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Wizard apresenta seu livro na CPI e é repreendido por senadores

Fábio Castanho e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

30/06/2021 12h25Atualizada em 30/06/2021 14h23

Depois de avisar que ficaria em silêncio durante o depoimento na CPI da Covid, o empresário Carlos Wizard tentou apresentar o seu livro durante um questionamento e foi repreendido por senadores presentes na sessão.

"Não vai vender livro aqui não", disse o presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM).

Wizard apresentou seu livro, chamado "Meu maior empreendimento", depois de ser questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) sobre sua religião.

"No início da fala você fez várias referências bíblicas. Leu passagens bíblicas muito bonitas, palavras de Jesus Cristo para a humanidade. Pergunto ao senhor, acho que não vai atrapalhar sua decisão [de ficar em silêncio], qual a sua religião?", questionou Eliziane.

Wizard disse que permaneceria em silêncio, mas Eliziane insistiu, questionando se ele não poderia ao menos dizer qual era a sua religião.

O empresário pegou o livro, apontou para a câmera da transmissão e disse: "Eu gostaria de sugerir a todos que tenham interesse que conheçam um pouco mais da obra humanitária que fiz em Roraima".

Neste momento, Omar Aziz interrompeu e disse: "não vai vender livro aqui não".

Outros senadores também repudiaram a atitude de Wizard, entre eles Rogério Carvalho (PT-SE), que levantou-se da cadeira após criticar o empresário.

"Se ele não se dispõe a falar, não tem direito a fazer proselitismo, autopromoção, porque isso é um escárnio, desrespeito a esta comissão", disse Carvalho.

No início da sessão, Wizard fez um discurso inicial no qual citou passagens bíblicas e negou ter participado do chamado 'gabinete paralelo' para aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia do novo coronavírus.

Na sequência, ele avisou que não responderia às questões dos senadores. Mesmo assim, a sessão teve continuidade, com o empresário repetindo a cada pergunta que ficaria em silêncio.

Wizard e o gabinete paralelo

Wizard presta depoimento na condição de investigado por sua possível participação no "gabinete paralelo", que até o momento é prioridade entre as linhas de investigação em curso na comissão. Na avaliação da cúpula da CPI, esse grupo, sem vínculo formal com o Ministério da Saúde, influenciou a tomada de decisões do Palácio do Planalto na condução da pandemia, como incentivo à cloroquina e a defesa da tese de imunização de rebanho —na contramão do que dizem estudos científicos e autoridades da saúde.

Inicialmente, o depoimento de Wizard foi agendado para o dia 17 de junho, mas ele afirmou que estava nos Estados Unidos e não compareceu.

Em razão da ausência, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), solicitou a retenção do passaporte do empresário bilionário. Wizard entregou o documento à Polícia Federal ao chegar ao Brasil e nos últimos dias vinha mantendo conversas reservadas com os parlamentares para acertar a data da audiência.

Como é Wizard obrigado a prestar depoimento, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luis Roberto Barroso chegou a autorizar, a pedido da CPI, a condução coercitiva do empresário. A decisão, no entanto, foi revogada.

Wizard se justificou e afirmou que estava desde março em Utah (EUA) visitando o pai, com problemas de saúde. Depois, dirigiu-se à Flórida, para acompanhar a filha grávida.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.