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'Me sinto agredida, em um gabinete de exceção', diz Nise na CPI da Covid

Médica Nise Yamaguchi durante depoimento na CPI da Covid, no Senado Federal, em Brasília (DF) - Adriano Machado/Reuters
Médica Nise Yamaguchi durante depoimento na CPI da Covid, no Senado Federal, em Brasília (DF) Imagem: Adriano Machado/Reuters

Rayanne Albuquerque, Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

01/06/2021 16h02Atualizada em 01/06/2021 18h55

Nise Yamaguchi declarou em depoimento como convidada à CPI da Covid que se sente "agredida" em ser vista como participante de um "gabinete de exceção". A médica imunologista se referiu às referências do colegiado a um "gabinete paralelo" de aconselhamentos ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre como a condução das ações de enfrentamento da pandemia deveriam ser adotadas.

Yamaguchi acredita que a leitura que os senadores estão fazendo da situação não observam que ela e os integrantes do que chamou de "conselho científico independente" atuaram não para atrapalhar o combate a pandemia, uma vez que estariam "trabalhando tecnicamente e cientificamente".

Eu tenho que colocar meu repúdio a situação que estou colocada ali, em um gabinete de exceção. Estou me sentindo aqui bastante agredida neste sentido porque eu estou como colaboradora eventual de várias ações de uma relação direta com a situação clinica dos nossos pacientes e eu gostaria de ter, portanto, senador, a necessária avaliação dessa posição."
Nise Yamaguchi

O pedido de fala foi feito pouco após o retorno da sessão, interrompida após fala do senador Otto Alencar (PSD-BA). Insatisfeito com as respostas, o senador interrompeu Nise diversas vezes e chegou a classificá-la como "médica audiovisual", em uma tentativa de expor, em tom elevado, desconhecimento da médica sobre temas ligados à pandemia.

A senhora nem estudou, doutora. A senhora foi aleatória mesmo, superficial."
Otto Alencar

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, uma assessora da médica foi expulsa da sala onde ocorre a sessão após criticar a fala do senador. A sessão foi interrompida após o episódio.

A imunologista Nise Yamaguchi, aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e defensora do tratamento precoce com remédios sem eficácia comprovada, como a cloroquina. Durante a sessão de hoje, a médica disse em depoimento à CPI da Covid que irá disponibilizar suas conversas no WhatsApp que comprovam que ela não sugeriu a mudança na bula da cloroquina.

Yamaguchi foi apontada pelo presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Antonio Barra Torres como a responsável por defender a alteração da bula da cloroquina por meio de um decreto. A versão apresentada por Barra Torres foi dada durante o depoimento como testemunha ao colegiado da Comissão Parlamentar de Inquérito.

O pedido de acesso às conversas do WhatsApp da médica foi feito pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), após a médica entrar em contradição em relação às datas de apresentação da minuta que seria convertida em decreto.

Eu não tive acesso a esse decreto, tanto é que registrei o horário disso, que foi Às 20h, explicando claramente. Em primeiro lugar, isso foi originado pela acusação que eu recebi de colocar decreto em bula
Nise Yamaguchi

* Com a colaboração de Ana Carla Bermúdez

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no primeiro parágrafo desta matéria, a médica Nise Yamaguchi foi à CPI da Covid como convidada, e não como testemunha. O erro já foi corrigido.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.