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PF quer apurar se pasta de Damares foi usada para inflar atos contra STF

Oswaldo Eustáquio usa máscara com a foto de Bolsonaro - Reprodução de vídeo
Oswaldo Eustáquio usa máscara com a foto de Bolsonaro Imagem: Reprodução de vídeo

Juliana Dal Piva e Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

08/06/2021 04h00

A Polícia Federal quer investigar se a estrutura do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado por Damares Alves, foi utilizada para inflar atos antidemocráticos, que atacaram o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional.

Para a PF, o principal indício é a ligação do youtuber Oswaldo Eustáquio, marido da ex-secretária Sandra Terena, com os atos. Mas, como Sara Giromini também já foi funcionária da pasta, a PF também apura as conexões. Ambos já foram presos no âmbito do mesmo inquérito.

A hipótese foi levantada na investigação sobre o financiamento e a organização desses movimentos, mas pode se transformar em um inquérito específico.

A PF sugere uma análise profunda para saber se houve distribuição de dinheiro público, via contratação direta ou indireta, para pessoas que possuem vínculos com canais, páginas e perfis que incitaram os atos.

Na transição para o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), Eustáquio atuou como assessor do ministério, mas nunca exerceu cargo oficial após a posse.

Entretanto, as provas anteriormente recolhidas do envolvimento de Eustáquio com os atos —vídeos dele atacando ministro do STF, por exemplo— e a proximidade financeira com funcionárias chamaram a atenção da PF.

As investigações apontam que Sandra Terena e o marido mantinham uma relação de transferências bancárias com funcionários do ministério, o que pode ser indício de contratações suspeitas.

O caso mais emblemático é o da servidora Ariane da Paixão. De acordo com as investigações, mensagens capturadas no celular de Sandra indicam que Ariane fazia serviços domésticos na casa do casal e cuidava dos filhos.

Além disso, a PF questiona os motivos de Ariane ter feito uma transferência de R$ 5.000 e o pagamento de um imóvel associado ao casal. Em depoimento, Sandra explicou que não se lembra da primeira transação.

Em relação à segunda, ela afirma que pediu o valor de R$ 5.333,33 emprestado à funcionária do ministério. Mas, quando perguntada se era comum Ariane pagar contas em seu nome, Sandra exerceu o direito de não responder.

Além disso, houve transações bancárias entre Oswaldo Eustáquio e as servidoras Bárbara Cordeiro da Silva de Araújo e Naiany Bolognesi Hruschka Salvadori.

Eustáquio repassou um valor de R$ 4.500 para Bárbara, mas Sandra exerceu o direito de não responder o motivo. Para Naiany, foram transferidos R$ 2.610, valor que Sandra disse crer ter sido motivado pelo pagamento de alguma conta do casal ou matrícula de escola dos filhos pela funcionária.

Nos depoimentos de Eustáquio, o assunto não foi abordado, de acordo com os documentos.

Ariane, Bárbara e Naiany foram convidadas por Sandra Terena para trabalharem no ministério.

Falta de informações para aprofundar investigação

A polícia explica que não conseguiu apurar a hipótese porque não houve autorização a tempo para obter "dados sob domínio de órgão público e entidades privadas, sem que houvesse risco de manipulação/preparação das informações".

A PF também quer investigação para identificar quais funcionários do governo federal foram "responsáveis pelas ações/omissões que, de alguma forma, beneficiariam os canais indicados".

Em nota, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos reafirmou que Sandra não é mais funcionária da pasta e que "todos os membros deste ministério estão tranquilos para prestar qualquer informação que se fizer necessária para que os fatos sejam elucidados".