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Witzel diz ter 'fato gravíssimo' a revelar, e Randolfe quer fala reservada

Hanrrikson de Andrade, Luciana Amaral e Thaís Augusto*

Do UOL, em São Paulo

16/06/2021 14h11Atualizada em 16/06/2021 20h06

O ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel disse hoje, durante depoimento na CPI da Covid, que tem um "fato gravíssimo a revelar" relacionado a possíveis intervenções do governo federal em sua administração, mas só poderia dizer em uma sessão em segredo de Justiça.

A fala ocorreu quando Witzel respondia às perguntas do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI. Ao fim do questionamento, Randolfe disse que vai requerer um depoimento reservado do ex-governador.

"Só comunicando que estou requerendo o depoimento em reservado do Witzel, acho que ele tem informações complementares que poderá prestar à CPI", disse Randolfe.

Witzel disse ter um "fato gravíssimo" a revelar quando Randolfe Rodrigues fez a seguinte pergunta:

"O senhor disse que ocorreram intervenções indevidas do governo federal no Rio, uma delas a mudança no comando da PF (Polícia Federal). Você confirma isso e lhe pergunto: além destas mudanças, ocorreu algum outro tipo de pressão direta para que ocorresse alterações na estrutura do governo dirigido por vossa excelência?", questionou Randolfe.

Witzel respondeu na sequência, dizendo que só poderia falar em segredo de justiça.

Há um fato que eu vou manter sigilo, se houver sessão em segredo de Justiça eu vou revelar. Um fato gravíssimo que vou revelar numa sessão que for em segredo da Justiça
Wilson Witzel, ex-governador do Rio de Janeiro

Na sequência, interpelado por Randolfe, Witzel confirmou que este fato envolveria intervenção no governo estadual. Mas não deu mais detalhes.

O depoimento de Wilson Witzel foi interrompido minutos mais tarde, quando o ex-governador usou o habeas-corpus quando foi questionado sobre um possível superfaturamento na compra de respiradores para o estado durante a pandemia do coronavírus.. No Twitter, Randolfe Rodrigues reafirmou que pedirá a presença do ex-governador novamente.

Em entrevista, Witzel disse que aguardará novo convite para prestar depoimento. "Agora aguardo mais um convite para que eu possa colaborar com a CPI e avançar nas investigações sobre esses fatos que estão causando todas as perseguições aos senadores que não estão alinhados com o Governo Federal", disse.

Witzel volta a falar em 'fato grave'

Na sequência, Witzel voltou a falar em fato grave ao ser questionado pelo presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), sobre a reação de Bolsonaro a um episódio relacionado à investigação do caso Marielle Franco.

Em outubro de 2019, a TV Globo divulgou a informação de que um porteiro do condomínio onde o presidente morava no Rio de Janeiro havia citado o nome de Bolsonaro no âmbito da investigação do assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes.

"Você chegou a comunicar o presidente e com isso ele ficou com raiva em relação ao processo da Polícia Civil que o porteiro citava o nome dele?", questionou Omar Aziz.

"Só posso responder se a CPI adotar o procedimento de segredo de justiça porque os fatos são graves", disse Witzel.

O relator da CPI, o senador Renan Calheiros, pediu para que a sessão reservada ocorresse ainda hoje, mas Witzel pediu que ela fosse realizada em outro dia para ele ter a oportunidade de se preparar juridicamente e "para trazer elementos".

Bolsonaro tem casa no condomínio onde mora Ronnie Lessa, um dos acusados pela morte de Marielle. À Polícia Civil fluminense, um porteiro afirmou em 2019 que alguém "com a voz" do então deputado federal teria autorizado um dos suspeitos de matar Marielle a ingressar no condomínio para uma visita. Posteriormente, laudo pericial apontou que a suposta voz não era de Bolsonaro.

O episódio marcou um agravamento na crise da relação entre Bolsonaro e Witzel, que já estava abalada. O presidente acusou na época o então governador do Rio de Janeiro de vazar as informações para a TV Globo.

*Com Fabio de Mello Castanho, do UOL, e Gabreil Toueg, colaboração para o UOL.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.