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CPI: Wizard cita Bíblia, nega gabinete paralelo e decide ficar em silêncio

Hanrrikson de Andrade e Fábio Castanho

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

30/06/2021 11h29Atualizada em 30/06/2021 12h14

O empresário Carlos Wizard negou, em depoimento à CPI da Covid, ter participado ou ter tomado conhecimento da existência do chamado "gabinete paralelo" de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia.

A declaração ocorreu na abertura da audiência, quando a testemunha convocada tem direito a falar por 15 minutos. Ao fim do breve discurso, ele comunicou aos senadores que ficaria em silêncio diante das perguntas formuladas.

Além de rejeitar a tese do gabinete paralelo, Wizard relatou as circunstâncias nas quais conheceu o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello —durante a Operação Acolhida, que prestou assistência social a refugiados venezuelanos em Roraima— e citou várias passagens bíblicas.

O empresário usou pano de fundo religioso para justificar a sua colaboração com o Ministério da Saúde. Alegou ter sido convidado por Pazuello a "salvar vidas" e que, motivado pela fé e pelo compromisso social, teria aceitado desde que a sua atuação fosse voluntária e sem fins de lucratividade.

"A minha disposição de servir o país combatendo a pandemia e salvar vidas faz com que seja acusado de pertencer a um suposto gabinete paralelo. Afirmo aos senhores, com toda a veemência, que jamais tomei conhecimento de qualquer governo paralelo."

"Se porventura esse suposto gabinete paralelo existiu, eu jamais tomei conhecimento e tenho qualquer informação a esse respeito. Jamais fui convidado, abordado, convocado para participar de qualquer gabinete paralelo. E essa é a mais pura expressão da verdade."

Wizard também negou que tenha participado de "sessões em privado" ou reuniões particulares com o presidente Bolsonaro. Na versão do depoente, eles só tiveram juntos em eventos públicos.

"Jamais em tempo algum, nunca participei de uma única sessão em privado, Nem uma reunião em privado, nem um momento particular com o presidente da República. Participei, sim, de eventos públicos onde ele estava presente. Então, fica evidente que jamais tive qualquer influência, seja no pensamento do presidente ou de qualquer outro suposto gabinete paralelo."

O "gabinete paralelo" é, até o momento, prioridade entre as linhas de investigação em curso na comissão. Na avaliação da cúpula da CPI, esse grupo, sem vínculo formal com o Ministério da Saúde, influenciou a tomada de decisões do Palácio do Planalto na condução da pandemia, como incentivo à cloroquina e a defesa da tese de imunização de rebanho —na contramão do que dizem estudos científicos e autoridades da saúde.

Inicialmente, o depoimento de Wizard foi agendado para o dia 17 de junho, mas ele afirmou que estava nos Estados Unidos e não compareceu.

Em razão da ausência, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), solicitou a retenção do passaporte do empresário bilionário. Wizard entregou o documento à Polícia Federal ao chegar ao Brasil e nos últimos dias vinha mantendo conversas reservadas com os parlamentares para acertar a data da audiência.

Como é Wizard obrigado a prestar depoimento, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luis Roberto Barroso chegou a autorizar, a pedido da CPI, a condução coercitiva do empresário. A decisão, no entanto, foi revogada.

Wizard se justificou e afirmou que estava desde março em Utah (EUA) visitando o pai, com problemas de saúde. Depois, dirigiu-se à Flórida, para acompanhar a filha grávida.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.