminense, por 17 anos. Ele conheceu Bolsonaro em 2012.

Max, Queiroz e Bolsonaro - Reprodução - Reprodução
Max ao lado de Fabrício Queiroz e Jair Bolsonaro
Imagem: Reprodução

Desde então, o ex-PM vem atuando como uma espécie de "faz-tudo", segundo narra um ex-militar que integra a equipe do presidente da República. O grupo de amigos do qual Max faz parte é o mesmo do também ex-policial Fabrício Queiroz, pivô do escândalo envolvendo um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ).

Dentro do Palácio do Planalto, o assessor é tido como "discreto" e "silencioso". Esse perfil é, de acordo com a avaliação de interlocutores, exatamente o que Bolsonaro busca para formar o seu círculo de confiança: pessoas reservadas e que cumpram ordens sem opinar ou questionar suas decisões.

Segundo relatos feitos ao UOL, apesar do perfil introvertido, tem crescido a atuação de Max como uma espécie de "marqueteiro" do chefe na internet.

Após a saída do publicitário Fabio Wajngarten da chefia da Secom, em março, Max passou a participar de reuniões que tratam de estratégias do governo e, segundo aliados do Planalto, Bolsonaro costuma dar voz e razão ao ex-policial.

Oficialmente, a Secom é ocupada atualmente por um também policial, André Sousa, mas, desde que assumiu, por indicação do ex-ministro Jorge Oliveira (hoje no Tribunal de Contas da União), ele ainda não emplacou e está longe de ter o mesmo prestígio com o presidente que o ex-policial do Bope.

Devido à carreira na PM fluminense, Max atua ainda como uma ponte entre o presidente e a categoria da segurança pública no Rio —setor que é fundamental dentro do espectro eleitoral bolsonarista. Esta é a principal aposta na tentativa de se eleger deputado federal em 2022.

O homem do presidente

Para quem quiser acompanhar as atividades diárias do chefe do Executivo federal, incluindo os bastidores dos sobrevoos de helicóptero e os passeios com apoiadores motociclistas, a melhor opção hoje não é o canal oficial da Secom, e sim a página do Instagram de Max. A rede social do assessor acabou virando uma fonte de consulta.

Max era uns dos personagens que estava no trio elétrico com Bolsonaro e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, no último fim de semana, depois de um passeio de motocicleta iniciado na zona oeste do Rio de Janeiro.

Durante a atividade política, Max discursou para a multidão que, a despeito da pandemia do coronavírus, se aglomerava para acompanhar o presidente. O subordinado também ganhou o microfone do governante em um ato no Dia das Mães e, recentemente, comemorou já ter alcançado mais de 23 mil seguidores no Instagram.

O alcance das redes sociais do assessor já demandou, inclusive, uma investigação da PF a partir de publicações suspeitas de estimularem manifestações contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional. No entanto, não houve conclusão. A apuração ocorreu no âmbito dos chamados inquéritos das Fake News e dos atos antidemocráticos, em outubro do ano passado.

Em maio deste ano, Max voltou à rede social para atacar o STF. Em publicação no Instagram, ele afirmou que a Corte teria desferido "duros golpes" contra a Carta Magna, pela qual declarou luto, e disse que irá "para guerra com Bolsonaro". Depois da repercussão negativa do caso, Max apagou a mensagem.

Viagem a Israel

Interlocutores bolsonaristas citam como exemplo da ascensão de Max dentro do Palácio do Planalto a participação dele na comitiva que viajou a Israel, entre 7 e 9 de março. Na ocasião, a missão foi liderada pelo então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para que o governo conhecesse melhor os estudos referentes a um spray nasal com suposta eficácia no tratamento das sintomas da covid-19.

Posteriormente, as negociações não avançaram. Ainda não há conclusão científica que permita dizer se o produto é eficiente ou não. A comitiva incluiu os deputados Federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Hélio Lopes, o então chefe da Secom, Fábio Wajngarten, o assessor Filipe G. Martins e outros representantes do governo.

O assunto foi objeto de questionamento e crítica a Ernesto Araújo durante o seu depoimento à CPI da Covid, no Senado Federal, em 18 de maio. Na ocasião, o vice-líder da comissão e membro da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), indagou sobre a real motivação da participação de Max na delegação, já que a função dele no Palácio do Planalto não teria qualquer vínculo ou associação com o enfrentamento à pandemia.

O UOL tentou contato com Max, mas não conseguiu localizá-lo.