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Davati diz que não tem ligação com AstraZeneca e que só tem 1 representante

Dominghetti não teria poder "para negociar ou alterar a oferta em nome da empresa", diz Davati - 1º.jul.2021 - Pedro França/Agência Senado
Dominghetti não teria poder "para negociar ou alterar a oferta em nome da empresa", diz Davati Imagem: 1º.jul.2021 - Pedro França/Agência Senado

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

05/07/2021 11h30Atualizada em 05/07/2021 14h02

Um dos alvos de uma denúncia relativa a um suposto esquema de sobrepreço na compra de vacinas pelo governo federal, a Davati Medical Supply negou que o policial militar Luiz Paulo Dominghetti tivesse poder "para negociar ou alterar a oferta em nome da empresa".

Em nota, a Davati diz que possuía apenas um representante credenciado no Brasil, Cristiano Carvalho. A empresa ainda indicou "que não é representante do laboratório AstraZeneca e jamais se apresentou como tal".

A Davati Medical Supply está envolvida na acusação feita, na semana passada, por Dominghetti de que Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, teria solicitado US$ 1 por dose negociada pela empresa —Dias negou ter pedido propina. Na ocasião, a Davati tentava intermediar a compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, em fevereiro deste ano.

Em comunicado, a empresa diz que "nunca tomou conhecimento da alegação de pedido de propina por parte do governo".

"A Davati jamais participou de qualquer negociação ilícita", diz Herman Cardenas, CEO da Davati Medical Supply, na nota. A empresa diz que, caso tivesse conhecimento de pedido de propina, "jamais anuiria com qualquer prática indevida".

"Facilitadora"

A Davati afirma que "atuava como uma facilitadora" e que "não detinha a posse das vacinas, atuando na aproximação entre o governo federal e um allocation holder, empresa que possuía créditos de vacinas junto ao laboratório AstraZeneca, atestada por uma carta do alocador".

A empresa diz que havia passado ao Ministério da Saúde "todas as informações, passo a passo, sobre como se daria a intermediação e entrega das vacinas em questão".

A AstraZeneca já havia negado ligação com a Davati. Segundo o laboratório, "neste momento, todas as doses da vacina estão disponíveis sob acordos assinados com governos e organizações multilaterais em todo o mundo, incluindo a Covax Facility".

"Atualmente a AstraZeneca não disponibiliza a vacina por meio do mercado privado ou trabalha com qualquer intermediário no Brasil. Todos os convênios são realizados diretamente via Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e Governo Federal", diz nota do laboratório. A Fiocruz produz a vacina da AstraZeneca no Brasil.

Alteração de oferta

A empresa diz que "em nenhum momento a Davati alterou a oferta, com relação a valor ou formato da negociação". E-mails obtidos pelo UOL, porém, mostram que houve, sim, mudança na oferta. Em março, a proposta havia passado para 300 milhões de doses. E o representante no Brasil também era outro: o advogado Julio Caron.

A Davati, porém, dá a versão de que "o único representante credenciado da Davati Medical no Brasil para facilitar a oferta de vacinas contra a covid" era Cristiano Carvalho —que deverá ser ouvido pela CPI da Covid, que já recebeu Dominghetti.

Ao UOL, hoje, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM) disse que Carvalho pode ser ouvido na sexta-feira (9).

Segundo a empresa, Carvalho "detinha poderes limitados" e "esteve no Ministério da Saúde para tratar sobre a possível negociação de fornecimento de doses da vacina detidas por allocation holder do laboratório AstraZeneca". "As tratativas não evoluíram, visto que a empresa não recebeu retorno do governo brasileiro com formalização do interesse".

Sobre Caron, a Davati diz que o advogado "se ofereceu para atuar como representante da empresa no Brasil, mas a Davati Medical retornou que já possuía representantes no país".

*Com Carlos Madeiro, colaboração para o UOL, em Maceió