Topo

Esse conteúdo é antigo

Ex-secretário do AM diz que procurou Pazuello antes de crise do oxigênio

Thaís Augusto e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

15/06/2021 11h17Atualizada em 15/06/2021 14h34

O ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo afirmou hoje, em audiência da CPI da Covid, ter procurado o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, antes do colapso provocado pelo agravamento da covid-19 em Manaus, no começo do ano.

Na versão do depoente, logo no primeiro contato com o subordinado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o estado solicitou apoio logístico para levar cilindros de oxigênio de Belém (PA) à capital amazonense.

"Fiz uma ligação ao ministro Pazuello no dia 7 de janeiro por telefone explicando a necessidade de apoio logístico para trazer oxigênio de Belém a Manaus, a pedido da White Martins [fornecedora dos cilindros]. A partir daí, fizemos contato com o Comando Militar da Amazônia, por orientação do ministro, para fazer esse trabalho logístico", disse Campêlo à CPI.

"Não houve resposta, que eu saiba", emendou ele.

Outros ofícios foram encaminhados ao ministério e a Pazuello nos dias 9, 11, 12 e 13 de janeiro com pedidos de apoio logístico. Dias depois, o estado sofreria com a falta de leitos para pacientes com covid-19 e o desabastecimento de insumos básicos. Pessoas morreram nos hospitais sem acesso a oxigênio.

Segundo apuração de membros da Comissão Parlamentar de Inquérito, no Senado Federal, há evidências de que o governo federal ignorou sucessivos alertas do governo Amazonas a respeito da iminência do colapso na rede hospitalar.

Reportagem do UOL mostrou hoje que um documento do governo federal enviado à CPI da Covid, por exemplo, aponta que o Ministério da Saúde sabia da escassez de respiradores no Amazonas um mês antes do colapso.

Contato com a White Martins

Campêlo também afirmou à CPI ter recebido telefonema da empresa White Martins, fornecedora de cilindros de oxigênio, em 7 de janeiro, a fim de checar quantos leitos de UTIs e leitos clínicos seriam providenciados a partir da execução do plano de contingência estadual. Na ocasião, a empresa já demonstrava preocupação com o aumento exponencial do consumo, de acordo com o depoimento.

"Então, nós relatamos que, aproximadamente, teríamos capacidade de implantar mais 150 leitos de UTI e, aproximadamente, 250 leitos clínicos na capital de Manaus. Esse era o plano", comentou.

"Ele [representante da White Martins] anotou, pediu para que nós não ativássemos mais nenhum leito de UTI até o sinal da empresa fornecedora de que poderia ter segurança para a ampliação do fornecimento de oxigênio. E assim fizemos: demos a ordem de não ativação, de continuarmos com a ampliação dos leitos, mas ativar os leitos somente no momento em que tivéssemos a anuência da empresa com segurança."

Diante das declarações, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), questionou então se o estado havia tomado uma decisão baseada em posicionamento de uma empresa privada, em detrimento das necessidades da rede pública de saúde naquele momento.

O ex-secretário respondeu que, apesar da preocupação manifestada, o governo local continuou a abrir leitos porque a fornecedora providenciaria, em alguns dias, um lote de 52 mil metros cúbicos de oxigênio. Além disso, havia previsão de novas entregas para os dias seguintes.

"Ela [White Martins] afirmou para mim e para a nossa equipe que, a partir do sábado, dia 9 [dois dias depois do telefonema], chegaria a primeira balsa de abastecimento com 52 mil metros cúbicos de oxigênio vinda de Belém e, a partir daquela data, a cada dois dias, chegariam novas balsas, novos carregamentos de oxigênio para dar segurança ao fornecimento da rede."

Sem criticar a empresa, Campêlo observou que a programação tinha o objetivo de atender toda a estrutura de saúde dependente do fornecimento, tanto na rede pública quanto na privada. Ele não destacou se houve, portanto, uma incompatibilidade entre a demanda do estado e as entregas que haviam até então sido provisionadas pela White Martins.

"Nós, evidentemente, tínhamos acesso aos relatórios mensais de fornecimento e consumo, devido aos pagamentos que fazíamos, em relação à rede estadual; o restante era controlado pela White Martins. Então, quando ela falava que viria uma programação, era uma programação para atender a toda a rede de saúde privada e pública."

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.