Zambelli diz que CPI tenta derrubar Bolsonaro e fala em Miranda manipulável
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse hoje que a CPI da Covid, que investiga ações e omissões do governo federal na pandemia, "nasceu" para derrubar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e declarou que o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) pode "estar sendo manipulado".
Com certeza vão tentar derrubar o presidente nessa CPI. Essa CPI já nasceu para isso. (...) O relatório da CPI está construído desde o começo, não à medida que as informações acontecem. É óbvio que estão tentando achar culpado e vão colocar como sendo o presidente.
Carla Zambelli, deputada federal
Sobre o deputado Luis Miranda, que diz ter alertado Bolsonaro sobre indícios de irregularidade nas negociações do Ministério da Saúde para a compra da vacina indiana Covaxin, Zambelli disse que, "por ser muito emotivo e sensível, [ele] pode ser manipulado por pessoas inescrupulosas como Renan Calheiros e [o presidente da CPI] Omar Aziz (PSD-AM)". O deputado será ouvido como testemunha da CPI da Covid na sexta-feira (25).
"Eu gosto dele [Miranda] como pessoa. É um ser humano que age com emoção, que fala com o coração e o fígado e nem sempre com a cabeça", afirmou ela no UOL Entrevista, conduzido pelo apresentador Diego Sarza e pelo colunista Tales Faria. "Não vejo ele como uma pessoa do mal, as intenções dele não são más ou de derrubar o governo", declarou a deputada. "Acho que ele pode estar sendo manipulado, pode estar sendo ingênuo. Acho que não tem ideia do tamanho das coisas que tem dito."
Zambelli disse ainda que o relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), é uma pessoa "inconsequente, capaz de tudo".
"Renan Calheiros é conhecido como coronel, uma pessoa capaz de tudo. Renan Calheiros é uma pessoa inconsequente", disse ela. "Nessa CPI é possível que aconteça tudo. É possível que até tentem prender você se você falar mal do Renan Calheiros, a mim por ter estado lá como deputada federal", criticou.
Caso Covaxin
Reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo na última sexta-feira (18) mostrou que, em depoimento mantido em sigilo pelo MPF (Ministério Público Federal), Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde —e irmão do deputado Miranda— disse ter recebido "pressão atípica" para tentar garantir a importação da Covaxin.
As negociações entre a fabricante do imunizante na Índia e o Ministério da Saúde foram intermediadas pela Precisa Medicamentos, que tem histórico de investigações por supostas irregularidades —entre eles, o fornecimento de testes rápidos contra a covid que seriam de qualidade inferior por um preço superfaturado.
Na entrevista, Zambelli disse acreditar que as informações "não comprometem" o governo Bolsonaro porque "nenhuma dose da Covaxin foi comprada". A deputada também disse não existir "superfaturamento de algo que não foi comprado". Segundo uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que o governo comprou a Covaxin por um preço 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante.
"Você não pode ter superfaturamento, ou corrupção, ou qualquer tipo de desvio sobre algo que não foi comprado. A única coisa que aconteceu foi a análise da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] em relação à vacina", disse Zambelli. Na avaliação da deputada, as informações que vieram à tona sobre as negociações em torno da Covaxin foram construídas "para se tentar dar mais vazão a uma CPI que já estava morrendo".
O contrato de compra de 20 milhões de doses da Covaxin foi fechado pelo Ministério da Saúde em 25 de fevereiro, mas nenhuma dose foi entregue até o momento —com o agravamento da pandemia, a Índia passou a segurar os imunizantes no país. O Ministério da Saúde ainda não pagou nenhum lote, mas reservou R$ 1,61 bilhão para a compra das doses.
À Folha, a procuradora da República Luciana Loureiro, responsável pelo inquérito civil que investigou o contrato entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos, afirmou que o fato de o governo ter reservado R$ 1,61 bilhão para uma vacina sem perspectiva de entrega, com quebras de cláusulas contratuais, já representa um prejuízo para a saúde pública.
'Teoria da conspiração'
Na entrevista, Zambelli ainda disse ser "óbvio" que as investigações sobre as negociações para a compra da Covaxin façam parte de uma "teoria da conspiração" orquestrada com o objetivo de derrubar o presidente Jair Bolsonaro.
"Por qual motivo [a vacina] não foi comprada? Não sei. Por qual motivo não chegou e não foi comprada? Não sei. Mas há, sim, uma teoria da conspiração. Há, sim, uma tentativa de transferir tudo o que está acontecendo, esse circo todo, em uma teoria para derrubar o presidente Bolsonaro", afirmou.
Investigação de deputado
Após as declarações dos irmãos Miranda sobre as supostas irregularidades no contrato de compra da Covaxin, Bolsonaro ordenou que a PF (Polícia Federal) investigue os próprios denunciantes. O pedido de investigação do deputado e do seu irmão foram anunciados ontem pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni.
Zambelli disse não ver problemas na atitude de Bolsonaro. "A CPI está investigando o presidente, até o ministro da Saúde é investigado pela CPI. Está tendo devassa de todos os lados", declarou.
A deputada afirmou ainda que a investigação de denunciantes "é [parte] do processo democrático". "Qualquer investigação é válida. O que não se pode fazer, por exemplo, é um pré-juízo, como foi feito no caso [do deputado] Daniel Silveira", afirmou, citando a prisão do parlamentar. Silveira, no entanto, foi preso após a publicação de um vídeo que continha ameaças a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), além da defesa de medidas antidemocráticas, como a adoção do AI-5 (Ato Institucional número 5).
Ao determinar a prisão de Silveira, o ministro do STF Alexandre de Moraes afirmou que as manifestações do deputado constituem ameaça ilegal à segurança dos ministros da Corte, ferindo, portanto, a Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/73).
Comportamento de Bolsonaro
Zambelli, que estava ao lado de Bolsonaro quando o presidente se irritou com uma repórter e mandou que ela calasse a boca, disse não concordar com essa atitude específica dele. A deputada, no entanto, disse que Bolsonaro tem esse "tipo" de personalidade e que o presidente vem passando por muito "estresse".
"Eu não concordo [com a atitude] do presidente ter, por exemplo, dito cala a boca [à repórter]. Não precisava ter chegado a esse nível. [Mas] Eu entendo o presidente, o nível de estresse que ele passa. Quando votamos no presidente, já sabíamos que ele tinha esse tipo de personalidade. A gente não esperava que de uma hora para outra ele mudasse", afirmou.
Questionada sobre o fato de Bolsonaro constantemente não usar máscara e se isso não seria um mau exemplo para a população brasileira, Zambelli fez um paralelo com o Papa Francisco.
"A gente vive de exemplos, e o Papa Francisco vai todos os dias na Praça São Pedro sem máscara. Ninguém critica o Papa Francisco, mas criticam o Bolsonaro. Eu acho que o Papa poderia usar máscara, sim, e prefere não usar. Não vou criticar o Papa por isso", disse a deputada.
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