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Saúde propôs reunião em 4 h para discutir oferta com suspeita de propina

Suspeita de propina em contrato da AstraZeneca aconteceu durante gestão do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde - Evaristo Sá/AFP
Suspeita de propina em contrato da AstraZeneca aconteceu durante gestão do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde Imagem: Evaristo Sá/AFP

Do UOL, em São Paulo

30/06/2021 11h44Atualizada em 30/06/2021 12h24

Um dia após pedido de propina de US$ 1 por dose da AstraZeneca, o departamento de Logística do Ministério da Saúde propôs nova reunião com representante da Davati Medical Supply, empresa que negociava 400 milhões de unidades da vacina com o governo brasileiro. Na mensagem, a Saúde pedia que o encontro acontecesse dali 4 horas.

A pressa em fechar o acordo destoa da atitude do governo Jair Bolsonaro (sem partido) em toda a pandemia. Em dezembro do ano passado, o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, chegou a criticar, rotulando como "angústia" e "ansiedade", a cobrança para que o Executivo comprasse vacinas, deixando de lado disputas políticas.

Ao mesmo tempo, o presidente Bolsonaro defendia o tratamento precoce, sem eficácia comprovada contra a covid-19, e atrasava a compra de vacinas. Em outubro, ele declarou que o governo não compraria a "vacina chinesa de João Doria" em referência a CoronaVac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan.

Print mostra que Ministério da Saúde tentou marcar reunião às pressas com a Davati Medical Supply - Reprodução/Folha de S.Paulo - Reprodução/Folha de S.Paulo
Print obtido pela Folha mostra que Saúde tentou marcar reunião às pressas com empresa Davati Medical Supply
Imagem: Reprodução/Folha de S.Paulo

O governo Bolsonaro também ignorou 81 emails da Pfizer para negociar a vacina, segundo o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Em maio, durante depoimento na CPI, o ex-secretário de comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, afirmou que a Pfizer queria fazer do Brasil uma vitrine de vacinação na América Latina.

A CPI da Covid investiga ações e omissões do governo Bolsonaro durante a pandemia, e começará a apurar denúncias de irregularidades na compra de vacinas, como a Covaxin.

Encontro às pressas

Segundo emails obtidos pela Folha de S.Paulo, o departamento da Saúde enviou mensagem às 10h50 do dia 26 de fevereiro para agendar um encontro naquele mesmo dia, às 15h, com representante da Davati. No email, é reforçado que o "ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos".

Na noite anterior, segundo a Folha, o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina do representante da Davati, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, em jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping,

Em entrevista à Folha, Dominguetti deu detalhes da reunião do dia 26 de fevereiro. "Ele [Dias] me disse: 'Fica numa sala ali'. E me colocou numa sala do lado ali. Ele me falou que tinha uma reunião. Disso, eu recebi uma ligação perguntando se ia ter o acerto. Aí eu falei que não, que não tinha como".

"Isso, dentro do ministério. Aí me chamaram, disseram que ia entrar em contato com a Davati para tentar fazer a vacina e depois nunca mais. Aí depois nós tentamos por outras vias, tentamos conversar com o Élcio Franco, explicamos para ele a situação também, não adiantou nada. Ninguém queria vacina".

Roberto Dias, diretor do Ministério da Saúde que cobrou a propina, segundo Dominguetti, foi indicado ao cargo pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara. Barros nega a indicação.