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'Pensa direitinho': vendedor relata à CPI conselho após pedido de propina

Hanrrikson de Andrade e Fábio Castanho

Do UOL, em Brasília

01/07/2021 11h52

O lobista Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, afirmou hoje, em depoimento à CPI da Covid, ter sido aconselhado a "pensar direitinho" depois de receber suposto pedido de propina para acertar a venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca ao governo.

O ato ilícito teria partido, segundo o representante comercial, do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias Ferreira. O caso foi revelado em reportagem da Folha de S.Paulo.

Pereira declarou à CPI que, logo após a suposta menção a pagamento de propina, Dias Ferreira pediu que o lobista refletisse sobre o assunto e formulasse uma nova proposta contratual. A conversa ocorreu em um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, região central da capital federal, em 25 de fevereiro.

"Pensa direitinho que amanhã eu vou te chamar no ministério para uma nova proposta", disse o depoente, em referência ao que teria ouvido no dia do jantar.

A oferta e o suposto crime

Dominguetti afirmou á Folha de S.Paulo que o servidor do Ministério da Saúde sugeriu pagamento de propina de US$ 1 por dose vendida ao governo para que o contrato fosse assinado.

A proposta original que o vendedor levou ao governo federal foi de US$ 3,50 por dose.

Para efetivar o desvio financeiro a fim de custear vantagens ilícitas a terceiros, Dominguetti teria que recompor a oferta para, no mínimo, US$ 4,50 por dose.

A Davati atuaria como uma intermediadora: compraria a vacina no exterior e revenderia ao Ministério da Saúde. À CPI, o depoente afirmou que a empresa brasileira estaria em contato com "locadores de mercado" e que tal acesso seria capaz de viabilizar o fornecimento de 400 milhões de doses.

O negócio não foi concretizado posteriormente. Pereira e a Dalvati teriam recusado a oferta de vantagem financeira a membros do governo.

O lobista explicou aos senadores da comissão que os preços de imunizantes são definidos pelas fabricantes e pelo mercado internacional, o que inviabilizaria alterar os valores originalmente ofertados a fim de abranger qualquer outro tipo de margem.