Não dá para fazer campanha sem vacina nem comunicação, diz ex-chefe do PNI
A ex-coordenadora do PNI (Programa Nacional de Imunizações) Francieli Fontana Fantinato afirmou hoje, em depoimento à CPI da Covid, que o processo de vacinação no país teve dois problemas principais: número insuficiente de doses e ausência de uma comunicação publicitária efetiva e uniforme.
"Sob a minha coordenação, faltou ao PNI um quantitativo suficiente para execução rápida da campanha. Portanto, estando sob qualquer coordenação, não se consegue fazer campanha exitosa sem vacinas e sem comunicação. Sem uma campanha publicitária efetiva."
"Mesmo assim me esforcei ao máximo para manter a comunicação alinhada com os estados", completou ela, que comparece hoje ao colegiado como investigada. Nessa condição, ela poderia optar por ficar em silêncio, mas decidiu responder aos questionamentos dos parlamentares.
A profissional estava à frente das políticas de vacinação do país desde outubro de 2019 e pediu demissão do cargo na semana passada.
Indagada pela CPI sobre o motivo de sua saída, ela negou que a decisão tenha sido tomada por conta da pressão gerada pela Comissão Parlamentar de Inquérito. A enfermeira alegou razões pessoais e também culpou a "politização" em relação ao tema das vacinas.
"A politização chegou em um limite que eu decidi caminhar com as minhas questões pessoais."
"Essa politização do assunto trouxe para mim uma condição de investigada sem ter sido ouvida, sem que eu tivesse oportunidade nem de falar", emendou a depoente.
Francieli destacou que sua indicação para chefiar o PNI não foi política, e sim técnica. "O que mais me orgulha é ser servidora pública, efetivada por concurso público. Por quê? Porque é um trabalho nobre, muitas vezes de pouco reconhecimento e, nesse último ano, de nenhum reconhecimento, mas que salva muitas vidas", afirmou.
"Ressalto que fui uma indicação técnica da minha antecessora, não uma indicação política".
"Trabalhei incansavelmente, 24 h por dia, para vacinar a população brasileira. Para um programa de vacinação ter sucesso é simples: é necessário vacinas e uma campanha publicitária efetiva. Infelizmente não tive nenhum dos dois."
Durante a oitiva, a ex-chefe do PNI deverá ser cobrada ainda a esclarecer questões referentes aos critérios de aplicação de vacinas a gestantes.
De acordo com o requerimento de convocação, apresentado por Otto Alencar (PSD-BA), Francieli editou nota técnica que recomendava aos estados a imunização de grávidas que tinham recebido a primeira dose da Oxford/Astrazeneca com qualquer vacina que estivesse disponível, "sem nenhuma comprovação de segurança ou eficiência disso em gestantes".
Parte dos senadores da CPI quer entender se houve negligência à época.
Isso porque o assunto tem sido objeto de discussão no país desde que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) propôs, em maio deste ano, a suspensão do uso da vacina Oxford/AstraZeneca em mulheres grávidas. A decisão ocorreu após a morte de uma gestante que recebeu o imunizante.
Na ocasião, a Anvisa considerou que se tratava de um "evento adverso", e não um "efeito adverso". A agência também explicou que o uso do imunizante em gestantes não é recomendado em bula.
"O uso off label de vacinas, ou seja, em situações não previstas na bula, só deve ser feito mediante avaliação individual por um profissional de saúde que considere os riscos e benefícios da vacina para a paciente. A bula atual da vacina contra covid da AstraZeneca não recomenda o uso da vacina sem orientação médica", diz trecho de nota publicada pela Anvisa.
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