'Exporia o presidente', diz Nise em mensagem sobre decreto para mudar bula
Ao depor na CPI da Covid, a médica Nise Yamaguchi entregou um documento registrado no 16º Tabelião de Notas de São Paulo em que registra uma troca de mensagens pelo WhatsApp com o tenente da Marinha Luciano Dias Azevedo.
O médico anestesista tem sido apontado por senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito como o responsável pela autoria do decreto que visava modificar a bula da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada no tratamento da covid-19 até o momento.
Ambos os médicos seriam integrantes, segundo avalia o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), do chamado "gabinete paralelo", que assessorava informalmente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A minuta que alteraria as informações disponibilizadas pelo remédio sem a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) foi revelada pela primeira vez pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Na ocasião de seu depoimento à CPI, o ex-parlamentar também afirmou que o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) participava de reuniões estratégicas no Palácio do Planalto.
O documento entregue ao colegiado por Nise, porém, mostra que a médica chegou a receber o texto da minuta que tratava sobre a distribuição de cápsulas de 250mg de cloroquina, 400 mg de hidroxicloroquina e 500 mg de azitromicina pelo governo federal para o tratamento "experimental" da covid-19.
Em seu parágrafo 2º, a minuta advertia que a adesão ao tratamento "ora em estudo da covid-19" deveria ser acordado entre o médico e o paciente que aderissem "voluntariamente e de livre e espontânea vontade" ao tratamento precoce.
Ao observar problemas na elaboração do texto, a médica alertou o integrante da Marinha que o documento "exporia muito o presidente", mas não questionou as intenções do governo na distribuição dos medicamentos às unidades de saúde do país.
"Oi Luciano. Este decreto não pode ser feito assim, porque não é assim que regulamenta a pesquisa clínica. Tem normas próprias. Exporia muito o presidente", afirmou.
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