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Ex-chefe do PNI deixou cargo por politização da vacinação contra a covid-19

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

08/07/2021 14h36Atualizada em 08/07/2021 16h24

A ex-coordenadora do PNI (Plano Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde Francieli Fontana Fantinato disse hoje à CPI da Covid que deixou o cargo após enxergar uma politização em torno da vacinação contra o novo coronavírus.

"Deixei o cargo por questões pessoais. Eu estou desde 2019 na Coordenação do Programa Nacional de Imunizações e venho trabalhando incansavelmente. E, pelos últimos acontecimentos da politização do assunto em relação à vacinação, eu decidi seguir os meus planos pessoais", afirmou.

Francieli reforçou que a vacinação é uma das principais linhas de ação para proteger a população contra o novo coronavírus ao lado do distanciamento social e do uso de máscaras, e criticou questionamentos à eficácia dos imunizantes.

"Quando começa a se tratar o tema, em relação à vacinação, onde se coloca em dúvida essa prática, tendo o aval da Anvisa, tendo o aval em relação aos estudos, isso pode trazer prejuízos para a campanha de vacinação. [...] Essa politização do assunto trouxe até para mim uma condição de investigada, sem mesmo ter sido ouvida. Então, isso demonstra a politização do assunto", afirmou.

Em relação à politização da vacina, a gente sabe que tem evidências científicas, a gente sabe que as vacinas trazem bastante benefício e a gente espera que todas as pessoas falem em prol da vacinação."
Francieli Fantinato, ex-coordenadora do PNI

A ex-coordenadora do PNI evitou fazer uma crítica direta e contundente ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), quando questionada a respeito da politização da vacinação no país. Mas respondeu, ressaltando que se tratava de uma opinião pessoal, que as falas do "líder da nação" atrapalharam a execução da estratégia nacional de imunização.

Para Francieli, "qualquer pessoa que fale contra a vacinação traz dúvidas para a população brasileira". Nesse sentido, ela voltou a criticar a ausência de uma "comunicação única" e "uniforme". E ressaltou que diversas vezes gostaria de ter ido à imprensa para abordar o tema, mas que isso não foi possível.

"A falta de comunicação pode ter trazido algum prejuízo para a campanha de vacinação", resumiu.

Ela ainda afirmou que o processo de vacinação contra a covid-19 no país teve dois problemas principais: número insuficiente de doses e falta de comunicação publicitária efetiva e uniforme.

"Faltou para o PNI, sob a minha coordenação, quantitativo suficiente para a execução rápida de uma campanha, e campanhas publicitárias para a segurança dos gestores, profissionais de saúde e população brasileira", disse aos senadores.

"Bem, senhoras e senhores, para um programa de vacinação ter sucesso, é simples: é necessário ter vacinas, é necessário ter campanha publicitária efetiva. E, infelizmente, eu não tive nenhum dos dois", também declarou.

A enfermeira ressaltou que sua indicação para chefiar o PNI não foi política, e sim técnica.

"O que mais me orgulha é ser servidora pública, efetivada por concurso público. Por que? Porque é um trabalho nobre, muitas vezes de pouco reconhecimento e, nesse último ano, de nenhum reconhecimento, mas que salva muitas vidas", afirmou.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.