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Heinze diz que prisão de Dias foi abuso e defende acareação com Dominghetti

Do UOL, em São Paulo

08/07/2021 08h29Atualizada em 08/07/2021 10h43

O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), disse hoje, em participação no UOL News, que considerou abusiva decisão do presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), de mandar prender o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, sob a acusação de mentir à comissão.

O senador defende que seja realizada uma acareação entre Dias e Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que se apresenta como representante da Davati Medical Supply e acusa o ex-diretor da Saúde de pedir propina de US$ 1 por dose em uma negociação por 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

"O que eu vi foi um abuso por parte do senador Omar Aziz na prisão do Roberto. Nós não fomos contra ele ser ouvido, Dominghetti foi ouvido, outro funcionário foi ouvido? Se tem algum indício, tem que ser ouvido, não estamos apadrinhando ninguém", disse.

"Queríamos ali uma acareação, nossa proposta era de acareação de Dominghetti com Roberto Dias juntos, para fazer as explicações. Estas pessoas tinham que estar juntos para esclarecer as questões. As coisas não fecham, frente a frente teríamos condições de fazer uma avaliação melhor", completou.

Roberto Ferreira Dias pagou a fiança de R$ 1.100 e foi liberado cerca de cinco horas depois de receber a ordem de prisão.

Heinze disse ainda ainda mantém dúvidas sobre o relato de Dominghetti, principalmente em relação ao número de vacinas da AstraZeneca ofertadas. "Quem ia comprar 400 milhões? Difícil que as coisas fechem, esses números não batem. Todos os contratos que o Ministério da Saúde fez com Butantan, Fiocruz dão mais de 600 milhões de doses de vacinas. Por que mais 400 milhões?", questionou.

Prisão ocorreu após divulgação de áudios

Áudios e mensagens encontrados no celular do cabo da Polícia Militar de MG e suposto representante da Davati Medical Supply Luiz Paulo Dominghetti Pereira desmentiram a versão dada hoje à CPI da Covid por Roberto Ferreira Dias. Segundo Dias, o encontro em que um pedido de propina teria ocorrido foi acidental. O celular de Dominghetti está em poder da comissão e foi periciado.

O conteúdo dos áudios foi revelado pela jornalista da CNN Brasil Daniela Lima enquanto ocorria a sessão da comissão no Senado. Momentos depois, as mensagens foram exibidas na CPI. O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), já havia dado ordem de prisão a Dias, sob a acusação de ele mentir à comissão, e senadores tentavam fazê-lo mudar de ideia.

Encontro "incidental"

À CPI, o ex-diretor da Saúde havia dito que o encontro com Dominghetti ocorrera "incidentalmente" em um restaurante dentro de um shopping em Brasília. No entanto, um dos áudios, enviado por Dominghetti em 23 de fevereiro —portanto, dois dias antes do encontro— mostra que ele já mencionada a "reunião", que aconteceria em 25 de fevereiro, uma quinta-feira, a um interlocutor, chamado apenas de "Rafael".

Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o [Roberto] Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias... e a gente já se falou. E quinta-feira [25 de fevereiro] a gente tem uma reunião para finalizar com o ministério.
Luiz Paulo Dominghetti Pereira, em áudio registrado no celular periciado pela CPI

Dominghetti havia relatado à Folha de S.Paulo um esquema de corrupção na compra de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca. Segundo o relato dele, Dias teria cobrado propina de US$ 1 por dose de vacina em 25 de fevereiro, um dia depois de o Brasil bater a marca de 250 mil óbitos pela covid-19.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.