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Governo do AM negava gravidade da covid, diz deputado na CPI da Covid

Rayanne Albuquerque, Hanrrikson de Andrade e Gabriel Toueg

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo e em Brasília

29/06/2021 10h39Atualizada em 29/06/2021 14h06

O deputado estadual do Amazonas Fausto Junior (MDB) declarou hoje, em depoimento à CPI da Covid, considerar que o governo local negava, no começo do ano, a gravidade do avanço da pandemia na região.

O Amazonas sofreu graves consequências nos primeiros meses de 2021 devido ao agravamento da covid-19 no país. A rede de saúde entrou em colapso e pessoas morreram nas filas de hospitais e unidades de saúde, sem acesso a oxigênio.

Ao ser questionado pelo relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), a respeito da revogação de um decreto que aplicava medidas de restrição para evitar o avanço do número de casos do coronavírus, o depoente respondeu que o Legislativo não foi consultado.

O Legislativo não foi consultado. Essa foi uma decisão estritamente do governo do estado. É importante frisar que havia uma negação da urgência dos casos da pandemia naquele momento e o povo foi pego de surpresa. Isso que motivou a irritação das pessoas
Fausto Junior

O parlamentar estadual comparece à comissão do Senado na condição de testemunha. Junior atuou como relator da CPI da Saúde, realizada pela (Assembleia Legislativa do Amazonas) em 2020 para investigar indícios de corrupção durante a pandemia.

Eu tenho convicção de que o governador [Wilson Lima] tinha conhecimento de tudo. Eu tenho essa convicção, mas eu preciso provar no meu relatório, a CPI [do Amazonas] precisa provar em seu relatório. Mas para provar isso, são necessários instrumentos que só a PF tinha, como interceptação telefônica
Fausto Junior

O requerimento que convocou Fausto Junior a depor na CPI da Covid é de autoria do senador Marcos Rogério (DEM-RO) — que faz parte da base governista —, e foi aprovado no dia 16 de junho.

Segundo o pedido de convocação do deputado amazonense, a comissão instalada na Assembleia Legislativa teria provas e elementos relevantes que mostram que autoridades, servidores e representantes de empresas privadas desviaram, de forma conjunta, dinheiro público e praticaram atos de corrupção.

Troca de farpas com Aziz

Fausto Junior trocou farpas com o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), que já governo o Amazonas, em razão de questionamentos sobre o escopo de apuração da comissão instalada pela Assembleia Legislativa.

De acordo com o depoente, caso o atual governador, Wilson Lima (PSC), fosse investigado pela CPI local, Aziz também deveria ser. A provocação deixou o senador visivelmente irritado.

Aziz: Quem faz o processo indenizatório não é o governador do estado, são as secretarias.

Fausto: Foi por isso que Vossa Excelência não foi indiciado.

Aziz: Não fui porque não tenho culpa, primeiramente.

Fausto: Nem o governador Wilson Lima

Escândalo dos ventiladores pulmonares

O foco da CPI da Covid instalada no Amazonas teve como objetivo investigar o chamado escândalo dos ventiladores pulmonares.

O UOL mostrou que o governo do estado pagou R$ 2,9 milhões para uma loja de vinhos na compra de 28 ventiladores pulmonares para tratar pacientes diagnosticados com o coronavírus.

O valor unitário dos equipamentos essenciais para manter diagnosticados com covid respirando equivalia a até quatro vezes o preço do aparelho visto em lojas no Brasil e no exterior.

Os equipamentos também foram considerados "inadequados" para pacientes de covid-19, segundo o Cremam (Conselho Regional de Medicina do Amazonas).

* Com Gabriel Toueg, colaboração para o UOL em São Paulo

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.